19/02/2019

Darwin 1. A bordo do Beagle

A História como se fosse ficção




Depois do volume dedicado a Fernão de Magalhães, uma das surpresas de 2018, a colecção Descobridores, da Gradiva, prossegue com o primeiro de dois volumes sobre Darwin e o estabelecimento da sua Teoria da Evolução.
Dedicado aos primeiros anos do naturalista inglês, revela-nos a sua vida desde a infância e adolescência, até aos primeiros meses a bordo do Beagle. Nele, descobrimos um protagonista dividido entre a falta de ambições para a vida e o respeito e submissão ao pai, um jovem indeciso entre a vocação eclesiástica (forçada...?) e a curiosidade do (potencial) naturalista, realçando o dilema crescente para conseguir encaixar nas suas crenças religiosas as sucessivas descobertas que a viagem por lugares exóticos e distantes lhe vão proporcionando, mostrando como cada novo animal, esqueleto ou fóssil o afastavam cada vez mais do relato bíblico que até então sempre tivera por infalível. E o tornavam alvo de críticas por parte de alguns dos que o acompanhavam ou com ele conviviam, pelo choque entre a (nova) ciência e a religião vigente.
O grande trunfo desta banda desenhada, como habitual em grande parte das abordagens históricas originárias do mercado franco-belga - onde o contexto da BD e o seu estatuto na sociedade o permitem e potenciam - é a forma como os autores conseguem narrar a História como se fosse ficção, equilibrando a sua veracidade com um relato vivo e estimulante - que no final deixa o leitor a ansiar pelo volume #2.
O principal responsável é o argumentista Christian Clot - que já desempenhava o mesmo papel em Magalhães: Até ao fim do mundo (o volume com que a Gradiva inaugurou esta sua colecção), membro da Societé des Explorateurs Français, que assim combina duas das suas paixões: a BD e a descoberta do nosso planeta. Com os textos descritivos reduzidos ao mínimo, utiliza os diálogos para fazer avançar o relato e para fornecer a informação necessária para o leitor compreender o protagonista e o situar no contexto da sua época, tendo por base uma pesquisa histórica rigorosa, documentada no dossier final, bastante acessível e complementar da narrativa aos quadradinhos.
O traço de Fabio Bono, podendo não ser especialmente atraente no tratamento da fisionomia humana, revela-se muito competente na reconstrução naval, na representação animal e do movimento dos seres vivos, brilhando mesmo nalgumas páginas em que foge a uma planificação mais tradicional, optando por vinhetas de grande dimensão em que insere outras menores.
No conjunto da prestação de Clot e Bono, Darwin 1. A bordo do Beagle apresenta-se como uma leitura fluída e consistente, fazendo com que o jovem Darwin surja quase como um herói dos quadradinhos tradicional, por quem o leitor se descobre interessado e até a torcer pelo seu sucesso.

Darwin 1. A bordo do Beagle
Colecção: Descobridores
Christian Clot (argumento)
Fabio Bono (desenho)
Gradiva
Portugal, Janeiro de 2018
234 x 310 mm, 56 p., cor, capa dura
16,50 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a extensão; versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Fevereiro de 2019)

4 comentários:

  1. Ainda nâo sei quanto ao resto do livro, mas só esta ultima imagem que aqui apresentas é de uma beleza que muito me agrada!!!

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  2. Esta colecção foi uma agradável surpresa. Comprei o primeiro logo de seguida, este segundo vol. e fico ansioso pelo seguinte.

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  3. Não deixa de ser interessante, a Gradiva ter decidido lançar um terceiro volume que não é a continuação do Darwin.
    Será que pretende lançar a coleção na totalidade? E será fomos mal habituados com a GFloy, de ser informados do que se vai editar e este "não saber nada" da Gradiva é a norma?

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    1. Sim, a G. Floy habituou-nos mal, mas continua a ser um caso à parte.
      Mas a Gradiva já tinha anunciado este volume na contracapa do anterior, dedicado ao Darwin... Da mesma forma que anunciara o Darwin na contracapa do Magalhães...
      Boas leituras!

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