05/10/2018

David Rubin: “Beowulf é uma das obras que melhor me define”





Chama-se David Rubin, nasceu na Galiza, há quase 41 anos e esteve na recente edição da Comic Con Portugal, onde a Ala dos Livros se estreou com o lançamento de Beowulf, que serviu de mote para a pequena conversa que se segue.

As Leituras do Pedro: Como nasceu este livro?
David Rubin: Em 2012, vi nas redes sociais que o Santiago Garcia, o argumentista ia abandonar o seu projecto, que há anos desejava ler. Senti-me enfurecido perante aquela notícia. Telefonei-lhe, disse-lhe que estava a a acabar o segundo tomo de El Heroe, mas que a seguir queria ser eu a desenhá-lo.

As Leituras do Pedro: Entraste então a meio no projecto.
David Rubin: Há 10 anos, quando tudo se iniciou, Beowulf teria 64 páginas em formato franco-belga. Depois, a obra foi reescrita para um novo desenhador, eu, e, com o crescimento das novelas gráficas, tive maior liberdade gráfica e criativa.
Quando recebi o guião, tinha cerca de 150 páginas, mas assim que lhe peguei apontei logo para as 200.

As Leituras do Pedro: Como trabalhaste com o Santiago Garcia?
David Rubin: Foi um trabalho em conjunto, criou-se entre nós uma comunhão muito forte, por isso não é possível dizer o que cada um fez, qual foi a contribuição de cada um para o resultado final.
Eu e o Santiago conversamos durante dois meses, antes de eu começar a desenhar, até chegarmos ao ponto de saber o que ambos queríamos expressar com esta obra.

As Leituras do Pedro: E o que queriam com Beowulf?
David Rubin: Não queríamos apenas um livro de espada e bruxaria ou de fantasia heróica, como O Senhor dos Anéis ou Conan, o Bárbaro. A nossa vontade era levar a temática a outro nível.
Outro dos grandes desafios que tivemos de enfrentar foi o nosso desejo de nos mantermos completamente fiéis ao original. O poema que adaptámos é algo de tremendamente épico, cheio de força, pelo que não era necessário acrescentar nada para o tornar melhor.

As Leituras do Pedro: Em Beowulf utilizaste uma planificação muito dinâmica, muito variada e aberta...
David Rubin: Nesse aspecto acho que a obra é muito rica. Eu não queria uma planificação cinematográfica tradicional. Tentei aproveitar ao máximo a potencialidade narrativa da banda desenhada para poder contar a história.

As Leituras do Pedro: A cor também tem um papel muito importante no livro.
David Rubin: Quis utilizar poucos tons para que a cor fosse também um elemento narrativo que conduzisse a história, que potenciasse o que estava a ser contado. Foi este o objectivo das cores aplicadas, não eram para criar uma obra bonita.

As Leituras do Pedro: Que influências tiveste especificamente em Beowulf?
David Rubin: Graficamente, uma das influências mais fortes para este livro foram os quadros de Jackson Pollock que, curiosamente, não têm nada a ver com o universo épico que desenhei, mas que foram importantes em termos pictóricos.
Outra das influências, foram os filmes do realizador dinamarquês Nicholas Widding Refn, e a frieza que existe no cinema dele, que tentei transportar para certas cenas.

As Leituras do Pedro: Este é o teu primeiro livro editado em Portugal. É representativo do que tu és?
David Rubin: Sim, é uma das minhas obras mais importantes, das que melhor me define. E que continua a dar-me muitas alegrias e a abrir-me muitas portas.
Acho que é o ideal para a Ala dos Livros se dar a conhecer como editora.

(fotos cedidas pela Ala dos Livros; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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