18/10/2019

Os meus heróis sempre foram drogados

Viver ao ritmo da heroína







Se são muitas as qualidades que se podem exigir a uma narrativa para que se distinga, a simplicidade é das mais difíceis de conseguir.
Os meus heróis sempre foram drogados preza exactamente essa simplicidade.
Esta narrativa decorre no universo de Criminal e é a história de Ellie, que sempre teve um obsessão romântica por drogados, elegendo os seus heróis - músicos, escritores, pensadores - pelas drogas que consumiam e - aparentemente - os tornavam diferentes e mais interessantes.
Por isso, rapidamente, resvalou para o vício, não surpreendendo que a encontremos numa clínica de reabilitação no início do livro. É lá que conhece Skip, jovem, da sua idade, com vício similar e tudo naquela situação parece empurrar um para o outro.
A narrativa, assume contornos de fuga para a frente e desenvolve-se de forma progressiva, entrecruzada com as suas memórias de uma infância atribulada, marcada pela morte da mãe de uma overdose, e ao ritmo das memórias dos drogados que Ellie admira - Billie Holliday, Sartre, Bowie…
Só que, aquilo que parecia apenas o relato simples de um simples romance juvenil rebelde, acabará por ganhar outros argumentos e surpreender o leitor - que ao mesmo tempo se poderá sentir traído, enganado, desiludido com o ser humano…
Se o argumento de Ed Brubaker surpreende pela sua - afinal enganadora… - simplicidade extrema, mesmo com o chocante golpe de asa final, mais surpreendente ainda é o desenho de Sean Philips, que nos habituámos a conhecer detalhado, trabalhado, hiper-realista, e que se apresenta aqui com um traço mais contido, igualmente simples (...?), depurado, trabalhado no limite dos mínimos necessários para deixar a história fluir e pintado com uma paleta reduzida onde se destacam os rosas, ocres e cinzentos.
e, valendo os prémios o que nós quisermos, esta simplicidade permitiu a Os meus heróis sempre foram drogados ser distinguido com o Prémio Eisner para Melhor Romance Gráfico Original, em 2019.

Os meus heróis sempre foram drogados
Ed Brubaker (argumento)
Sean Philips (desenho)
G. Floy
Portugal, Setembro de 2019
190 x 280 mm, 72 p., cor, capa dura
13,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Excluindo o peso-pesado da ASA (Asterix cuja edição é simulatânea), não é muito normal uma obra ser editada em Portugal no mesmo ano da sua edição no país original.

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    1. Felizmente, já vai acontecendo mais.
      Posso dizer que no ano passado houve 14 edições que cumpriram esse critério.
      Boas leituras!

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