E pronto, a 14 de Janeiro,
sinceramente sem contar, li o meu primeiro grande livro de 2019. Vai
ficar como uma das minhas referências deste ano,
especialmente pela tempestade emocional que conseguiu desencadear.
Lavennder,
começa como um thriller de suspense e terror para, a certa altura,
de forma sádica e despudorada, arrasar com um dos maiores mitos que
embalou a infância e juventude de muita gente.
E a minha também.
Número especial da colecção
Le Storie
- de que a Levoir nos proporcionou, no ano passado, o excelente
Sangue e Gelo
- Lavennder
arranca com a chegada de Aaron e Gwen a uma pequena ilha deserta,
para passarem 10 dias (que se pretendem) paradisíacos. E que o traço
linha clara escolhido, com cores planas, quentes e agradáveis bem
adequadas, tornam
apetecível
(também ao leitor).
E,
naquela maravilha,
nem um despedimento recente e algumas fricções de origem familiar,
parecem ser mais do que problemas menores face ao (pequeno) sonho que
uma promoção online tornou possível.
Só que - como sempre
acontece... - aos poucos, pequenos (ou grandes?) incidentes, o agitar
das folhas de uns arbustos, uma sombra entre as árvores... começam
a provocar
alguma
inquietação e parecem anunciar que nem tudo era o que parecia e que
o jovem casal não está afinal só naquele paraíso. Como o leitor -
ao mesmo tempo que os jovens - pode ir intuindo.
Se esta trama base soa a
déjá vu -
e me recordou até Rocher Rouge,
o título que me 'forçou' a criar este blog - a verdade é que
Giacomo Bevilacqua, o autor completo deste tomo, a certa altura
decide
fazer uma inflexão acentuada no rumo escolhido.
Sem
alterar de todo o tom até aí claramente assumido, mas servindo
uma explicação para as dúvidas que se vão adensando que - escrevo
sem medo de errar - não estará de certeza nas cogitações de
nenhum dos leitores. O desvendar de que ilha se trata, através da
identificação daqueles que nela habitam é um primeiro murro no
estômago, mas a revelação do verdadeiro carácter de personagens
que nos preencheram sonhos maravilhosos na infância e juventude é
de molde a deixar o leitor a um tempo estupefacto pela violência
psicológica inaudita a que Bevilacqua se atreveu, mas também
deleitado pelo modo como conseguiu transformar completamente uma
narrativa de base vulgar.
E,
quando chegados ao final, ele nos revela as pistas - 17! - que
espalhou desde as primeiras páginas da história, só podemos
admirar como adequou, subverteu ou deu a volta a questões nucleares
que nos passaram ao lado,
a pormenores do original de alguma forma mascarados para não
denunciarem cedo de mais
o
que nos estava reservado, e
agora se afirmam em toda a sua evidência como partes de uma
narrativa bem estruturada, coerente
mas surpreendente
e, acima de tudo, bem conseguida.
Não
posso - não devo - escrever mais sobre Lavennder
- isso seria destruir o prazer da descoberta proporcionado pela
leitura que eu já fruí - apenas posso aconselhar vivamente esta
obra e - porque não? - a sua inclusão numa
(futura?) colecção Novela Gráfica.
Lavennder
Speciale Le Storie #4
Speciale Le Storie #4
Giacomo Bevilacqua
Panini Comics
Espanha, Dezembro de 2018
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa dura
16,00 €
(imagens recolhidas
no site da
Sergio Bonelli Editore; clicar nelas
para as aproveitar em toda a sua extensão)
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