Dualidade
Por vezes há obras assim, que fogem às classificações
tradicionais. Wonderstruck - O Museu das
Maravilhas, chegada ontem às livrarias, à boleia do filme que estreia
amanhã em Portugal, é um caso desses.
Não sendo banda desenhada nem prosa, combina inequivocamente
esta última com narrativa gráfica sequencial com um resultado interessante.
Wonderstruck - O Museu
das Maravilhas é a história de Ben, órfão de mãe há poucos meses e que
sempre desejou conhecer o pai de quem nada sabe. Uma morada encontrada por
acaso nos papéis da mãe, vai levá-lo do distante Lago Gunflint, no Minnesota,
até à grande Nova Iorque e - arrastado pelo destino? - ao Wonderstruck, o museu
que sempre sonhou visitar.
Mas, Wonderstruck - O Museu
das Maravilhas, é igualmente a história da pequena Rose, filha de pais
distantes, que sonha com uma famosa actriz. A perspectiva de a encontrar, leva-a
também a Nova Iorque, onde após alguns desencontros e mal-entendidos, acaba da
mesma forma no Wonderstruck. Um dos vários aspectos que une os dois
protagonistas, tal como a surdez de que ambos sofrem - por razões diferentes. Com
um pormenor, nada displicente: a história de Ben passa-se em 1977 e a de Rose,
meio século antes…
Para além disso, a distingui-las há a forma. Para nos apresentar
Ben e a sua odisseia, Brian Selznick optou por uma prosa simples, corrida, de
leitura fácil e envolvente, enquanto que para a história de Rose elegeu uma
narrativa gráfica sequencial, quase completamente muda, de imagens fortes em
página dupla, em tons de cinza. Alternando páginas de uma e outra, com as passagens
a serem feitas com momentos similares que inicialmente até podem levar o leitor
a pensar que a situação é a mesma e apenas mudou o suporte narrativo, vai
aproximando Ben e Rose - separados no tempo - mas unidos no espaço, até um
final inesperado e surpreendente.
Se a leitura desta história de busca, afirmação e perseguição dos sonhos, constituiu para mim um momento de descoberta e
surpresa, fico curioso como funcionará o filme de Todd Haynes, com argumento do
próprio Selznick e protagonizado por Julianne Moore, Michelle Williams e Amy
Hargreaves, dividido entre o presente, falado e colorido, e o passado, mudo e a
preto e branco, já que esta dualidade narrativa é, sem dúvida, o principal
trunfo da obra impressa.
Wonderstruck - O Museu das Maravilhas
Brian Selznick
ASA
Portugal, 20 de Março de 2018
243 x 53 x 163 mm, 640 p., pb, capa dura com sobrecapa
ISBN: 9789892341484
24,90 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
Vendo os desenhos e o tamanho e também lendo o texto do Pedro, parece-me algo similar ao estilo de "Invenção de Hugo Cabret" (https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Invention_of_Hugo_Cabret)
ResponderEliminarNo entanto, a história própriamente dita aparenta ser bem diferente.
Será um daqueles casos a folhear para decidir....
Esse parece ser o livro mais conhecido do Selznick (que eu nunca li).
EliminarBoas leituras
Eu já li "A Invenção de Hugo Cabret" e adorei. Aliás, adorei tanto o livro como o filme. Mal posso esperar por ter nas mãos este Wonderstruck.
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