06/07/2020

El Assombroso Spiderman: Las tiras de prensa 1977-1979

Felizes

Reitero uma ideia que já expressei por aqui – por outras palavras – (mais do que) uma vez: somos, possivelmente a geração mais feliz de leitores de banda desenhada. Porque temos uma inigualável oferta contemporânea e porque temos acesso ao que de melhor foi feito aos quadradinhos desde que esta arte existe, em suportes e condições com uma qualidade que os criadores de então nem sequer imaginariam possível.
El Assombroso Spiderman: Las tiras de prensa 1977-1979, recém-editado pela Panini espanhola, é mais um (de muitos) exemplos.

Contexto
Spiderman estreou-se em 1962 na moribunda Amazing Fantasy, no n.º 15 (e último), e foi o êxito imediato que a História narra, regressando meses depois já em revista própria, mas o seu criador, Stan Lee, ambicionava um suporte mais nobre – as tiras diárias de imprensa – e para isso uniu-se a um outro grande nome dos super-heróis, John Romita – o pai – então director artístico da Marvel, para desenvolverem uma proposta neste sentido.
Isto aconteceu no início da década de 1970. Por razões contadas no texto que encerra este volume que hoje destaco, a sugestão da dupla ficou esquecida - literalmente - durante anos, até ser ressuscitada – e aceite! - em 1976 para, finalmente, se estrear a 3 de Janeiro de 1977, logo no duplo formato tira diário (a preto e branco)/prancha dominical (colorida).

Edição
É desta forma que a actual edição da Panini – que segue a original norte-americana da IDW Publishing, de 2015 – publica a obra, alternando cada seis tiras diárias a preto e branco (uma semana, portanto), com uma prancha dominical colorida.
Para além da robusta capa dura, com sobrecapa, que me parece especialmente bem concebida e apelativa, temos um papel de boa gramagem, uma introdução sólida e pormenorizada, sem ser exaustiva, por Bruce Caldwell, editor da obra, uma biografia dos autores e o tal posfácio já referido, de Julián M. Clemente, um dos espanhóis que mais sabe sobre a Marvel e a sua História.
Com duas ou três excepções pontuais, as tiras e pranchas estão muito bem reproduzidas, numa dimensão generosa, sendo de sublinhar a indicação da data original de publicação em cada página.

Estrutura
Em termos de publicação de imprensa, quando a obra se desdobrava em tiras diárias e pranchas dominicais – o que nem sempre acontecia, havendo exemplos isolados de um e outro tipo – havia duas opções: continuidade entre umas e outras ou co-existência independente.
No caso de Spiderman, o modelo seguido é o primeiro, com o relato a ter continuidade entre as tiras diárias – publicadas de segunda a sábado – e as pranchas dominicais – de domingo, obviamente. Sabendo que alguns leitores liam tudo, outros só as tiras e alguns só as pranchas, isso obrigava a alguma ginástica do argumentista, para que todos pudessem ‘receber’ as histórias integralmente. Se isto origina dois problemas – por um lado surgem inevitáveis repetições, por outro há casos em que os leitores das pranchas ficaram sem perceber muito bem o que tinha acontecido entre dois domingos – de uma forma geral a leitura que esta edição integral proporciona faz-se muito bem.

Conteúdo
Para o bem – mais – e para o mal – acharão uns poucos… - Lee e Romita optaram por isolar este Spiderman da imprensa da sua cronologia oficial – então já com 15 anos – apresentando – aos leitores de jornais – um Peter Parker mais próximo do original: estudante, génio científico, não muito à-vontade com as mulheres – mas também longe do completo fracassado que chegou a ser – ‘assediado’ por Mary Jane e próximo de Harry Osborn e Flash Thompson. No elenco regular, surgem ainda uma débil Tia May, o colérico J. J. Jameson e o ponderado Joe Robertson.
Como vilões de serviço, vão desfilando o Dr. Doom, Octopus, Kraven ou Kingpin, que alternam com bandidos anónimos de menor dimensão, em histórias mais ‘humanas’ e, certamente, mais próximas da realidade dos leitores.
Esta proximidade, aliás, é um dos elementos mais fortes nos primeiros meses da tira, conferindo-lhe um invulgar toque de realismo, quer quando o terrorismo surge, mais do que uma vez, como ameaça palpável na ordem do dia, quer quando nas histórias são citados - ou participam mesmo - personalidades reais como Ed Koch, mayor de Nova Iorque, os actores Robert Redford ou Farrah Fawcett (de Charlie’s Angels), Woody Allen, Anwar Sadat, Yasser Arafat, Indira Gandhi ou Henry Kissinger.
O tom geral surge agora, passados quase 35 anos sob uma aura de ingenuidade nostálgica o que – para um não-fã-Marvel, como eu – é uma boa notícia, que melhora por me recordar momentos da leitura que fiz d(est)as tiras diárias nas páginas do Jornal de Notícias, na adolescência.

El Assombroso Spiderman: Las tiras de prensa 1977-1979
Volumen 1
Stan Lee (argumento)
John Romita (desenho)
Panini
Espanha, 18 de Junho de 2020
216 x 280 mm, 336 p., pb/cor, capa dura com sobrecapa
39,95 €

(capa disponibilizada pela Panini Comics; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Já nem me recordava que o JN teve tiras de Comics...
    Assim ao repente lembro-me que tinha quatro tiras de herois diferentes. Lembro-me bem do Mandrake também. Também me lembro que me irritava de maneira ler uma tira por dia e que ficava sempre pendurado e quando podia lia 5 jornais de uma vez. Mas talvez por esse facto nunca fiquei fã. Mas já o Calvin e Hobbes no Público até as recortava e coleccionava. :)

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    1. Eu cheguei a coleccionar as do JN: o Mandrake, sim, e também X9, Dr. Kildare, Dick, o goleador...
      Boas leituras!

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  2. ah que maravilha, ainda me recordo bem das tiras no Diário Popular que o meu Pai comprava e daquela imagem do Homem-Aranha a levantar o autocarro, senão me engano ao fim de semana eram a cores. Que nostalgia das minhas férias de verão :) Já vi isto à venda ma BDMania em PT-BR.

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    1. No Jornal de Notícias eram só as tiras diárias e sempre a preto e branco.
      Cheguei a ter essa edição brasileira da Panini: é mais antiga, toda a preto e branco e sensivelmente metade do tamanho desta mais actual...
      Boas leituras!

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