O poder em questão
Mais do que uma história de super-heróis - ou que apenas uma
história de acção e aventura - a primeira mini-série Marvel lançada pela Goody
é uma reflexão sobre a ascensão, queda, substituição e perpetuação no poder dos
governantes no continente africano.
A essa opção não será estranha a escrita de Ta-Nehisi
Coates, escritor e jornalista norte-americano que na sua escrita tem abordado os
afro-americanos com frequência.
De alguma forma num prolongamento dessa sua postura social e
política, em Pantera Negra: uma nação
sobre os nosso pés, explora as questões do poder em África - com a
insuspeita, porque rica e aparentemente progressista, Wakanda como cenário -
para confrontar democracia e ditadura, herança política e eleição livre,
revolução ou perpetuação no poder.
Como centro dessa ‘tempestade’ - desculpem, não resisti! -
que vai abalar - e de que forma! - o maior fornecedor de vibranium do planeta,
surge o seu soberano, T’CHalla - o Pantera Negra actual - apresentado como um
homem profundamente dividido entre a responsabilidade ancestral que pesa sobre
os seus ombros, a sua relação com esses mesmos antepassados, as sombras
provocadas pela morte da sua irmã (de que se sente culpado), os vários
canminhos (e erspectivos apoiantes ou adversários) abertos à sua frente e a vontade
- comum a muitos políticos? - de deixar tudo para trás e não ser mais do que um
ser humano normal que se possa ocupar da sua família, dos seus amigos - mesmo que
eles sejam os Vingadores - e da pessoa que (ainda) ama, a x-women Tempestade -
pois.
Para além da postura - que o próprio protagonista vai
mudando, sempre de forma hesitante - Coates questiona também acções, valores, interesses,
tradição e métodos - de quem está no poder, mas também de quem o ambiciona, de
quem aconselha, mas também de quem o mina - construindo um relato em muitos
momentos estimulante - do qual a acção nunca está ausente, apesar de o que fica
atrás poder dar uma outra ideia - mas que peca pela forma fácil e (também) abrupta
com que se chega a uma solução, mesmo que de compromisso - e por isso frágil.
Graficamente, o estilo realista adoptado é uma mais-valia, à
vontade na exploração de uma multiplicidade de cenários - da luxuriante selva de
Wakanda até espaços urbanos, passando por níveis dimensionais fantásticos - e o
traço vigoroso e dinâmico faz sobressair os
momentos de acção, sublinhados pela multiplicação de vinhetas de grande
formato que chegam a atingir a dupla
página e que ficam como uma das imagens de marca desta mini-série.
De que, para fecho desta análise, lamento o final aberto,
com demasiadas pontas soltas, (quase) inevitável quando se trata de compilar
edições em continuação da Marvel, pelo que se deseja o regresso do Pantera Negra
para uma conclusão (?) numa das revistas - Os
Vingadores ou Marvel Especial -
em publicação pela Goody.
Pantera Negra #1 a #3
Inclui Black Panther
#1 a #18 (EUA, 2016-17)
Ta-Nehisi Coates (argumento)
Brian Stelfreeze e Chris Sproose com vvaa (desenho)
Goody
Portugal, 6, 13 e 20 de Fevereiro de 2018
168 x 260 mm, 128 p., cor, capa mole
7,90 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
Finalmente, alguém escreve sobre um dos lançamentos do ano mais do que boçalidades encomendadas. Pena que em Portugal ninguém saiba quem é o Ta-Nehisi Coates. Pode ser que descubram agora.
ResponderEliminarA primeira vez que dei com o Pantera negra foi no livro da coleção Salvat. Gostei e estou interessado nestes 3. Mas fiquei um bocado desiludido/irritado com essa possibilidade de continuação/fecho/conclusão num qualquer futuro numero dos vingadores. Ao menos, se houver essa "conclusão" alguém avisará disso?
ResponderEliminarA conclusão será nos números seguintes que já está a sair nos EUA.
EliminarPorque nos Eua Pantera Negra é um comic mensal nao mini Serie.Mini Serie é Phoenix Resurrection: The Return of Jean Grey por exemplo.
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