02/10/2019

Amadora BD 2019: Grandes expectativas

Quando faltam cerca de três semanas para a abertura do Amadora BD - 3oº Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, deixo alguns avanços já conhecidos sobre a programação e algumas considerações sobre aquela que é, seguramente, uma das mais aguardadas edições do evento.
Comecemos por este último aspecto.
Conforme foi largamente anunciado, Nelson Dona, que dirigiu o festival durante cerca de duas décadas deixou o cargo de director no final de 2018, tendo sido substituído por Lígia Macedo, já com alguma experiência no festival.
Depois de várias edições em que a inacção e a repetição de um modelo esgotado eram as principais imagens de marca, com exposições por montar nas inaugurações - e mesmo depois disso… - e convites a autores desconhecidos e desinteressantes, será difícil não fazer melhor.
Os primeiros sinais foram bem positivos: uma maior abertura a quem há muito devia ser parceiro - editores, livreiros, autores - capacidade de comunicação (que é como quem diz resposta a contactos…) e uma evidente vontade de mudança.
Que, digo eu, de fora e à distância, não será maior e mais visível (este ano?), porque a pesada máquina burocrática da câmara municipal continua a fazer-se sentir… e a impor a sua lei e visão limitada, em lugar de confiar em quem foi escolhida para uma difícil tarefa.
Fundamental - e deverá ser ponto de honra - é que tudo - espaço, exposições, feira… - esteja pronto a horas, que é como quem diz no momento da inauguração.

A primeira e mais evidente mudança formal tem a ver com a diminuição da duração do festival, reduzida de três para duas semanas - de 24 de Outubro a 3 de Novembro. Se em termos objectivos vai tornar mais concorridos e mediáticos os dois fins-de-semana, vai tornar mais difícil alcançar a meta dos 30 mil visitantes - fictícios? - que eram o número da praxe das últimas edições, pois reduzirá ou, no mínimo, tornará logisticamente mais complicado, garantir o mesmo número de visitas escolares. Numa iniciativa camarária, onde os números são importantes, isto soa a contrassenso, mas em termos do público do festival, é uma medida que beneficia quem mora fora da Grande Lisboa.
Outra mudança significativa é o facto de com um mês de antecedência terem começado a ser divulgados os conteúdos e os convidados, já que nos últimos anos contavam-se pelos dedos de uma mão (e não se usavam todos...) os dias que separavam o anúncio da programação da data da inauguração… Mais próximo do festival e durante o seu decurso, será também fundamental uma comunicação eficaz sobre a programação de conversas, apresentações, sessões de autógrafos e presença de convidados.
Também importante - e inovador - é a maior proximidade com os diversos parceiros, no que diz respeito à construção do programa em sintonia com quem edita/vende/divulga BD. Dessa forma, o Clube Português de Banda Desenhada ‘garante’ a presença de Alfonso Font e dos seus originais e a Dr. Kartoon assegura a exposição Dampyr e Fernando Pessoa, baseado no livro homónimo de Michele Cropera, que previsivelmente será editado pela nova editora A Seita, na presença do autor. Com a mesma chancela, será lançado um livro da autoria de José Nuno Fraga, que está na origem da exposição As Mulheres na Assembleia: Utopia, Comunismo Sexual e Sátira Política na Grécia Antiga.
Para além destes dois nomes, o Amadora BD, na sua página do Facebook, já garantiu também as visitas de Antonio Altarriba e Keko em parceria com a Ala dos Livros - o que parece um sinal claro de que teremos Eu, louco a caminho do catálogo daquela editora.
A entrega do projecto gráfico a Jorge Coelho - que nos presenteou com um belo cartaz (ver acima) que salienta a leitura - pressupõe uma mostra sobre o trabalho deste autor - que merecia e justificava a edição em português de algum dos seus trabalhos lançados nos Estados Unidos. De toda a justiça é a homenagem a Geraldes Lino, composta por pranchas em que ele aparece como figurante ou protagonista, estando também anunciada uma exposição sobre o álbum Congo: Um mundo esquecido, dos irmãos Henrique e Duarte Gandum, que apresentarão uma curta-metragem baseada na sua obra e o segundo volume daquela saga.
Por via destas parcerias (ou não), porque o Amadora BD desde sempre se revelou um bom local de vendas ou porque o espírito de renovação alastrou a outras latitudes, parece estar assegurada uma ampla Feira de BD, onde já foram anunciadas as presenças da Ala dos Livros, Âncora Editora, Arte de Autor, Babel, Chili Com Carne, Comic Heart, Devir, Dr. Kartoon (com G.Floy e Levoir), Kingpin Books e Polvo.
Se o apelo da mudança, a presença renovada de editores e uma lista de convidados consentânea com o historial (não recente) do Amadora BD, deixa antever uma maior resposta do público apreciador de BD, que durante anos teve este evento como ponto alto do calendário, isto aumenta a responsabilidade do festival, pois tudo será escrutinado ao pormenor e qualquer falha - e algumas haverá certamente, é inevitável - será prontamente apontada.
Para a banda desenhada portuguesa - autores, editores, livreiros, leitores… - e para o próprio Amadora BD será bom que as expectativas geradas se confirmem, mas esta edição de alguma forma deverá ser encarada como um (novo) Ano Zero do festival e não como a afirmação definitiva do modelo renovado.

(informação e imagens recolhidas na página de Facebook do Amadora BD; interpretação e suposições da exclusiva responsabilidade de As Leituras do Pedro; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Vou todos os anos ao festival, notou-se uma gradual perda clara de qualidade até nas pequenas coisas - no ano passado fui com a minha família, incluindo um carrinho de bebé. Para vermos a exposição na "cave" (parque de estacionamento) e descer com o carrinho, o único elevador em funcionamento dava para as traseiras do parque, após várias peripécias lá conseguimos chegar abaixo com um funcionário (solícito mas pouco informado) mas não havia acesso à exposição pela parte de trás, a única porta existente estava trancada. Surreal... desistimos e fomos embora.
    A área comercial ainda tem funcionado benzito, pelo menos tem havido muita oferta, se vão aumentar as lojas presentes é boa notícia.
    Quanto aos autógrafos, uma pobreza enorme de ano para ano. Longe vão os tempos em que se conseguia um autógrafo do Manara no festival, ou outro nome relevante como esse.

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  2. Pedro, lamento dizê-lo mas os sinais visiveis de mudança em relação aos últimos anos são pouco mais que nenhuns. Como visitante desde a 1ª edição e ausente das últimas, tudo indica que, à parte a presença de alguns parceiros e editores, os motivos para justificar uma deslocação continuam a estar ausentes. A menos de 1 mês do inicio do evento continuamos a não ter um programa, lista de presenças/convidados, lançamentos, exposições, etc... Uma página online actualizada, idem. Materiais de divulgação inexistentes. Este evento, na minha modesta opinião, já deveria ter saído do âmbito municipal e ter envolvido um ou mais parceiros que ajudassem a captar apoios, patrocínios que lhe permitissem ter um maior fôlego financeiro e profissionais com know-how. O local já deveria ter sido repensado - é pequeno, pouco funcional e sem as estruturas de apoio que um envento de média dimensão exige, i.e., não permite que o evento cresça. O local também não é o mais convidativo. Tenho poucas razões para estar optimista, mas veremos...

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    1. O problema não é o evento crescer, é não diminuir. O local é adequado, se fosse maior, não haveria orçamento para poder meter mais coisas lá. E do lado as editoras, dado o estado do mercado, é complicado que elas possam fazer um investimento significativo no evento, já para poder fazer com que invistam em trazer autores, isso é deduzível do custo do stand, ou seja, como meio de pagamento. Uma editora não tem como trazer autores que pedem viagens em primeira classe, acompanhantes, etc.. e nalguns casos (cada vez mais) um cachet.

      Concordo que o local não é apelativo, é mesmo tipo o "fim do mundo".

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