Em espírito
Confesso que, à partida, este não era dos títulos da Colecção Novela Gráfica 2020 que mais me seduzia - embora percebendo que, sendo uma biografia de José Saramago, deveria ser um dos mais mediáticos e com potencial para chegar a mais leitores fora do círculo habitual da BD, mesmo para lá dos habituais compradores das novelas gráficas.
A descoberta das pranchas, acentuou a minha desconfiança, embora esse factor fosse atenuado pelas reacções positivas de que fui tendo conhecimento.
Uma vez feita a leitura, a sua inclusão nesta colecção justifica-se para lá da sua temática - embora esteja intimamente ligada a ela.
Vamos por partes. O género biográfico é sempre uma armadilha em potencial. A facilidade de cair na enumeração de datas e acontecimentos, retirando ritmo e dinamismo à narrativa, acontece com frequência.
Tomás Guerrero, ultrapassou esta questão transformando o livro numa conversa, sem obrigações cronológicas, entre duas pessoas que inspiraram o escritor: o seu avô e Fernando Pessoa. Para além disso, incluiu com frequência, mas bem inseridas no contexto, citações de Saramago que dão consistência ao conjunto.
Depois, não sendo um desenhador virtuoso - e até com algumas dificuldades no tratamento do rosto humano - soube contornar esse factor com uma planificação bastante aberta e diversificada, quase sempre afastada da tradicional divisão da página em tiras e vinhetas, e trabalhar de forma que se pode classificar como barroca o conjunto, com um ganho evidente de equilíbrio gráfico.
Mas, para mim, o seu grande mérito, aquilo que senti na leitura do livro, foi ter sido capaz de captar o espírito original (da escrita) de Saramago e, de alguma forma, ter conseguido transmiti-lo ao longo de O Neto do Homem mais Sábio.
O
Neto do Homem mais Sábio
Colecção
Novela Gráfica 2020
Tomás
Guerrero
Prefácio
de Valter Hugo Mãe
Levoir
Distribuído
com o jornal Público a 5 de Setembro de 2020
195
x 280 mm, 152 p., cor, capa dura
10,90
€
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
é um livro chato, muito chato! daqueles que só dá mau nome à BD...
ResponderEliminarSem dúvida, a arte é chata, o tema é chato, é banal.
EliminarÉ material para um ensaio, não para uma BD.