29/07/2019

Renascidos

Conceitos

Acho que não erro ao afirmar que Mark Millar, antes de tudo, é um autor de conceitos, de boas ideias que, muitas vezes, transformam ou subvertem géneros estabelecidos, mesmo que nem sempre a sua explanação seja tão conseguida quanto o ponto de partida prometia.
Renascidos - Reborn no original norte-americano - é mais um (bom) exemplo do atrás escrito, conseguindo - desta vez - um equilíbrio bastante interessante entre o conceito base e a forma como o desenvolve depois.
De forma simplista, pode-se afirmar que Renascidos responde à grande dúvida do ser humano: para onde vamos quando morremos? E fá-lo - surpreendentemente - sob a forma de um relato de espada e fantasia!
Não vou esmiuçar mais o seu conteúdo, para não estragar o prazer da leitura que eu tive, mas revelo ainda que esta proporcionará bastantes surpresas e alguns momentos bem conseguidos, num equilíbrio muito interessante entre os medos e anseios de quem morre a a aventura pura e dura que serve de suporte ao relato.
Desenvolvida maioritariamente no mundo ficcional, entre-cortada com flash-backs à ‘realidade’ que permitem compreender opções, reacções e interacções, Renascidos parece-me uma das obras mais consistentes de Millar, completa e auto-conclusiva em si mesma, com um desenho competente e intenso de Greg Capullo, que saltita com grande à-vontade entre os dois registos abordados.
Fico, por isso, algo apreensivo, perante a possibilidade de uma sequela que será sempre desprovida da surpresa que a obra original tem e, consequentemente, expurgada de vários dos aspectos que a tornam tão estimulante.

No dossier final, que encerra mais uma bela edição da G. Floy, para além de uma entrevista com os autores, são propostas várias capas alternativas da autoria de outros ilustradores que não Capullo. Imaginar Renascidos desenhada por cada um deles, poderá proporcionar um sentimento de mágoa ou de alívio, consoante as preferências gráficas de cada um...

Renascidos
Inclui os comics #1 a #6 da mini-serie Reborn
Mark Millar (argumento)
Greg Capullo (desenho)
G. Floy
Portugal, Maio de 2019
185 x 280 mm, 176 p., cor, capa dura
16,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Pois eu achei uma desilusão. Já li à algum tempo, pelo que já nem me lembro bem da coisa. Só me lembro que não consegui peceber porque é que a heroina é o que é. Não há qualquer explicação. Ela é o que é porque sim. E continua a partir daí....
    Não sendo a primeira desilusão deste argumentista, do Millar já não compro mais nada.

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  2. Também foi uma desilusão para mim, achei o conceito preguiçoso na sua execução, mas isto porque conheço histórias de FC onde acontece algo semelhante.

    Sob a brand dele considero o Superior, o Huck, o Nemesis e o Kick Ass interessantes, acima da média mesmo mas o MPH com o seu twist não me convenceu, o Super Crooks é excelente, o Wanted, o Kingsman idem, mas o Crononautas, o Renascidos, Imperatriz e o Starlight considero muito clichés, o Millar é uma pessoa inteligente, sabe reunir-se com bons artistas que melhoram a qualidade da sua escrita mesmo quando a mesma é fraca e depois tem o condão de elevar o plágio a uma forma de homenagem, tem um novo título agora: Sharkey The Bounty Hunter e aquilo é uma cópia descarada do Lobo da DC.

    Neste momento parece que as suas obras são concebidas para serem usadas como guiões de filmes, com um objectivo muito comercial.

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    1. "Neste momento parece que as suas obras são concebidas para serem usadas como guiões de filmes, com um objectivo muito comercial."
      Ou não tivesse ele vendido a Millarworld à Netflix e anunciado que todas as suas BDs passadas e futuras serão adaptadas para séries e filmes ;)

      As únicas obras dele verdadeiramente interessantes curiosamente têm sempre uma ajuda externa. Red Son teve o Grant Morrison a oferecer-lhe o final e Wolverine #32 teve uma dica do Will Eisner que melhorou de sobremaneira essa história. Quando se dedica a conceitos que exigem alguma finess (Chosen p.ex.), nota-se que sem uma ajuda externa não consegue entregar aquilo que prometeu.

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