Se são muitas as qualidades que se podem exigir a uma narrativa para que se distinga, a simplicidade é das mais difíceis de conseguir.
Esta
narrativa decorre no
universo de Criminal
e
é a história de Ellie, que sempre teve um obsessão romântica por
drogados, elegendo os seus heróis - músicos, escritores, pensadores
- pelas drogas que consumiam e - aparentemente
- os
tornavam diferentes e mais interessantes.
Por
isso, rapidamente, resvalou para o vício, não surpreendendo que a
encontremos numa clínica de reabilitação no início do livro. É
lá
que conhece Skip, jovem, da sua idade, com vício
similar e tudo naquela situação parece empurrar um para o outro.
A
narrativa, assume contornos de fuga para a frente e desenvolve-se de
forma progressiva, entrecruzada com as suas memórias de uma infância
atribulada, marcada pela morte da mãe de uma overdose,
e ao ritmo das memórias dos drogados que Ellie admira - Billie
Holliday, Sartre, Bowie…
Só
que, aquilo que parecia apenas o relato simples de um simples romance
juvenil rebelde, acabará por ganhar outros argumentos e surpreender
o leitor - que ao mesmo tempo se poderá sentir traído, enganado,
desiludido com o ser humano…
Se
o argumento de Ed Brubaker surpreende pela sua - afinal
enganadora… - simplicidade
extrema,
mesmo
com o chocante
golpe
de asa final, mais surpreendente ainda é o desenho
de Sean Philips, que nos habituámos a conhecer detalhado,
trabalhado, hiper-realista, e que se apresenta aqui com um traço mais contido, igualmente simples (...?), depurado, trabalhado no limite dos mínimos
necessários para deixar a história fluir e pintado com uma paleta
reduzida onde se destacam
os rosas, ocres e cinzentos.
…
e,
valendo os prémios o que nós quisermos, esta simplicidade permitiu a Os
meus heróis sempre foram drogados ser distinguido com o Prémio Eisner para Melhor Romance Gráfico
Original, em 2019.
Os
meus heróis sempre foram drogados
Ed
Brubaker (argumento)
Sean
Philips (desenho)
G.
Floy
Portugal,
Setembro de 2019
190
x 280 mm, 72 p., cor, capa dura
13,00
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
Excluindo o peso-pesado da ASA (Asterix cuja edição é simulatânea), não é muito normal uma obra ser editada em Portugal no mesmo ano da sua edição no país original.
ResponderEliminarFelizmente, já vai acontecendo mais.
EliminarPosso dizer que no ano passado houve 14 edições que cumpriram esse critério.
Boas leituras!