21/03/2018

Wonderstruck - O Museu das Maravilhas


Dualidade




Por vezes há obras assim, que fogem às classificações tradicionais. Wonderstruck - O Museu das Maravilhas, chegada ontem às livrarias, à boleia do filme que estreia amanhã em Portugal, é um caso desses.
Não sendo banda desenhada nem prosa, combina inequivocamente esta última com narrativa gráfica sequencial com um resultado interessante.

Wonderstruck - O Museu das Maravilhas é a história de Ben, órfão de mãe há poucos meses e que sempre desejou conhecer o pai de quem nada sabe. Uma morada encontrada por acaso nos papéis da mãe, vai levá-lo do distante Lago Gunflint, no Minnesota, até à grande Nova Iorque e - arrastado pelo destino? - ao Wonderstruck, o museu que sempre sonhou visitar.
Mas, Wonderstruck - O Museu das Maravilhas, é igualmente a história da pequena Rose, filha de pais distantes, que sonha com uma famosa actriz. A perspectiva de a encontrar, leva-a também a Nova Iorque, onde após alguns desencontros e mal-entendidos, acaba da mesma forma no Wonderstruck. Um dos vários aspectos que une os dois protagonistas, tal como a surdez de que ambos sofrem - por razões diferentes. Com um pormenor, nada displicente: a história de Ben passa-se em 1977 e a de Rose, meio século antes…
Para além disso, a distingui-las há a forma. Para nos apresentar Ben e a sua odisseia, Brian Selznick optou por uma prosa simples, corrida, de leitura fácil e envolvente, enquanto que para a história de Rose elegeu uma narrativa gráfica sequencial, quase completamente muda, de imagens fortes em página dupla, em tons de cinza. Alternando páginas de uma e outra, com as passagens a serem feitas com momentos similares que inicialmente até podem levar o leitor a pensar que a situação é a mesma e apenas mudou o suporte narrativo, vai aproximando Ben e Rose - separados no tempo - mas unidos no espaço, até um final inesperado e surpreendente.
Se a leitura desta história de busca, afirmação e perseguição dos sonhos, constituiu para mim um momento de descoberta e surpresa, fico curioso como funcionará o filme de Todd Haynes, com argumento do próprio Selznick e protagonizado por Julianne Moore, Michelle Williams e Amy Hargreaves, dividido entre o presente, falado e colorido, e o passado, mudo e a preto e branco, já que esta dualidade narrativa é, sem dúvida, o principal trunfo da obra impressa.

Wonderstruck - O Museu das Maravilhas
Brian Selznick
ASA
Portugal, 20 de Março de 2018
243 x 53 x 163 mm, 640 p., pb, capa dura com sobrecapa
ISBN: 9789892341484
24,90 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Vendo os desenhos e o tamanho e também lendo o texto do Pedro, parece-me algo similar ao estilo de "Invenção de Hugo Cabret" (https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Invention_of_Hugo_Cabret)
    No entanto, a história própriamente dita aparenta ser bem diferente.

    Será um daqueles casos a folhear para decidir....

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    1. Esse parece ser o livro mais conhecido do Selznick (que eu nunca li).
      Boas leituras

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    2. Eu já li "A Invenção de Hugo Cabret" e adorei. Aliás, adorei tanto o livro como o filme. Mal posso esperar por ter nas mãos este Wonderstruck.

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