15/01/2021

O Neto do Homem mais Sábio

Em espírito


Confesso que, à partida, este não era dos títulos da Colecção Novela Gráfica 2020 que mais me seduzia - embora percebendo que, sendo uma biografia de José Saramago, deveria ser um dos mais mediáticos e com potencial para chegar a mais leitores fora do círculo habitual da BD, mesmo para lá dos habituais compradores das novelas gráficas.

A descoberta das pranchas, acentuou a minha desconfiança, embora esse factor fosse atenuado pelas reacções positivas de que fui tendo conhecimento.

Uma vez feita a leitura, a sua inclusão nesta colecção justifica-se para lá da sua temática - embora esteja intimamente ligada a ela.

Vamos por partes. O género biográfico é sempre uma armadilha em potencial. A facilidade de cair na enumeração de datas e acontecimentos, retirando ritmo e dinamismo à narrativa, acontece com frequência.

Tomás Guerrero, ultrapassou esta questão transformando o livro numa conversa, sem obrigações cronológicas, entre duas pessoas que inspiraram o escritor: o seu avô e Fernando Pessoa. Para além disso, incluiu com frequência, mas bem inseridas no contexto, citações de Saramago que dão consistência ao conjunto.

Depois, não sendo um desenhador virtuoso - e até com algumas dificuldades no tratamento do rosto humano - soube contornar esse factor com uma planificação bastante aberta e diversificada, quase sempre afastada da tradicional divisão da página em tiras e vinhetas, e trabalhar de forma que se pode classificar como barroca o conjunto, com um ganho evidente de equilíbrio gráfico.

Mas, para mim, o seu grande mérito, aquilo que senti na leitura do livro, foi ter sido capaz de captar o espírito original (da escrita) de Saramago e, de alguma forma, ter conseguido transmiti-lo ao longo de O Neto do Homem mais Sábio.

O Neto do Homem mais Sábio
Colecção Novela Gráfica 2020
Tomás Guerrero
Prefácio de Valter Hugo Mãe
Levoir
Distribuído com o jornal Público a 5 de Setembro de 2020
195 x 280 mm, 152 p., cor, capa dura
10,90

(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. é um livro chato, muito chato! daqueles que só dá mau nome à BD...

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    1. Sem dúvida, a arte é chata, o tema é chato, é banal.

      É material para um ensaio, não para uma BD.

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