03/08/2020

La Espada Salvaje de Conan #1

A história das histórias…





Não sou especialista em Conan, longe disso, creio até que tenho um conhecimento (bastante) limitado - às suas primeiras histórias, com múltiplas releituras (!) em diferentes épocas, em diferentes edições - do seu percurso nos quadradinhos mas, apesar disso, houve algumas delas que ficaram profundamente marcadas na minha memória e fazem parte - importante - da minha formação de leitor de BD.
Comprovei-o - novamente - nesta primeira compilação (espanhola) das bandas desenhadas do cimério publicadas na revista Savage Tales.
Em relação a outra compilação recente - Conan, el Bárbaro - a actual apresenta duas diferenças, fundamentais e marcantes.
A primeira, a publicação das histórias no preto e branco original, tal como tinham sido imaginadas e não com o (fraco) colorido em que a maior parte delas viu a luz pela primeira vez. A par da boa impressão (da maior parte) das pranchas, isso permite uma melhor apreciação da arte dos vários desenhadores aqui representados: Barry Windsor-Smith, Gil Kane, Neal Adams, Jim Starlin, Al Milgrom… Um autêntico catálogo de luxo!
As razões para este regresso a obras já publicadas, são explicada nos vários textos - também provenientes de Savage Tales - em que Roy Thomas vai narrando as vicissitudes que este título sofreu até se impor e ganhar o seu lugar nas bancas e quiosques norte-americanos na década de 1970. Esses textos - a tal história das histórias que evoco no sub-título acima - são um dos pontos de interesse desta compilação, pois permitem uma larga espreitadela aos meandros da edição de comics nos Estados Unidos naquela época - e aos da Marvel em particular.
O segundo motivo de interesse, é poder apreciar as obras tal como foram criadas, sem os “retoques” do lápis azul censório, viesse ele dos responsáveis da Comics Code Authority ou dos próprios editores da Marvel.
Nudez, violência explícita - e tanta, bem mais forte, de uma e outra, bem implícitas - surgem aqui aos olhos dos leitores actuais - sem o peso que teriam há cinquenta anos, sei-o bem - mas contribuem, mesmo assim, para dar uma outra dimensão e força narrativa ao bárbaro cimério.

e o meu Conan
Já o devo ter escrito por aqui, foi no Mundo de Aventuras, no final da minha adolescência, que descobri a versão aos quadradinhos de Conan, baseado ou livremente inspirado na personagem dos romances dos anos 1930 de Robert E. Howard, e pela diferença que marcava em relação às outras séries da revista - de uma forma geral mais clássicas e contemporâneas - pela predisposição que a minha idade oferecia ou - apenas e tão só - pela sua qualidade intrínseca, a verdade é que houve umas quantas histórias que me marcaram profundamente.
Este volume, comporta três delas e reencontrá-las foi não só uma viagem a um passado feliz, mas também um regresso a um mundo de fantasia povoado de monstros, heróis, vilões e belas mulheres - é curioso como, mesmo nos povos mais bárbaros e animalescos, as mulheres são sempre belas, sensuais, femininas… - que mantém toda a sua capacidade de sedução.
A primeira delas, que abre o livro, é The Frost-Giants Daughter, onde se destaca a sensualidade da protagonista e a dualidade sonho/realidade que não surge muitas vezes em Conan.
A segunda, é Night of Dark God, novamente assente numa intriga dupla, a busca desesperada de Conan pela sua paixão de adolescência, raptada por antepassados dos vickings (...?) a par da religiosidade que perpassa por todo o relato e tem por objecto o estranho deus negro que tantos desejam e buscam.
Finalmente, a terceira história é The Secret of Skull River - e desculpem todos os que considerarem heréticas as palavras que vão ler a seguir, mas é este o meu Conan. É esta sua imagem, criada por Jim Starlin e Al Milgrom, que me vem à mente quando se fala dos Conan dos quadradinhos. Um bárbaro que sem dúvida o parece, absurdamente musculado, imponente na sua força, cultor da violência, mas também com uma (deslocada?) sensibilidade, respeitador dos inimigos valorosos e amante de belas mulheres. Um bárbaro em que contrasta a fúria incontida e mesmo um lado profundamente selvagem com arremedos sólidos de civilização e compreensão, com uma espada para alugar - por causas que considera válidas - e como sempre focado apenas no seu objectivo final.
Ao reler esta história, violenta, com uma passagem extremamente sensual, com resquícios ecológicos e denúncias de poluição, houve imagens de uma força imensa que surgiram de novo perante os meus olhos: o mendigo cego, o primeiro ataque do gigante, a caveira no fundo dos olhos dos habitantes da localidade perdida na foz do rio, a meia dúzia - literal - de vinhetas que expressam todo a sedução e criação de desejo pela filha do chefe... podia continuar, o que é significativo numa história com apenas 20 pranchas... E, claro, o inesperado final!
E ainda porque, mesmo numa versão espanhola, nesta nova leitura, as palavras de uma força espantosa, que me vieram uma e outra vez à mente eram em português - numa versão que acredito dever-se a Jorge Magalhães...

La Espada Salvaje de Conan #1
Clavos rojos y otros relatos
Inclui conteúdos de Savage Tales #1-#5 (EUA)
Roy Thomas (argumento)
Barry Windsor-Smith, Gil Kane, Neal Adams, Jim Starlin, Al Milgrom (desenho)
Panini Cómics
Espanha, Julho de 2020
205 x 275 mm, 240 pp., pb, capa dura
ISBN: 9788413345314
20,00 €

(capa disponibilizada pela Panini; pranchas da edição norte-americana; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Bom dia, caro Pedro.
    Como é um dos meus Heróis preferidos, principalmente desenhados por Gil Kane, Barry Smith e o meu preferido John Buscema.
    Onde se pode comprar aqui no Norte, e aqui na Galiza, esta Revista?
    Boas leitura e Férias
    Auros Faber

    ResponderEliminar
  2. Bom dia, caro Pedro.
    Como é um dos meus Heróis preferidos, principalmente desenhados por Gil Kane, Barry Smith e o meu preferido John Buscema.
    Onde se pode comprar aqui no Norte, e aqui na Galiza, esta Revista?
    Boas leitura e Férias
    Auros Faber

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    Respostas
    1. É um livro - um belo livro! - e não uma revista.
      Qualquer livraria especializada espanhola o tem. Na Galiza, em Vigo, aconselho a livraria Banda Deseñada.
      Boas leituras

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