21/05/2020

Seuls #1 a #3

  
(Ir)realidade assustadora
Há muito na minha longa - cada vez mais longa e interminável? - lista de leituras a fazer, descobri finalmente Seuls graças à disponibilização online - só até 4 de Junho! - dos trêsprimeiros volumes pela Dupuis.
Resultado? Confirmou-se o interesse da série e fiquei ‘carente’ da continuação - sabendo que são já 12 os tomos disponíveis...
Em tempo de pandemia, de confinamento, Seuls, sublinhando algum isolamento, de alguma forma funciona também em sentido contrário. Na verdade, após umas poucas pranchas de introdução ao nosso (agora antigo) mundo ‘normal’, e aos que vão ser os protagonistas - Dodji, Leïla, Camille, Yvan e Terry - num abrir e fechar de olhos - de uma página para outra, da noite para o dia - somos também introduzidos na curiosa situação que serve de base a esta série de Gazzotti e Vehlmann: naquele breve espaço de tempo, entre um pôr e um nascer do sol, todos os adultos do mundo desaparecem, deixando sozinhas - isso, está explicado o título! - as crianças.
Sozinhas num mundo que se revela hostil, sem os ‘domadores’ humanos que o criaram e sustentaram e do qual as comodidades e tudo o que até aí era dado como certo - luz, água, comida, transportes, segurança… - desaparece progressivamente.
Esta situação extrema - que me despertou, em contexto bem diferentes, memórias de Dois anos de férias, de Jules Vernes ou de O Deus das Moscas, de William Golding - leva os protagonistas a descobrirem aptidões, a superarem-se para enfrentar os problemas e para aprenderem a viver juntos, a descobertas (tantas vezes) assustadoras, a crescerem de forma acelerada em nome da sobrevivência
Porque, nesse novo mundo, as armadilhas multiplicam-se, os inimigos também e se há palavras que podem descrevê-lo são medo, insegurança, perplexidade...
E é dessa forma que os autores vão conduzindo o leitor surpreendido e curioso por uma trama que, ao fim de três belos volumes, continua a apresentar (muito) mais perguntas do que respostas, mas a afirmar que se o melhor do ser humano nestas condições pode emergir, o mais certo é que predomine o que de mais negativo ele e a sociedade têm: racismo, machismo, violência (gratuita), o aparecimento de ditadores de pacotilha, a tentativa de substituir o medo pela opressão e a humilhação, a necessidade de perpetuar uma organização já decadente e agora de todo inadequada...
Sem assumir propriamente um tom catastrófico - o desenho ‘linha Spirou’ de Gazzotti funciona como (um razoável) atenuante - Seuls, apesar de considerado pela editora para ‘todos os públicos’ tem diálogos, cenas, sequências de grande violência - física e, principalmente, psicológica - com os protagonistas a enfrentarem um doente mental com um fetiche por facas, bandos de cães selvagens ou um grupo de adolescentes comandados por um líder com tendências neonazis, numa série de acontecimentos que não deixam o leitor sossegar, e de que as diversas capas da série são desde logo claro indicador.

Seuls
#1 La Disparation (2006)
#2 Le Mâitre des Coteaux (2007)
Le Clan du Requin (2008)
Vehlmann (argumento)
Gazzotti (desenho)
Dupuis
218 x 300 mm, 56/48/48 p., cor, capa dura
10,95 €

Nota final
A Dupuis tem igualmente disponível Seuls: Intégrale do Cycle 1, que reúne os primeiros cinco tomos da série, correspondentes ao seu primeiro ciclo, numa edição com 264 páginas, por 35 €.

(imagens disponibilizadas pela editora Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Solos, em castelhano. Deixei de comprar ao terceiro... Não sei como estarão a lançar lá.

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    1. Está a sair em volumes duplos, próxima da edição francesa.
      Boas leituras... desconfinadas!

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  2. Uma série que já tenho "debaixo de olho" há uns anos. Gosto muito do traço do Gazzotti e do seu trabalho em Soda. E na última vez que estive em Bruxelas, por acaso dei conta que as lojas de banda desenhada tinham Seuls em grande destaque, nos escarates. PArece-me que está a ser muito bem sucedida.

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  3. Uma série que já tenho "debaixo de olho" há uns anos. Gosto muito do traço do Gazzotti e do seu trabalho em Soda. E na última vez que estive em Bruxelas, por acaso dei conta que as lojas de banda desenhada tinham Seuls em grande destaque, nos escarates. PArece-me que está a ser muito bem sucedida. Hugo Pinto - Vinheta 2020

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    1. Eu gostei bastante do arranque. E a Dupuis fez esta promoção porque vai lançar um novo volume.
      Boas leituras... desconfinadas!

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