Quando
faltam cerca de três semanas para a abertura do Amadora
BD - 3oº Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora,
deixo
alguns avanços já conhecidos sobre a programação e algumas
considerações sobre aquela que é, seguramente, uma das mais
aguardadas edições do evento.
Comecemos
por este
último aspecto.
Depois
de várias edições em que a inacção e a repetição de um modelo
esgotado
eram as principais imagens
de marca,
com exposições por montar nas inaugurações - e mesmo depois
disso… - e convites a autores desconhecidos e desinteressantes,
será difícil não fazer melhor.
Os
primeiros sinais foram bem positivos: uma maior abertura a quem há
muito devia ser parceiro - editores, livreiros,
autores - capacidade de comunicação (que é como quem diz resposta
a contactos…) e uma evidente vontade de mudança.
Que,
digo eu, de fora e à distância, não será maior e mais visível
(este ano?), porque a pesada
máquina
burocrática da câmara municipal continua a fazer-se sentir… e a
impor a sua lei e visão limitada, em lugar de confiar em quem foi
escolhida para uma difícil tarefa.
Fundamental
- e deverá ser ponto de honra - é que tudo - espaço,
exposições,
feira… - esteja pronto a horas, que é como quem diz no momento da
inauguração.
A
primeira e mais evidente mudança formal tem a ver com a diminuição
da duração do festival, reduzida
de três para duas semanas - de 24 de Outubro a 3 de Novembro. Se em
termos objectivos vai tornar mais concorridos e mediáticos os dois
fins-de-semana, vai tornar mais difícil alcançar a meta dos 30 mil
visitantes - fictícios? - que eram o número da praxe das últimas
edições, pois reduzirá ou, no mínimo, tornará logisticamente
mais complicado, garantir o mesmo número de visitas escolares. Numa
iniciativa camarária, onde os números são importantes, isto soa a
contrassenso, mas em termos do público do festival, é uma medida
que beneficia quem mora fora da Grande Lisboa.
Outra
mudança significativa é o facto de com um mês de antecedência
terem começado a ser divulgados os conteúdos e os convidados, já
que nos últimos anos contavam-se pelos dedos de uma mão (e não se
usavam todos...) os dias que separavam o anúncio da programação da
data da inauguração… Mais próximo do festival e durante o seu
decurso, será também fundamental uma comunicação eficaz sobre a
programação de conversas, apresentações, sessões de autógrafos
e presença de convidados.
Também
importante - e inovador - é a
maior proximidade com os diversos parceiros, no
que diz
respeito à construção do programa em sintonia com quem
edita/vende/divulga BD. Dessa forma, o Clube Português de Banda
Desenhada ‘garante’ a presença de Alfonso Font e dos seus
originais e a Dr. Kartoon assegura a exposição Dampyr
e Fernando Pessoa,
baseado no livro homónimo de Michele Cropera, que previsivelmente
será editado pela nova editora A Seita, na presença do autor. Com a
mesma chancela, será lançado um livro da autoria de José Nuno Fraga, que está na origem da exposição As
Mulheres na Assembleia: Utopia, Comunismo Sexual e Sátira Política
na Grécia Antiga.
Para
além destes dois nomes, o Amadora BD, na sua página do Facebook, já
garantiu também as visitas de Antonio Altarriba e Keko em parceria
com a Ala dos Livros - o
que parece um sinal claro de
que teremos Eu,
louco
a caminho do
catálogo daquela editora.
A
entrega do projecto gráfico a Jorge Coelho - que
nos presenteou com um belo cartaz (ver acima) que salienta a leitura - pressupõe
uma mostra sobre o trabalho deste autor - que merecia e justificava a
edição em
português de
algum dos seus trabalhos lançados nos Estados Unidos. De toda a
justiça é a homenagem a Geraldes Lino, composta por pranchas em que
ele aparece como figurante ou protagonista, estando também anunciada
uma exposição sobre o álbum Congo:
Um mundo esquecido,
dos irmãos Henrique e Duarte Gandum, que apresentarão uma
curta-metragem baseada na sua obra e
o segundo volume daquela
saga.
Por
via destas parcerias (ou não), porque o Amadora BD desde sempre se
revelou um bom local de vendas ou porque o espírito de renovação
alastrou a outras latitudes, parece estar assegurada uma ampla Feira
de BD, onde
já foram anunciadas as presenças
da
Ala
dos Livros, Âncora Editora, Arte de Autor, Babel, Chili Com Carne,
Comic Heart, Devir, Dr. Kartoon (com G.Floy e Levoir), Kingpin Books
e Polvo.
Se
o
apelo
da mudança, a presença renovada de editores e uma lista de
convidados consentânea com o historial (não recente) do Amadora BD,
deixa antever uma maior resposta do público apreciador
de BD, que durante anos teve este evento como ponto alto do
calendário,
isto aumenta a responsabilidade do festival, pois tudo será
escrutinado ao pormenor e qualquer falha - e algumas haverá
certamente, é inevitável - será
prontamente apontada.
Para
a banda desenhada portuguesa - autores, editores, livreiros,
leitores… - e para o próprio Amadora BD será bom que as
expectativas geradas se confirmem, mas esta edição de alguma forma
deverá ser encarada como um (novo) Ano Zero do festival e não como
a afirmação definitiva do modelo renovado.
(informação
e imagens recolhidas na página de Facebook do Amadora BD;
interpretação e suposições da exclusiva responsabilidade de As
Leituras do Pedro;
clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
Vou todos os anos ao festival, notou-se uma gradual perda clara de qualidade até nas pequenas coisas - no ano passado fui com a minha família, incluindo um carrinho de bebé. Para vermos a exposição na "cave" (parque de estacionamento) e descer com o carrinho, o único elevador em funcionamento dava para as traseiras do parque, após várias peripécias lá conseguimos chegar abaixo com um funcionário (solícito mas pouco informado) mas não havia acesso à exposição pela parte de trás, a única porta existente estava trancada. Surreal... desistimos e fomos embora.
ResponderEliminarA área comercial ainda tem funcionado benzito, pelo menos tem havido muita oferta, se vão aumentar as lojas presentes é boa notícia.
Quanto aos autógrafos, uma pobreza enorme de ano para ano. Longe vão os tempos em que se conseguia um autógrafo do Manara no festival, ou outro nome relevante como esse.
Pedro, lamento dizê-lo mas os sinais visiveis de mudança em relação aos últimos anos são pouco mais que nenhuns. Como visitante desde a 1ª edição e ausente das últimas, tudo indica que, à parte a presença de alguns parceiros e editores, os motivos para justificar uma deslocação continuam a estar ausentes. A menos de 1 mês do inicio do evento continuamos a não ter um programa, lista de presenças/convidados, lançamentos, exposições, etc... Uma página online actualizada, idem. Materiais de divulgação inexistentes. Este evento, na minha modesta opinião, já deveria ter saído do âmbito municipal e ter envolvido um ou mais parceiros que ajudassem a captar apoios, patrocínios que lhe permitissem ter um maior fôlego financeiro e profissionais com know-how. O local já deveria ter sido repensado - é pequeno, pouco funcional e sem as estruturas de apoio que um envento de média dimensão exige, i.e., não permite que o evento cresça. O local também não é o mais convidativo. Tenho poucas razões para estar optimista, mas veremos...
ResponderEliminarO problema não é o evento crescer, é não diminuir. O local é adequado, se fosse maior, não haveria orçamento para poder meter mais coisas lá. E do lado as editoras, dado o estado do mercado, é complicado que elas possam fazer um investimento significativo no evento, já para poder fazer com que invistam em trazer autores, isso é deduzível do custo do stand, ou seja, como meio de pagamento. Uma editora não tem como trazer autores que pedem viagens em primeira classe, acompanhantes, etc.. e nalguns casos (cada vez mais) um cachet.
EliminarConcordo que o local não é apelativo, é mesmo tipo o "fim do mundo".