(Des)continuidade
Raramente uma sequela foi tão díspar da obra que lhe deu
origem, como acontece neste caso, apesar de se manterem o protagonista, os
cenários e as premissas da obra original.
E, paradoxalmente, por razões diversas, o interesse e a
capacidade de motivar o leitor de ambas as propostas.
O protagonista, é Logan. Um Logan envelhecido – com a morte
esperada suspensa por um factor de cura cada vez menos eficaz - atormentado
pelo pesadelo de ter matado todos os outros X-Men.
Os cenários, revelam uma América destruída, decadente, a
meio caminho entre a civilização e a selvajaria, após um conflito entre
super-heróis, regressada a um passado quase sem tecnologia e dividida em feudos
isolados governados pelo Dr. Destino, Hulk e outros mais.
Tudo similar à obra
original de Millar e Níven. Nesta, o protagonista, os cenários e os
quesitos argumentais serviam a construção de um épico de aventuras brutal,
assertivo e hiperviolento, que era uma delícia (escabrosa) para os sentidos
pelo hiper-realismo do traço.
Agora, em O Velho Logan,
de concreto pouco há e a narrativa, espoletada por uma descoberta feita por
Logan, que o leva a deixar a sua casa e a sua família – ou o seu arremedo disso
– conduz-nos de domínio para domínio – de inferno em inferno, de pesadelo em
pesadelo - de forma indefinida, numa (des) continuidade narrativa – em relação
ao modelo original e a si própria - em que as perguntas e as dúvidas são sempre
menos do que as respostas e as certezas. Apesar disso, Bendis consegue manter o
leito preso, suspenso da sequência, faminto por revelações que raramente
surgem.
Para a consistência – será que posso escrever ‘enganadora’?
ou ficará melhor ‘inconsistência assumida’? – da obra contribui em muito a
planificação desconstrutiva de Andrea Sorrentino, que transforma muitas das páginas (duplas) em
autênticos mosaicos com várias leituras sobrepostas – ou vários tipos de
leitura – desvendando sempre menos do que o leitor espera, embora mais do que
uma leitura superficial mostra, e revelando-se indubitavelmente a escolha
acertada para as incertezas narrativas e o decadente universo em causa, com a conseguida parceria com o colorista Marcelo Maiolo.
Pode ser – a sua continuidade na revista X-Men a lançar em
breve pela Goody, comprová-lo-á ou não – uma enorme promessa incumprida de um
universo novo e estimulante, à margem da Marvel tradicional que (re)conhecemos,
mas enquanto obra completa em si mesma – o que já sabemos que não é! – de final
aberto e tantas interpretações quanto leitores, justifica plenamente a leitura.
O Velho Logan: Zonas de Guerra
Marvel Especial #2
Inclui Old Man Logan (2015) #1-5
Brian Michael Bendis (argumento)
Andrea Sorrentino (desenho)
Marcelo Maiolo (cor)
Goody
Portugal, Novembro de 2017
168 x 260 mm, 128 p., cor, capa mole, mensal
7,90 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
A melhor edicao da goody,só e pena o resto sair em X-Men e nao em especiais.
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