13/05/2020

Maurício Hora: "Não imaginava que a minha vida fosse algo para contar"



Aproveitando a vinda a Portugal de Maurício Hora - André Diniz já vive cá! - para a apresentação da 2.ª edição de Morro da Favela e presença na inauguração da respectiva exposição, com a colaboração da editora Polvo, As Leituras do Pedro colocaram algumas perguntas aos autores, via correio electrónico.
Por razões diversas que não vêm ao caso, entre o envio do questionário, a recepção das respostas e a sua publicação, já passaram mais de três meses, mas isso não invalida nem desactualiza o seu interesse e serve como uma nova chamada de atenção para um livro que merece ser lido - como já foi feito aqui.

As Leituras do Pedro: Como reagiu quando o André Diniz propôs contar uma parte da sua vida em BD?
Maurício Hora: Minha primeira reacção foi surpresa! Como fotógrafo passo a vida atrás da câmara. A maior parte do tempo escondido, não imaginava aparecer assim, não imaginava que a minha vida fosse algo para contar.

As Leituras do Pedro: Qual a sua contribuição para o livro do André?
Maurício Hora: Foi passar o conhecimento sobre o território. Como fotógrafo eu sou um pesquisador, pesquisei bastante a região, por viver lá a vida toda tinha uma compreensão de toda a região, das famílias do local, pois minha família é muito antiga na região. Outro factor que contribuiu também foi o fato do meu pai ter sido uma pessoa bem articulado dentro do morro. Tudo isso contribuiu para que eu tivesse acesso às histórias das famílias. Histórias que foram se perdendo com o tempo.
Em 1994, quando eu começo a me preparar para a comemoração dos 100 anos da Providência, que aconteceu em 1997, na pesquisa eu descubro o nome antigo da favela e toda história por trás do local onde eu passei a vida. Desde então, surge a necessidade de afirmar o local como a primeira favela do mundo. Trazer à tona a pertença outrora esquecido

As Leituras do Pedro: O que sentiu ao ler o livro?
Maurício Hora: Muito emocionado! Ao ler que o André tinha conseguido dar um alinhamento digno para história. Não era a história de tiros no morro. Era a história da primeira favela e da fotografia, contada a partir das memórias de um menino do morro.

As Leituras do Pedro: Qual a importância do livro Morro da Favela em termos pessoais e para a favela de Morro da Providência?
Maurício Hora: Para mim ele dá uma auto-estima e seriedade ao que eu falo e para favela ele dá afirmação e legitimidade à história que a História não conta.


(imagens e foto disponibilizadas pela editora Polvo; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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