Das histórias de Mark Millar sabemos sempre o que esperar: uma boa ideia de base, conceitos originais, uma narrativa consistente e um par de horas de leitura cativante.
Huck,
uma nova abordagem tangencial ao universo de super-heróis - a um
universo com um super-herói… - e o mais recente lançamento da G.
Floy na linha editorial Millarworld,
confirma esta ideia feita.
O
protagonista, aquele que dá título ao livro, é um ser especial -
as criações de Millar são-no quase todas… Tem a capacidade de
encontrar qualquer coisa ou ser vivo e - por isso ou para isso -
recorre aos seus ‘super-poderes?: agilidade, força velocidade fora
do comum.
Revelando
algum atraso mental, Huck, adoptado em bebé, tem por objectivo
fazer uma boa acção por dia, seja ela deitar fora o lixo de todos
os vizinhos, deixar dinheiro num livro da biblioteca para fazer
alguém feliz ou salvar um refém de terroristas. Na sua cabeça, na
simplicidade do seu ser e da forma como vê o mundo, a tónica é
ajudar. Porque sim, sem tirar disso fama nem proveito, em segredo. Um
segredo muito bem guardado pela sua comunidade, grata pela dádiva
recebida e ciente da importância desse sigilo.
Até
que um dia… o segredo é revelado e, num mundo mediatizado, Huck
torna-se uma celebridade a nível planetário.
Terminado
aqui o resumo deste livro - e a seguir pode haver algumas (poucas) revelações - Millar tinha vários caminhos a trilhar:
manter a tónica no lado humano; mostrar os efeitos nefastos da fama;
mostrar
o protagonista a tentar sobreviver fora do seu pequeno mundo;
acentuar
o lado super-heróico… A opção, foi uma combinação de todos
eles, acrescentando uma história familiar, uns vilões russos
resgatados de ódios latentes do tempo da guerra fria, numa narrativa
que, página a página, nos mantém suspensos e com vontade de
prosseguir a leitura - somos uns felizardos que podemos ler estas
histórias de um só fôlego, em livro, sem termos de aguardar mês
após mês - ou mais! - por cada novo capítulo.
Mas,
depois do ‘agradável’ vem a ‘previsibilidade’, e a verdade é
que sabemos que no fim tudo vai acabar bem - ou quase - e os bons -
geralmente não há grande espaço para personagens dúbias ou zonas
cinzentas nas histórias de Millar - vão ganhar e, até, muito
provavelmente, ser felizes para sempre.
Mas,
confirmando
a velha teoria de que o importante não é a história que se conta
mas a forma como ele à contada, Millar ganha
de novo ao ter recorrido, mais uma vez, a
um artista capaz de transmitir ao seu relato toda a força e impacto
que ele potencialmente tinha. O brasileiro Rafael Albuquerque,
confirmando a sua vocação para cenas de espectacularidade acrescida,
parte
de uma planificação arejada e ampla, com poucas vinhetas por
prancha, para potenciar a grande estatura de Huck e tirar todo o
partido das cenas de acção. Ao mesmo tempo, utiliza igualmente essa
espectacularidade gráfica para criar diversos momentos de suspense ou
exibir grandes planos que acentuam momentos especiais ou os vários
volte-faces que vão surgindo.
Huck
Mark
Millar (argumento)
Rafael
Albuquerque (desenho)
Dave
McCaig (cor)
G.
Floy
Portugal,
Outubro de 2019
190
x 280
mm, 160
p.,
cor, capa dura
16,00
€
Eu já tinha referido este em tempos, é dos mais bem conseguidos do Millarworld, interessante saber como seria a continuação mas deve ficar em aberto como em quase todas as histórias da editora.
ResponderEliminarÉ uma história cliché mas um cliché interessante, como o Superior.