Crescimento, apesar da pandemia
No final de um ano muito complicado a diversos níveis - devido à pandemia de Covid 19 - a principal ilação que se pode tirar da edição de BD em Portugal é que houve um crescimento.
Os números, na sua crueza, e sob diversos prismas, para ver já a seguir.
Nota prévia
Os números que se seguem resultam de uma contabilidade feita por As Leituras do Pedro e José de Freitas e da sua comparação - e ajuste - com as listagens do site Bandas Desenhadas e do blog Notas Bedéfilas.
Existem algumas divergências entre os que são aqui apresentados e os das duas fontes referidas, pois estes apenas contabilizam edições com efectiva distribuição comercial. De fora, ficam, por isso, as edições de autor, os fanzines, os prozines, as edições institucionais de distribuição limitada - de que apenas contabilizei uma dúzia de edições.
A listagem, actualizada mensalmente, não está isenta de lacunas e é natural que possa faltar uma ou outra edição. Podem vê-la completa no final desta entrada.
As edições
Em 2020 foram lançadas em Portugal 237 edições de BD. Um aumento de 7 edições em relação a 2019, que representam uma subida de 3,0 %.
Estes números apontam para uma aparente estabilização do mercado, apesar da pandemia, mas possivelmente esta apenas se fará sentir em cheio em 2021 e 2022... pelo menos.
Claro que olhar apenas para os valores absolutos é enganador, porque a(lguma)s tiragens são desconhecidas, tal como (quase) todas as vendas.
Para além destas edições, há ainda que considerar 60 volumes de colecções de bancas importadas: Colecção Definitiva do Homem-Aranha (12 edições), Os Heróis mais Poderosos da Marvel (24 edições) e Príncipe Valente (24 edições). Os volumes da Colecção Integral Astérix, sendo esta editada para Portugal e não importada do Brasil, estão incluídos na contabilidade geral.
Editoras
As 237 edições contabilizadas, foram lançadas por 38 editoras diferentes. Mais 4 que em 2019 e mais 5 que no ano anterior. Uma dúzia de editoras lançaram 5 ou mais títulos, correspondentes a 85 % do total de livros editados. As restantes 26 editoras, cuja produção corresponde a 15 % das edições de 2020, lançaram 3 ou menos títulos.
As 12 editoras inicialmente citadas, podem ser divididas em três grupos, de acordo com o número de lançamentos:
Grandes editoras (mais de 20 edições); +1
136 edições; 57,4 % do total; +17 que em 2019 (1)
- Levoir - 37 edições; 16,7 %; -1
ASA: 26 edições; 11 %; +3
G. Floy: 26 edições; 11 %; -9
Salvat: 26 ediçõs; 11 %; +26
Devir: 21 edições; 8,9 %; -4
(1) Este valor é obtido em comparação com os números de edição das ‘grandes editoras’ em 2019.
Em 2019 este grupo só incluía quatro editoras; a novidade - que deve ser vista como 'sazonal' - é a Salvat.
O dado mais relevante é a quebra da G. Floy, na ordem dos 25 %.
Médias editoras (entre 10 e 20 edições); -3
27,5 edições; 11,6 % do total; -21,5 que em 2019 (2)
Nuvem de Letras: 14 edições; 5,9 %; +11
Arte de Autor; 13,5 edições; 5,7 %; -0,5 (3)
(2) Este valor é obtido em comparação com os números de edição das ‘médias editoras’ em 2019.
(3) A 'meia' edição da Arte de Autor corresponde a uma co-edição com A Seita.
Em relação ao ano anterior, saíram desta 'divisão' a Escorpião Azul, a Gradiva e a Polvo, tendo entrado a Nuvem de Letras. O 'emagrecimento' deste grupo, sem efectiva contrapartida no que se segue, é preocupante, pois reduz o número de editoras de média dimensão que asseguram um título novo (quase) todos os meses.
Pequenas editoras (entre 5 e 9 edições); +1
37,5 edições; 15,8 % do total; +11,5 que em 2019 (4)
Ala dos Livros: 9 edições; 3,8 %; +3
Escorpião Azul: 8 edições; 3,4 %; -4
Gradiva: 8 edições; 3,4 %; -5
A Seita - 7,5 edições; 3,2 %; -0,5 (5)
Oficina do Livro: 5 edições; 2,1 %; +4
(4) Este valor é obtido em comparação com os números de edição das ‘pequenas editoras’ em 2019.
(5) A 'meia' edição de A seita corresponde a uma co-edição com a Arte de Autor.
Em relação ao ano anterior, caíram para esta 'divisão' a Escorpião Azul e a Gradiva, entrou a Oficina do Livro e saíram a Chili com Carne e a Planeta.
Outras editoras
36 edições; 15 % do total; +4 que em 2019
Uma nota relevante a encerrar este capítulo: o desaparecimento destes grupos da Polvo (queda de 11 edições em 2019, para 2 em 2020) e da Planeta (7/1).
Calendarização
Em termos de lançamentos, a ausência de festivais esvaziou o segundo trimestre (Festival de BD de Beja) tendo os outros mantido o perfil dos últimos anos.
Em termos mensais, o número de edições variou entre as 9 e as 37, sendo de realçar a boa entrada de Janeiro/Fevereiro.
Distribuição
A livraria continua a ser o local privilegiado de venda de BD e quase todas as edições aqui contabilizadas passaram por lá; a excepção é a Colecção Integral Astérix.
Assim, das 237 edições de 2020, 45 % tiveram distribuição de banca, sendo que destas 17 % foram lançadas com o jornal Público, sendo este último valor ligeiramente inferior ao do ano transacto (45 edições em 2019 contra apenas 40 em 2020).
Origem
No que diz respeito ao país de origem das obras de BD publicadas, este ano a zona franco-belga ultrapassou os Estados Unidos, o que não acontecia pelo menos desde 2017 - quando As Leituras do Pedro iniciaram estes balanços - quando a proporção era de 3:1, favorável aos EUA.
Este ano as obras originárias da França e da Bélgica quase duplicaram, tendo as obras americanas diminuído cerca de 16 %.
Com excepção de Itália, todos os outros mercados forneceram menos obras aos editores portugueses do que no ano precedente. As bandas desenhadas de origem portuguesa mantiveram a tendência de diminuição já registada em 2019, com nova quebra de 22 %.
Data original de publicação
No que diz respeito à data original de publicação, realce para o facto de 53 obras serem de 2020 e 107 datarem dos últimos 5 anos. Na prática, isso significa que dois terços dos livros de BD editados foram lançados depois de 2016, ou seja, que os leitores portugueses têm acesso a obras recentes.
No extremo oposto, 42 das edições contabilizavam 20 ou mais anos. Estes números são similares aos do ano passado.
A Listagem
Segue-se a listagem de todas as edições de BD editadas em 2020 em Portugal, ordenada por editora/título.
Nunca houve tanta procura por escapismo(S) os Streamings também subiram muito.
ResponderEliminar"Os volumes da Colecção Integral Astérix"
Só aqui não vão para livrarias especializadas,ao contrario do Uk,Brasil,States!!
Foscas!!!! Mais Astérix????
ResponderEliminarManuel Caldas é um editor, não uma empresa editora, mas é de Portugal, produz e publica em Portugal, ainda que principalmente para exportação; está colectado nas finanças de Portugal e as suas edições têm um ISBN atribuído pela respectiva agência de Portugal. E esta, hein?
ResponderEliminarEstava convencido que as edições eram uruguaias e espanholas, nunca me apercebi que o ISBN fosse português. De qualquer forma, elas não estão fisicamente à venda em livrarias em Portugal, tanto quanto sei.
EliminarMas também considero que é uma questão que vale a pena repensar.
Boas leituras!
Sim, tem razão, a edição do PV é uruguaia e o ISBN é de lá. Mas agora levanta-se outro problema: não está à venda em nenhuma livraria de NENHUM país. Onde fica Manuel Caldas? É do Uruguai, de Espanha ou de Portugal?
ResponderEliminarO Manuel Caldas é um GRANDE editor cujas edições mereciam estar em todas as livrarias do mundo, por isso são sempre divulgadas aqui em As Leituras do Pedro.
EliminarMas, como não estão à venda em Portugal em espaço físico, não entram nesta análise, tal como acontece - a um nível diferente, com edições de autor ou institucionais...
Boas leituras!