12/05/2020

Dylan Dog: O imenso adeus

Intemporal e impessoal



Esta é, possivelmente, uma das mais belas histórias de Dylan Dog. [Escrevi atrás ‘possivelmente’, apenas por uma questão formal, uma vez que só li umas poucas dezenas de histórias do Detective do pesadelo].
Mas, mesmo assim, repito: Esta é, possivelmente, uma das mais belas histórias de Dylan Dog. Aliás, reforço a ideia: esta é uma bela história, mesmo se não fosse protagonizada por Dylan Dog. Porque é uma bela história, ponto final. Intemporal. E impessoal.

Na verdade, acredito que O Imenso Adeus, com um ou outro ajuste de pormenor, poderia ser contado em qualquer tempo. No presente caso, saltita entre o final da adolescência de Dylan - os anos 1970…? - e a contemporaneidade em que foi criada - os anos 1990. Mas - com o mesmo intervalo temporal - poderia igualmente decorrer na II Guerra Mundial, no Velho Oeste, na Revolução Industrial, na Idade Média… e em qualquer continente. Porque é uma bela história.
E, sendo evidente que nela há algumas referências e pormenores que só a Dylan dizem respeito - embora não seja necessário (re)conhecê-los para fruir a narrativa - sem eles, poderíamos substituir o protagonista por muitos outros heróis - ou anti-heróis… Porque é uma bela história.
Uma bela história de Dylan Dog - e este facto aporta algumas questões relevantes, como o tom melancólico de boa parte dela, a indecisão permanente do detective ou a sua insegurança pessoal e com as mulheres, que reforçam o tom adoptado pelos autores.
Saltitando entre as épocas referidas - final da adolescência/idade adulta - e, em paralelo, entre o sonho e a realidade - ou entre o sonho realizado e a realidade sonhada? - narra-nos uma bela história - sim! - de amor. Bela e emocionante. Mas também melancólica e triste. E de um dramatismo que só o final da leitura impõe, nos esfrega na cara - e no coração… - com toda a sua força, embora os indicadores estejam estrategicamente colocados ao longo das pranchas que, também elas, vão alternando entre o traço nego a tinta-da-china do presente e o acizentado das aguarelas no passado.
Bela história de amor, impessoal e intemporal como escrito, O imenso adeus justifica muito do sucesso da personagem Dylan Dog - e também fora do âmbito da BD - pela capacidade camaleónica que tem de protagonizar tanto narrativas de ‘terror puro’ e/ou humor negro quanto histórias sentimentais, dramáticas e profundas. E belas, como esta.

O imenso adeus
Tiziano Sclavi e Mauro Marcheselli (argumento)
Carlo Ambrosini (desenho)
A Seita, Março de 2020
170 x 230 mm, 104 p., pb, capa dura
12,50 €

(imagens disponibilizadas pela editora A Seita; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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