16/05/2019

Batman: Cavaleiro Branco

Loucura partilhada



Não é um tema original, já foi igualmente explorado em obras notáveis mas esta divagação negra e dura sobre o que aproxima mais o Batman e o Joker ser maior do que aquilo que os afasta, é uma boa proposta de leitura.
Cavaleiro Branco é uma história sobre identidade(s), sobre planos e ambições, sobre uma relação de amor e ódio, acima de tudo um conto sobre a forma como a paixão por uma cidade pode mudar as pessoas - ou não. E que apresenta um duo de protagonistas constituído por três pessoas.

Relativamente a esta última frase - que foi ‘relida e aprovada’ antes de aqui ser publicada - vou deixar à vossa curiosidade descobrirem o que a motivou. Porque - e não vou adiantar mais nada - nem sempre numa história os protagonistas são quem mais aparece nem quem está à vista de todos e (aparentemente) faz a história desenrolar-se.
Este é um conto fechado, que integra o selo Black Label da DC Comics, criado para publicar mini-séries originais ou contos já publicados noutros selos da editora, que se distingam por não estarem presos à cronologia oficial do universo DC e se destinarem a um público mais adulto. Por isso, à imagem de vários relatos de anos (mais ou menos) recentes, contem com violência física (mais) explícita e um tom geral bem duro e negro. Esse é um dos grandes trunfos desta obra de Sean Murphy, a forma como consegue manter, ao longo de mais de 200 páginas, sempre um tom opressivo, pesado, sem nunca dar ao leitor, nem por breves momentos, a oportunidade de tirar a cabeça de debaixo de água e respirar uma boa golfada de ar.
No seu arranque, está a transformação do Joker em Jack Nappier e a cruzada que este encabeça para libertar Gotham City da corrupção, da opressão policial e, por arrastamento, dos métodos pouco claros e à margem da lei do Batman.
Uma série de acontecimentos bem orquestrados, que passam pela constituição anónima de um bando às suas ordens com todos os super-criminosos de Gotham, a par de uma conseguida manipulação da opinião pública, parece indiciar que Nappier conseguirá o seu objectivo.
Murphy, com um traço agreste, muito expressivo, de grande dinamismo mas nunca bonito - portanto perfeitamente em linha com todo o relato - apesar de nos proporcionar algumas pranchas soberbas (também) graças à parceria com as magníficas cores de Matt Hollingsworth, desenvolve uma narrativa em crescendo, com o habitual protagonista a cair do alto do seu pedestal até quase bater no fundo, antes de conseguir a inevitável (mas questionável) redenção - cujos méritos serão menos seus do que de interposta pessoa - para nos mostrar que até o Joker tem momentos de assustadora lucidez mas que, mais do que isso, a loucura muitas vezes assoberba e controla um Batman assombrado pelo seu passado: o que os seus pais foram, a morte deles, as suas opções de vida, as perdas que sofreu, as vítimas que causou, a obsessão pela solidão como forma de catarse - ou de auto-punição...

Batman: Cavaleiro Branco
Sean Murphy
Levoir
Portugal, 16 de Maio de 2019
170 x 257 mm, 232 p., cor, capa dura
25,90

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "No seu arranque, está a transformação do Joker em Jack Nappier e a cruzada que este encabeça para libertar Gotham City da corrupção, da opressão policial e, por arrastamento, dos métodos pouco claros e à margem da lei do Batman."

    É interessante ver que o Jack Napier era o gangster que se transformou no Joker no Batman do Tim Burton.
    O Sean Murphy muito bem, volta a esse nome para criar um Joker que deixa de ser Joker, o que é interessante e surpreendente porque a maior parte dos fãs não gostam deste ponto no Batman de 1989.

    ab

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  3. Está previsto a continuidade do Kick-ass?

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  4. Francamente já gostei mais do Sean Murphy, agora parece-me demasiado semelhante aquilo que o John Romita JR faz agora, aquelas linhas todas... mas isto é um livro do pinóquio? aquelas caras são deformadas e os movimentos dignos de uma pantomina, apesar de menos cartoonesco do que o JRJR.

    Sim, eu já tinha lido esta obra em inglês.

    É verdade que o argumento é decente, dark, acima da média do que aparece em mainstream mas aquela arte não se coaduna com o tom.

    No Punk Rock Jesus havia uma faceta de sátira em que os desenhos casavam bem, aqui considero que não.

    Penso que o magnum opus do Sean até à data é o Joe the Barbarian e já devia ter saído por cá.

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