Soa
como um contra-senso mas uma das melhores definições desta obra
de
estreia do Agente Sommos, uma sátira às histórias de espionagem, é
a que lhe é dada no prefácio por Reinaldo Figueiredo: uma ‘HQ
[banda desenhada] engraçada’.
Porque
esse é um dos grandes problemas de muitas edições supostamente
humorísticas: não têm piada. Nenhuma.
Flávio
Luiz Nogueira, autor independente, editor, continua a patentear o seu
traço bem europeu, inspirado na escola de Marcinelle e nas
criações publicadas na
revista Spirou, para nos propor, desta vez, uma sátira às
narrativas de espionagem, com James Bond, o agente 007, à cabeça,
mas
com outras referências - do cinema e da própria BD - que ajudam o
leitor a identificar-se com a narrativa e, de certa forma, a já
esperar alguns acontecimentos estereotipados do género - a situação
limite com que o álbum arranca, o sábio louco, as cenas
pós-créditos… - embora aqui surjam sob a capa do (tal) humor
(engraçado) e dos exageros que a ironia permite.
Na
presente
missão,
Sommos tem por objectivo capturar quatro agentes soviéticos e
impedir um plano louco - não podia ser de outro
tipo...
- de destruir o mundo - ou pelo menos uma parte dele, mesmo
que seja no Brasil, onde decorre grande parte da acção, como é
imagem de marca do autor.
A
divisão da narrativa em curtos blocos, correspondentes
aos sucessivos passos que Sommos vai cumprindo para se aproximar do
seu objectivo,
não beneficia muito o ritmo mais
elevado
que ele tenta imprimir-lhe, mas a dinâmica do seu traço, a
planificação em que abundam grandes planos e o nonsense que impera
a vários níveis - que tem início logo
no
próprio título, prossegue nas observações críticas constantes da
pretensa estagiária do autor, surge estampado nas capas dos
sucessivos
jornais
que
vão noticiando a acção e
culmina na já
referida sátira
aos estereótipos do género - ajudam a dar uma maior consistência
ao relato.
Muita
acção, (quase nenhum) sexo - em comparação com o oo7
original!
- alguma loucura e diversas surpresas - que também passam por um
cameo
do autor, um
espião filho de pai português e
por diversas referências que os fãs de Bond e companhia facilmente
desvendarão, são elementos que cativam o leitor que, quase sem dar
por isso, chega ao final da história a desejar (ler) mais.
Nota
O
agente Sommos trabalha para o Movimento Espionário Nacional
Altamente Secreto (MENAS) a que qualquer leitor pode pertencer,
mediante a encomenda a Flávio Luiz Nogueira, por R$10,00, de um
cartão - carteirinha
no Brasil - de agente, devidamente autenticado e com direito a
caricatura pelo autor.
Agente
Sommos e o Beliscão Atómico
Flávio
Luiz Nogueira
Papel
A2 Texto & Arte
Brasil,
Outubro
de 2018
210
x 290, 44 p., cor, capa mole
R$
30,00 - Encomendas directas ao autor: flavioluizcartum@uol.com.br
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