Se há adjectivo que parece ter sido criado para classificar o catálogo da Sergio Bonelli Editore, ele é 'diversidade' - embora, durante décadas, fundamentalmente sob o signo da grande aventura.
Em anos recentes, esse mesmo adjectivo volta a fazer todo o sentido
quando se fala da colecção Le Storie.
Escrevo com base no pouco que já conheço - e que abre muito o
apetite para mais: Sangue
e Gelo, um relato de terror com base histórica, que aLevoir e o Público disponibilizaram na colecção Bonelli de 2018; Lavennder,
uma ficção pura que tem por base uma situação extrema com a
literatura como mote; e, agora, este Mataré a Mandela,
lançado em Itália há menos de um ano.
Escrito por Gabriella Contu, tem por base os últimos dias antes do
encarceramento - que duraria mais de 25 anos e faria dele um símbolo
vivo - de Nelson Mandela, durante o regime de apartheid que
dominou a África do Sul durante décadas. Centrado em Moses, um
velho que trabalha no tribunal onde Mandela será julgado e cujo
filho foi morto por estar empenhado na oposição activa ao regime, o
relato traça um retrato, inevitavelmente subjectivo e de
posicionamento definido, da situação vivida então no país.
Mais uma vez com uma consistente base histórica que, apesar disso,
surge aos olhos do leitor apenas como um elemento mais, para a situar
e contextualizar, da narrativa, tem como ponto forte, a indefinição
de Moses, dividido entre a revolta que sente contra o regime que lhe
dificulta o quotidiano e lhe matou o filho, a forma como se afastou
deste deste devido à sua posição política e a vontade de viver
tranquilo sem se meter em sarilhos.
Os sucessivos acontecimentos a que iremos assistir, devido à
evolução da situação no país e à prisão e posterior julgamento
de Mandela, obrigarão Moses a repensar o seu posicionamento e a
assumir uma atitude - ou mais que uma pois, o que acontece à sua
volta irá influenciá-lo de diversas maneiras. E, graças a isso,
manter o leitor na dúvida sobre o desfecho quase até às últimas
páginas, graças à forma consistente como o protagonista está
retratado.
O traço de Giuseppe Baiguera, dentro dos padrões de qualidade a que
a Bonelli nos habituou, se não atinge o brilhantismo doutros
relatos, é sóbrio e realista, num preto e branco de contrastes
acentuados - inevitável no contexto...? - e contribui para o tom
factual que Mataré a Mandela assume.
Mataré a Mandela
Le Storie #68
Le Storie #68
Gabriella Contu (argumento)
Giuseppe Baiguera (desenho)
Panini Comics
Espanha, 24 de Janeiro de 2019
195 x 259 mm, 120 p., pb, capa dura
ISBN: 9788491677659
16,00 €
(pranchas
referentes à edição original italiana, recolhidas no site da
Sergio
Bonelli Editore;
clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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