14/06/2019

El Verano del Comisario Ricciardi: El Lugar de Cada Uno

Falsa indiferença

La Nápoles de los años treinta es la protagonista principal de las novelas de Ricciardi.”
Maurizio de Giovanni na introdução de El Lugar de Cada Uno

E com a chegada do Verão, Nápoles torna-se (ainda) mais opressiva e extenuante.

Apesar das temperaturas elevadas - ou também por causa delas - a vida continua, arrasta-se qual calvário interminável e o comissário Ricciardi tem de descobrir porque foi (mais) uma bela mulher assassinada. Assassinada três vezes…
Trata-se da duquesa de Camparino, segunda mulher d(a velhice d)o duque e os suspeitos multiplicam-se: o marido, idoso, inválido e traído com todos os homens que (a) deseja(m); a governanta que o idolatra e a despreza; o enteado que a odeia; o amante recém-rejeitado...
Foi encontrada morta, nos seus aposentos particulares, fechados por dentro, e Ricciardi é encarregado de investigar quem a assassinou. Uma, duas, três vezes, como a autópsia e as evidências demonstrarão e os leitores poderão deduzir da veracidade do aparente contra-senso…
Indiferente a isso - sem que isso lhe seja indiferente - a vida em Nápoles prossegue, cada vez mais asfixiada pelo poder crescente das milícias fascistas e das suas regras censórias, perante os cada vez mais ténues protestos de uns poucos e os silêncios cobardes e cúmplices da maioria.
Indiferentes ao crime - embora ele seja comentado nas suas ruas e praças - a vida prossegue nelas e na (falsa) segurança das casas particulares, com os pequenos dramas de cada um a sucederem-se em paralelo à investigação: o excesso de peso do cabo Maione, o silêncio crescente do jornalista em tempos audaz, as aventuras sexuais do médico legista, os amores proibidos, os desejos (mal) contidos, as fachadas que não espelham o interior, a luta quotidiana para pôr (alguma) comida na mesa…
Porque Nápoles, mais do que os edifícios de época, mais do que as ruas estreitas, as praças amplas, os jardins, as igrejas - tudo bem retratado por Nespolino, natural de lá… - é o conjunto de pessoas que vive e confere alma à cidade, cidadãos mais ou menos anónimos que vivem, sobrevivem, sofrem e às vezes se divertem.
(Menos) indiferente a tudo isto (do que parece), Ricciardi vai juntando as pontas, ordenando as pistas, descartando suspeitas, arrisca a pele e a carreira ao afrontar o poder, os poderes vigentes e, continuamente atormentado pelas vítimas de crimes violentos que (literalmente) vê desde criança e cujas indicações se mostram sempre decisivas para obter respostas, valoriza mais estes mortos do que os vivos com quem partilha o quotidiano - ou com quem aspira a partilhá-lo.

A edição da Panini espanhola, mais uma vez encerra com um dossier de 12 páginas, com a reprodução de fotos que serviram de base ao desenhador, esboços das personagens, esquissos das cenas e uma entrevista em que Alessandro Nespolino detalha o seu processo de trabalho.

El Verano del Comisario Ricciardi: El lugar de cada uno
Marcello de Giovanni (argumento)
Paolo Terracciano (guião)
Alessandro Nespolino (desenho)
Panini Comics
Espanha, Maio de 2019
ISBN: 9788491678939
195 x 259 mm, 176 p., cor, capa dura
18,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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