Há
momentos, transformados em imagens
que se tornaram icónicas, que a sociedade tornou icónicas. Há
outras - algumas as mesmas - que para mim, enquanto
leitor (para cada um dos
leitores, para alguns de nós,
pelo menos),
também se tornaram icónicas. Entre elas, acredito, está a que abre
o incontornável A Balada do
Mar Salgado, com um Corto
Maltese - até aí desconhecido - amarrado numa jangada a vogar em
alto mar, em pleno Pacífico. E, quantos de nós - leitores de Pratt
- não conjecturámos
uma ou outra vez - uma e outra
vez, talvez! - como teria ele
chegado ali….
Agora,
finalmente sabemos como foi. Sabemos porque foi. Sabemos o que
aconteceu antes - já sabíamos o que aconteceu depois... E sabemos
de uma forma tão coerente, tão assertiva, tão plausível, que só
podemos agradecer a Diaz Canales e a Rubén
Pellejero.
O
Dia de Tarowean, que dá título ao álbum -
dia dos Mortos noutros sítios, de Todos os Santos entre nós - é
também o Dia das Surpresas. E este álbum é uma sublime surpresa,
um conjunto de pequenas histórias, de paixões e vinganças, de
castigos e coincidências, de encontros tardios e reencontros
condenados ao afastamento, pequenas histórias - já escrevi atrás -
que se vão cruzando, encadeando, sobrepondo, com citações aqui e
ali, que não precisamos de (re)conhecer, mas que nos concedem
uma leitura mais
rica se as identificarmos, e por
entre as quais um certo Corto, dito maltês, vai circulando,
acrescentando aqui, comentando acolá, por vezes como agente
provocador, outras apenas como simples observador. Um rol de
histórias surpreendentes, mórbidas, acalentadoras ou simplesmente
simples (!) que nos levam, página após página, às vezes como num
sonho - e tanto sonho nos deu Pratt - outras como em pesadelo, até
àquele momento pré-determinado - existente desde sempre! - que nos
é finalmente desvendado.
Nota
final 1
No
final do livro, são indicadas as
outras obras dos autores - e de
Pratt - publicadas em
Portugal - pela Arte de Autor e
também por outras editoras. Correcto
e justo, mas raro entre nós.
Nota
final 2
As
cores
de Pellejero
- e da sua filha Sasa - são boas,
agradáveis e ajustadas aos momentos,
mas Corto - também o seu Corto - deve(ria) ser a preto e branco. Em
futuras edições, a Arte de Autor tem de arranjar forma de (nos)
disponibilizar uns quantos exemplares nesse preto e branco imaculado,
para cada um de nós, leitores,
colorir consoante a leitura nos ditar...
Corto
Maltese: Dia de Tarowean
Juan
Diaz Canales (texto)
Rubén
Pellejero (desenho)
Rubén
Pellejero e Sasa (cor)
Arte
de Autor
Portugal,
Outubro de
2019
240
x 305 mm, 80 p.,
cor, capa dura
19,90
€
A cor e o preto e branco é realmente uma questão curiosa. Em espanha a Norma edita uma versão a P/B. Confirmo a excelência do argumento. Desta maneira voltamos a redescobrir toda a obra...
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