27/08/2020

Stumptown

BD e TV

Se em tempos eram notícia as interacções - num e noutro sentido - entre BD e TV - e entre BD e cinema… - actualmente são tão numerosas que já quase passam despercebidas.
Mesmo quando a edição - inicial - aos quadradinhos (datada de 2009) surge no mercado - está agora em bancas e quiosques nacionais - durante o tempo de exibição da (mais recente) série televisiva, desta vez na Fox Portugal.
É por isso, de realçar a tentativa de aproveitamento comercial - e mediático por parte da G. Floy sem que esta referência tenha a intenção de questionar ou menorizar a obra (original) em si, um policial depressivo de leitura agradável - mesmo que assim escrito soe algo mal!
Aproveito já agora para referir que comecei a ver a série sabendo antecipadamente da (então) próxima edição da BD e que, se não dei por mal empregue o meu tempo, também não fiquei fã babado da detective Dex Parios, assumida no pequeno ecrã por Coby Smulders.
Mas esse factor leva-me ao próximo ângulo de aproximação a Stumptown.

Comparações
No caso de adaptações entre meios, é inevitável fazer comparações entre o original e o produto derivado. O fundamental é sempre que cada um funcione - sem traições ao espírito do protótipo e nisso Stumptown cumpre integralmente.
Isso não evita que haja entre as duas versões diferenças marcantes, desde logo ao nível de duas personagens marcantes. Grey, o barman e ex-presidiário, é uma delas, mais maduro e equilibrado na série, ainda (quase) juvenil na BD. A outra é a detective da polícia Hofman, nos quadradinhos uma mulher, que a TV transformou em homem. Por vias da relação romântica que na série televisiva vai desenvolver com Parios? Não sei responder, porque n(est)a génese da BD, essa relação (ainda?) não existe.
Ambos - juntamente com o irmão de Dex (com trissomia 21) - têm (ainda?) pouco protagonismo neste episódio de estreia - cuja versão televisiva foi bastante fiel em termos narrativos, de conteúdo e de desenvolvimento.

A história
Isso leva-nos ao ponto seguinte, a base narrativa de Stumptown. A sua protagonista é Dex Parios, veterana do exército - com os inevitáveis traumas associados à sua passagem pelo Afeganistão - num momento de viragem da sua vida, em que decide recomeçar como detective privada. Inconstante, com dificuldades de relacionamento e alcoólica, encontra algum equilíbrio na relação com o irmão adolescente, de quem tomou conta após serem abandonados pelos pais. Alguns amigos fiéis - Grey, Hofman - garantem-lhe portos de abrigo quando necessário.
A morte de Benny, ex-namorado, numa emboscada no Afeganistão, pela qual se sente responsável, é outro dos seus fantasmas que complica o relacionamento nem sempre fácil - soa a pretensiosismo e é-o - com a importante comunidade índia local - que até está na origem deste seu primeiro caso.

Belíssimo título
Um primeiro caso com um belíssimo título - daqueles capazes de, por si só, me levarem à leitura: O caso da rapariga que levou o champô (mas deixou o carro).
A desaparecida no caso é uma jovem índia e o que parecia uma fuga com um (pouco recomendável) namorado, revelará ramificações mais complexas e servirá de cartão de visita e de apresentação a uma Dex Parios, ainda à procura do seu lugar na nova profissão.
A história é assumidamente lenta, é necessário intuir uma parte do seu enredo e o traço duro e agreste de Matthew Southworth representa de forma conseguida o ambiente decadente dos subúrbios em que ela decorre e demarca o tom policial negro e depressivo que nela prevalece.
Tudo numa edição com a qualidade a que a G. Floy nos habituou, cujos extras - que incluem uma BD curta de 8 páginas - fogem, de forma consistente, aos habituais esboços e desenhos preparatórios.

Stumptown
Greg Rucka (argumento)
Mathew Southworth (desenho)
G. Floy
Portugal, Agosto 2020
180 x 265 mm, 160 p., cor, capa dura
14,90 €

(imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

6 comentários:

  1. O aproveitamento mediático podia ter sido feito com a utilização de autocolantes, não imprimindo na capa!

    Isto é bom é para Paperbacks do Stephen King!

    Personalidades à parte a personagem da Cobie Smulders é praticamente uma prostituta em comparação com a do comic.

    Não sei o que é que o Rucka anda a fazer mas as adaptações dele em cinema e TV andam pelas ruas da amargura, primeiro o Old Guard, agora este, espero que não fornique o Lazarus também.

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  2. @Superbeasto Eu ia precisamente comentar o mesmo... aparentemente a G. Floy e Levoir devem ter o mesmo gestor de marketing. Auxiliares de divulgação/promoção devem ser desconhecidos por aquelas bandas (refiro-me a autocolantes e/ou cintas de papel...)

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    1. Por questões de custo, obviamente. Podem ser proibitivos nas pequenas tiragens que são típicas da BD.

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  3. Basicamente é a premissa do pilot da serie.tenho que ver se a bd é melhor,espero que Rucka seja melhor aqui que em Wolverine o Mulher Maravilha.

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    1. Hás-de reparar comparando com uma e outra que ao contrário do comic ela no Piloto está, premissas à parte, está sempre com fome de pissa, numa atitude mais sexualizada na série do que no comic.

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  4. Na série tentam torná-la numa Jessica Jones.

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