26/11/2019

Corto Maltese: Dia de Tarowean

Finalmente sabemos

momentos, transformados em imagens que se tornaram icónicas, que a sociedade tornou icónicas. Há outras - algumas as mesmas - que para mim, enquanto leitor (para cada um dos leitores, para alguns de nós, pelo menos), também se tornaram icónicas. Entre elas, acredito, está a que abre o incontornável A Balada do Mar Salgado, com um Corto Maltese - até aí desconhecido - amarrado numa jangada a vogar em alto mar, em pleno Pacífico. E, quantos de nós - leitores de Pratt - não conjecturámos uma ou outra vez - uma e outra vez, talvez! - como teria ele chegado ali….
Agora, finalmente sabemos como foi. Sabemos porque foi. Sabemos o que aconteceu antes - já sabíamos o que aconteceu depois... E sabemos de uma forma tão coerente, tão assertiva, tão plausível, que só podemos agradecer a Diaz Canales e a Rubén Pellejero.

O Dia de Tarowean, que dá título ao álbum - dia dos Mortos noutros sítios, de Todos os Santos entre nós - é também o Dia das Surpresas. E este álbum é uma sublime surpresa, um conjunto de pequenas histórias, de paixões e vinganças, de castigos e coincidências, de encontros tardios e reencontros condenados ao afastamento, pequenas histórias - já escrevi atrás - que se vão cruzando, encadeando, sobrepondo, com citações aqui e ali, que não precisamos de (re)conhecer, mas que nos concedem uma leitura mais rica se as identificarmos, e por entre as quais um certo Corto, dito maltês, vai circulando, acrescentando aqui, comentando acolá, por vezes como agente provocador, outras apenas como simples observador. Um rol de histórias surpreendentes, mórbidas, acalentadoras ou simplesmente simples (!) que nos levam, página após página, às vezes como num sonho - e tanto sonho nos deu Pratt - outras como em pesadelo, até àquele momento pré-determinado - existente desde sempre! - que nos é finalmente desvendado.

Nota final 1
No final do livro, são indicadas as outras obras dos autores - e de Pratt - publicadas em Portugal - pela Arte de Autor e também por outras editoras. Correcto e justo, mas raro entre nós.

Nota final 2
As cores de Pellejero - e da sua filha Sasa - são boas, agradáveis e ajustadas aos momentos, mas Corto - também o seu Corto - deve(ria) ser a preto e branco. Em futuras edições, a Arte de Autor tem de arranjar forma de (nos) disponibilizar uns quantos exemplares nesse preto e branco imaculado, para cada um de nós, leitores, colorir consoante a leitura nos ditar...

Corto Maltese: Dia de Tarowean
Juan Diaz Canales (texto)
Rubén Pellejero (desenho)
Rubén Pellejero e Sasa (cor)
Arte de Autor
Portugal, Outubro de 2019
240 x 305 mm, 80 p., cor, capa dura
19,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. A cor e o preto e branco é realmente uma questão curiosa. Em espanha a Norma edita uma versão a P/B. Confirmo a excelência do argumento. Desta maneira voltamos a redescobrir toda a obra...

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