09/01/2019

Moonshine #1: Sangue e Whisky

Temas de cabeceira


Não sei se é uma questão geracional ou advém da minha (de)formação enquanto leitor, e sinto que vai soar estranho e haverá certamente vozes discordantes, mas a verdade é que há temáticas de base, tradicionais, recorrentes - escolham o adjectivo que preferirem - que são meio caminho andando para uma banda desenhada me agradar. Como (n)este Moonshine.
O Oeste selvagem, a II Guerra Mundial, a Guerra Fria ou, como no caso presente, o policial negro associado aos anos da Grande Depressão e da Lei Seca, parecem ter um magnetismo especial que quase garante a minha satisfação por um qualquer relato que neles se ambiente - e quem me conhece sabe o quão exagerado isto soa...!
Escrevo acima 'quase' e a chave aqui é o 'quase', porque, evidentemente, a imaginação e a criatividade do(s) autor(es) - para já não entrar em territórios mais questionáveis como a sua genialidade - são fundamentais para esse êxito.
Azzarello e Risso, uma dupla que já nos serviu excelentes iguarias - Batman Noir ou 100 Balas (olha, que curioso, dois policiais negros...!) são exemplos fáceis - e que volta aqui a demonstrar a sua química numa história, nos tais anos 1930, baseada na tentativa por parte de um (re)conhecido gangster de levar para a grande cidade uma bebida (clandestina) fabricada em zona rural. A existência de diversas facções vendedoras - ou não; a negociação - por isso - menos fácil do que o esperado; o contacto com uma realidade diferente (para um citadino); um certo clima místico associado a uma das comunidades (negras) rurais; a violência crua a que Azzarello já nos habituou, são ingredientes que tornam mais apetecível o relato, aprimorado pela ambientação negra e dura que o traço de Risso e as suas cores lisas - à base de amarelos desmaiados, cinzas de vários tons e azuis - tornam quase palpável.
Uma das boas surpresas para mim do final de 2018 - expectáveis (pelo tema!) e pela dupla criativa - Sangue e Whisky adiciona a esta combinação e ao contexto (pré-aprovado) um toque de fantástico - consubstanciado em... descubram na leitura! - sem que isso afecte a coerência e a faceta realista do relato, acrescentando-lhe mesmo um extra de suspense, que o eleva a outro nível, agarrando ainda mais quem já estava (pré-)seduzido, até ao desenlace, inevitavelmente surpreendente e - quase de certeza - fora das cogitações da maior parte dos seus leitores.

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

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