02/05/2020

Hoje não há leituras


Diz-se que a realização de um homem passa por três aspectos: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Saltando a questão da árvore, escrever, depois (ou a par) de várias experiências, tenho-o feito regularmente aqui, nas páginas do JN, não livros, mas sobre livros que li e tenho a oportunidade de partilhar…
O filho, nasceu há dias. E é a ti, Daniel, que dedico este texto. Espero que a leitura dos livros que vou destacando, te dê pelo menos tanto prazer como deu a mim, te faça transpor fronteiras, desbravar horizontes e despertar a imaginação, num tempo em que a leitura é, infelizmente, uma actividade cada vez menos praticada.

Foi assim que, há 18 anos, concluí no Jornal de Notícias, em jeito de post scriptum, um texto sobre “La frontiére invisible”, de Schuiten e Peeters.
Entretanto, passaram (a correr) 18 anos. A árvore continua(rá) por plantar, livros (ainda?) não escrevi - mas tive a honra de prefaciar alguns, o privilégio de escrever sobre centenas de outros, no Jornal de Notícias, aqui, em As Leituras do Pedro e um pouco por muitos sítios - e o (primeiro) filho, tu, Daniel, a partir de hoje, já és (oficialmente) adulto - embora já o sejas em muitos aspectos e ocasiões há bastante mais tempo - sem teres deixado de ser, outras tantas, um menino. Um bom menino, um bom filho. (Mais d)o que o filho que sonhei.
Em 18 anos, li-te muitos livros, partilhei outros contigo, alguns foste tu que me emprestaste, me convenceste a espreitar. Juntos ou em separado, viajámos, descobrimos, corremos, saltámos, jogámos, aprendemos, reflectimos, fizemos tanta coisa...
Contigo, também, descobri muito - e recordei tanto! - para além dos livros: o basquetebol - zangavas-te comigo se não o citasse aqui… - as brincadeiras (reinventadas) que tinham sido minhas, os comboios que tantas vezes vimos e com que nos divertimos, o bem-sucedido progresso escolar, já uma longa vida inteira, com muitos passos em frente - e um ou outro tropeção… - ainda com tanto para ser e viver. E idealizar. E concretizar. E ler...
Depois de tantos sonhos e projectos, os teus 18 anos, Daniel, (afinal) vão ser passados em casa, neste tempo de confinamento, de clausura. Da melhor maneira, porque vamos estar juntos, em família, como contigo também aprendi.
Estes estranhos 18 anos - o momento, nunca a sua soma de dias - não serão nunca - não podem ser! - um momento de tristeza, de desânimo ou desilusão; devem ser - contigo, Daniel, vão ser, de certeza! - um ponto de partida para novas vivências conjuntas, novas descobertas, novos sonhos, novas fantasias, novas realizações, para uma (nova) vida inteira, em tudo diferente, com tanto em comum.
E tantos livros para leres!