12/12/2017

O Velho Logan: Zonas de guerra

(Des)continuidade





Raramente uma sequela foi tão díspar da obra que lhe deu origem, como acontece neste caso, apesar de se manterem o protagonista, os cenários e as premissas da obra original.
E, paradoxalmente, por razões diversas, o interesse e a capacidade de motivar o leitor de ambas as propostas.
O protagonista, é Logan. Um Logan envelhecido – com a morte esperada suspensa por um factor de cura cada vez menos eficaz - atormentado pelo pesadelo de ter matado todos os outros X-Men.
Os cenários, revelam uma América destruída, decadente, a meio caminho entre a civilização e a selvajaria, após um conflito entre super-heróis, regressada a um passado quase sem tecnologia e dividida em feudos isolados governados pelo Dr. Destino, Hulk e outros mais.
Tudo similar à obra original de Millar e Níven. Nesta, o protagonista, os cenários e os quesitos argumentais serviam a construção de um épico de aventuras brutal, assertivo e hiperviolento, que era uma delícia (escabrosa) para os sentidos pelo hiper-realismo do traço.
Agora, em O Velho Logan, de concreto pouco há e a narrativa, espoletada por uma descoberta feita por Logan, que o leva a deixar a sua casa e a sua família – ou o seu arremedo disso – conduz-nos de domínio para domínio – de inferno em inferno, de pesadelo em pesadelo - de forma indefinida, numa (des) continuidade narrativa – em relação ao modelo original e a si própria - em que as perguntas e as dúvidas são sempre menos do que as respostas e as certezas. Apesar disso, Bendis consegue manter o leito preso, suspenso da sequência, faminto por revelações que raramente surgem.
Para a consistência – será que posso escrever ‘enganadora’? ou ficará melhor ‘inconsistência assumida’? – da obra contribui em muito a planificação desconstrutiva de Andrea Sorrentino, que transforma muitas das páginas (duplas) em autênticos mosaicos com várias leituras sobrepostas – ou vários tipos de leitura – desvendando sempre menos do que o leitor espera, embora mais do que uma leitura superficial mostra, e revelando-se indubitavelmente a escolha acertada para as incertezas narrativas e o decadente universo em causa, com a conseguida parceria com o colorista Marcelo Maiolo.
Pode ser – a sua continuidade na revista X-Men a lançar em breve pela Goody, comprová-lo-á ou não – uma enorme promessa incumprida de um universo novo e estimulante, à margem da Marvel tradicional que (re)conhecemos, mas enquanto obra completa em si mesma – o que já sabemos que não é! – de final aberto e tantas interpretações quanto leitores, justifica plenamente a leitura.

O Velho Logan: Zonas de Guerra
Marvel Especial #2
Inclui Old Man Logan (2015) #1-5
Brian Michael Bendis (argumento)
Andrea Sorrentino (desenho)
Marcelo Maiolo (cor)
Goody
Portugal, Novembro de 2017
168 x 260 mm, 128 p., cor, capa mole, mensal
7,90 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. A melhor edicao da goody,só e pena o resto sair em X-Men e nao em especiais.

    ResponderEliminar