06/06/2019

Agente Sommos e o Beliscão Atómico

Humor engraçado





Soa como um contra-senso mas uma das melhores definições desta obra de estreia do Agente Sommos, uma sátira às histórias de espionagem, é a que lhe é dada no prefácio por Reinaldo Figueiredo: uma ‘HQ [banda desenhada] engraçada’.
Porque esse é um dos grandes problemas de muitas edições supostamente humorísticas: não têm piada. Nenhuma.
Flávio Luiz Nogueira, autor independente, editor, continua a patentear o seu traço bem europeu, inspirado na escola de Marcinelle e nas criações publicadas na revista Spirou, para nos propor, desta vez, uma sátira às narrativas de espionagem, com James Bond, o agente 007, à cabeça, mas com outras referências - do cinema e da própria BD - que ajudam o leitor a identificar-se com a narrativa e, de certa forma, a já esperar alguns acontecimentos estereotipados do género - a situação limite com que o álbum arranca, o sábio louco, as cenas pós-créditos… - embora aqui surjam sob a capa do (tal) humor (engraçado) e dos exageros que a ironia permite.
Na presente missão, Sommos tem por objectivo capturar quatro agentes soviéticos e impedir um plano louco - não podia ser de outro tipo... - de destruir o mundo - ou pelo menos uma parte dele, mesmo que seja no Brasil, onde decorre grande parte da acção, como é imagem de marca do autor.
A divisão da narrativa em curtos blocos, correspondentes aos sucessivos passos que Sommos vai cumprindo para se aproximar do seu objectivo, não beneficia muito o ritmo mais elevado que ele tenta imprimir-lhe, mas a dinâmica do seu traço, a planificação em que abundam grandes planos e o nonsense que impera a vários níveis - que tem início logo no próprio título, prossegue nas observações críticas constantes da pretensa estagiária do autor, surge estampado nas capas dos sucessivos jornais que vão noticiando a acção e culmina na já referida sátira aos estereótipos do género - ajudam a dar uma maior consistência ao relato.
Muita acção, (quase nenhum) sexo - em comparação com o oo7 original! - alguma loucura e diversas surpresas - que também passam por um cameo do autor, um espião filho de pai português e por diversas referências que os fãs de Bond e companhia facilmente desvendarão, são elementos que cativam o leitor que, quase sem dar por isso, chega ao final da história a desejar (ler) mais.

Nota
O agente Sommos trabalha para o Movimento Espionário Nacional Altamente Secreto (MENAS) a que qualquer leitor pode pertencer, mediante a encomenda a Flávio Luiz Nogueira, por R$10,00, de um cartão - carteirinha no Brasil - de agente, devidamente autenticado e com direito a caricatura pelo autor.

Agente Sommos e o Beliscão Atómico
Flávio Luiz Nogueira
Papel A2 Texto & Arte
Brasil, Outubro de 2018
210 x 290, 44 p., cor, capa mole
R$ 30,00 - Encomendas directas ao autor: flavioluizcartum@uol.com.br
R$ 35,00 - Encomendas já com portes ao site: www.umlivro.com.br

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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