Chama-se Giorgio Cavazzano, comemora este ano meio século de
carreira como desenhador Disney e foi um dos cabeças de cartaz de BD da Comic
Con Portugal 2017, oportunidade aproveitada para uma conversa descontraída e bem-disposta.
Italiano de Veneza, onde nasceu a 19 de Outubro de 1947,
começou profissionalmente “aos 14 anos(!) como assistente do grande Romano
Scarpa”. Seis anos depois, era publicada a primeira história desenhada por si, “Paperino
e il singhiozzo a martelo”, cumprindo um “sonho de criança, ser desenhador de
BD”, mas também de forma “natural e quase inevitável”, pois era “primo de
Luciano Capitanio, outro desenhador Disney”.
Se Donald, é geralmente apontado “por todos os autores como
a personagem ideal”, Cavazzano prefere “personagens difíceis de trabalhar”.
Como “Mickey, que tem pequena estatura, mas uma grande expressividade facial e
uma dinâmica muito específica, pois é um herói de aventuras”.
Acha natural a evolução dos heróis Disney, pois “que segue
as vontades dos leitores”, logo “a violência, a pobreza e outros aspectos
chocantes existentes nas bandas desenhadas originais foram banidos: a casa de
Donald, por exemplo, era terrível, com buracos, uma lata a servir de lareira…”.
Também por isso, a rivalidade entre Mickey e Bafo-de-Onça – o nome português
provoca-lhe uma grande gargalhada – evoluiu, “sendo hoje essencialmente um
fonte de gags baseados na estupidez do bandido, que é quase um alter-ego de
Mickey”.
Os 50 anos de carreira Disney foram assinalados com uma
história “muito especial”, a personificação de Corto Maltese pelo mesmo Mickey,
não “uma paródia mas sim um gesto de afecto para com o meu amigo Hugo Pratt”.
Numa carreira tão longa em que chegou a escrever as suas
próprias histórias, a certa altura sentiu a “necessidade de diversificar, de
criar coisas pessoais, de fazer incursões pela publicidade e a animação”. Entre
elas, surgiu, em 2003, “a primeira história Marvel 100 % italiana, ‘Spiderman:
Il Segreto del Vetro’, ambientada em Veneza”, que foi muito divertido mas para
a qual se sentiu na obrigação de fazer “inúmeros esquissos e desenhos preparatórios
para captar a essência e a dinâmica do super-herói”. A Marvel quis dar
continuidade à colaboração e Cavazzano propôs-se “desenhar The Punisher, mas o
projecto não avançou”.
Do seu percurso faz também parte um convite de Sergio
Bonelli “para desenhar um Tex Gigante”, recusado porque nunca foi “capaz de
desenhar cavalos!”.
A atracção pela dificuldade leva-o a afirmar que “se pudesse
escolher, gostava de desenhar uma história com o Quarteto Fantástico, pois são
vários Essa atracção pela dificuldade leva-o a afirmar que “se pudesse escolher,
gostava de desenhar uma história com o Quarteto Fantástico, pois são vários
protagonistas e todos completamente diferentes.” E acrescenta com humor: “Mas o
senhor Fantástico seria simples, bastava mostrá-lo sempre esticado e de perfil:
era só uma linha!”.
(versão integral do texto publicado no Jornal de Notícias de
17 de Dezembro de 2017; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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