Marcello
Quintanilha esta de regresso ao Amadora BD, para o lançamento de
mais uma obra sua pela Polvo, Folia de Reis, que compila as histórias
originalmente publicadas nas edições brasileiras Sábado dos meus amores e Almas Públicas.
Na
entrevista que se segue, feita por correio electrónico, o autor dá
algumas pistas sobre este livro e sobre a forma como reflecte sobre
as suas obras.
As
Leituras do Pedro - As
histórias de Folia de
Reis
têm já 10, 12 anos. Como as encara hoje?
Marcello
Quintanilha - Exactamente
da mesma forma em que as encarava no momento de sua criação, nada
mudou, não sinto nenhum tipo de distanciamento, não considero
sequer que estas histórias constituam uma etapa anterior da minha
trajectória. Elas são o que sempre foram: histórias inspiradas em
minhas experiências pessoais, no universo que conheci na primeira
pessoa, com toda sua peculiar gama de valores.
As
Leituras do Pedro - O
que mudou entretanto na sua forma de narrar em quadrinhos?
Marcello
Quintanilha - Absolutamente
nada. Tanto minha percepção, como minhas motivações, permanecem
inalteradas.
As
Leituras do Pedro - E
como mudou o Brasil neste tempo? Os retratos humanos de pessoas
simples que traça nas histórias curtas compiladas neste livro,
ainda fazem sentido?
Marcello
Quintanilha - A
questão só se justificaria se Folia
de Reis fosse
um álbum pensado para abarcar um período histórico, social e
politicamente falando. Minha forma de proceder, no entanto, segue
caminho diametralmente oposto a este.
Tenho
imensa dificuldade em absorver ideias pré-concebidas, como as que
historicamente envolvem a percepção do que você chama “gente
simples”, porque elas reproduzem uma série de generalizações com
as quais não estou nem nunca estive de acordo, geralmente no sentido
de estabelecer uma diferença social/económica/intelectual, entre o
autor e o objecto de sua criação, e acho este um procedimento
deplorável.
Meus
personagens não representam uma interpretação da população
brasileira construída de fora para dentro, a partir de padrões
derivados da compreensão de momentos históricos específicos, e
cuja compreensão final se estabeleça nesses marcos; porque nunca
trabalho sob a perspectiva do distanciamento. Eles são
desdobramentos de tudo que me constitui como ser humano e o contexto
no qual cada história se desenvolve corresponde a um resgate
relacionado à ampliação de um arcabouço iconográfico em
constante construção no panorama do quadrinho brasileiro. Logo, as
diferentes etapas económico-políticas pelas quais o país tenha
passado, não afectam em nada minha produção.
As
Leituras do Pedro - Estas
histórias são baseadas em casos reais ou nasceram da sua
imaginação?
Marcello
Quintanilha - As
duas coisas. Embora todas as histórias sejam ficcionais, elas
poderiam ter ocorrido exactamente nos mesmos termos em que estão
expressas no álbum.
As
Leituras do Pedro - O
futebol e a religião - e o futebol como religião - são recorrentes
neste livro e na sua obra de uma maneira geral. Porquê esta relação
tão forte com estes temas?
Marcello
Quintanilha - Porque
eles estão na base da edificação do que compreendemos por
identidade brasileira. É impossível pensar essa sociedade sem levar
em conta esses factores.
As
Leituras do Pedro - Como
apresenta este livro a um leitor que não conheça ainda a sua obra?
Marcello
Quintanilha - Como
uma história em quadrinhos (ou banda desenhada, se você prefere)
que trata sobretudo das relações humanas, assim como com o entorno;
da forma como o ser humano precisa encontrar meios para superar as
dificuldades impostas por suas circunstâncias, sejam elas sociais ou
afectivas.
As
Leituras do Pedro - E
àqueles que já são seus leitores?
Marcello
Quintanilha - Não
há outra forma de definir meu trabalho, pelo que temo que teria de
dar a mesma resposta.
Folia
de reis
terá ainda uma sessão de lançamento, autógrafos e bate-papo com o
autor, hoje, dia 1 de Novembro, pelas 18h00, na Casa
Pau-Brasil/Livraria da Travessa, em Lisboa.
Folia de reis, de Marcello Quintanilha terá uma apresentação apresentação conjunta com Grande, de André Ducci, no Amadora BD, no dia 2 de Novembro, sábado, pelas 16h00, a cargo do jornalista João Morales.
Marcello
Quintanilha estará nas tardes dos dias 01 a 03 de Novembro no
Amadora BD, para autógrafos.
(entrevista tornada possível por Rui Brito, da editora Polvo, a quem As Leituras do Pedro agradecem a oportunidade; imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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