08/02/2018

Pantera Negra #1 a #3

  
O poder em questão

Mais do que uma história de super-heróis - ou que apenas uma história de acção e aventura - a primeira mini-série Marvel lançada pela Goody é uma reflexão sobre a ascensão, queda, substituição e perpetuação no poder dos governantes no continente africano.

A essa opção não será estranha a escrita de Ta-Nehisi Coates, escritor e jornalista norte-americano que na sua escrita tem abordado os afro-americanos com frequência.
De alguma forma num prolongamento dessa sua postura social e política, em Pantera Negra: uma nação sobre os nosso pés, explora as questões do poder em África - com a insuspeita, porque rica e aparentemente progressista, Wakanda como cenário - para confrontar democracia e ditadura, herança política e eleição livre, revolução ou perpetuação no poder.
Como centro dessa ‘tempestade’ - desculpem, não resisti! - que vai abalar - e de que forma! - o maior fornecedor de vibranium do planeta, surge o seu soberano, T’CHalla - o Pantera Negra actual - apresentado como um homem profundamente dividido entre a responsabilidade ancestral que pesa sobre os seus ombros, a sua relação com esses mesmos antepassados, as sombras provocadas pela morte da sua irmã (de que se sente culpado), os vários canminhos (e erspectivos apoiantes ou adversários) abertos à sua frente e a vontade - comum a muitos políticos? - de deixar tudo para trás e não ser mais do que um ser humano normal que se possa ocupar da sua família, dos seus amigos - mesmo que eles sejam os Vingadores - e da pessoa que (ainda) ama, a x-women Tempestade - pois.
Para além da postura - que o próprio protagonista vai mudando, sempre de forma hesitante - Coates questiona também acções, valores, interesses, tradição e métodos - de quem está no poder, mas também de quem o ambiciona, de quem aconselha, mas também de quem o mina - construindo um relato em muitos momentos estimulante - do qual a acção nunca está ausente, apesar de o que fica atrás poder dar uma outra ideia - mas que peca pela forma fácil e (também) abrupta com que se chega a uma solução, mesmo que de compromisso - e por isso frágil.
Graficamente, o estilo realista adoptado é uma mais-valia, à vontade na exploração de uma multiplicidade de cenários - da luxuriante selva de Wakanda até espaços urbanos, passando por níveis dimensionais fantásticos - e o traço vigoroso e dinâmico faz sobressair os  momentos de acção, sublinhados pela multiplicação de vinhetas de grande formato que chegam a atingir  a dupla página e que ficam como uma das imagens de marca desta mini-série.
De que, para fecho desta análise, lamento o final aberto, com demasiadas pontas soltas, (quase) inevitável quando se trata de compilar edições em continuação da Marvel, pelo que se deseja o regresso do Pantera Negra para uma conclusão (?) numa das revistas - Os Vingadores ou Marvel Especial - em publicação pela Goody.

Pantera Negra #1 a #3
Inclui Black Panther #1 a #18 (EUA, 2016-17)
Ta-Nehisi Coates (argumento)
Brian Stelfreeze e Chris Sproose com vvaa (desenho)
Goody
Portugal, 6, 13 e 20 de Fevereiro de 2018
168 x 260 mm, 128 p., cor, capa mole
7,90 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Anónimo8/2/18 16:23

    Finalmente, alguém escreve sobre um dos lançamentos do ano mais do que boçalidades encomendadas. Pena que em Portugal ninguém saiba quem é o Ta-Nehisi Coates. Pode ser que descubram agora.

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  2. A primeira vez que dei com o Pantera negra foi no livro da coleção Salvat. Gostei e estou interessado nestes 3. Mas fiquei um bocado desiludido/irritado com essa possibilidade de continuação/fecho/conclusão num qualquer futuro numero dos vingadores. Ao menos, se houver essa "conclusão" alguém avisará disso?

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    Respostas
    1. A conclusão será nos números seguintes que já está a sair nos EUA.

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  3. Porque nos Eua Pantera Negra é um comic mensal nao mini Serie.Mini Serie é Phoenix Resurrection: The Return of Jean Grey por exemplo.

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