Para todos os efeitos, 2020 será sempre o (primeiro?) ano da pandemia e, inevitavelmente, isso arrastará consigo uma imagem e uma carga profundamente negativas.
Mas, será que o ano que há poucos dias terminou, foi mesmo um annus horribilis para a banda desenhada?
Por muita vontade que houvesse de o negar, a resposta terá de ser sim. Mas (talvez) com alguns sinais de esperança.
Globalmente, 2020 ficou tristemente marcado pela partida de um número invulgarmente elevado de grandes nomes da BD: Claire Bretécher, René Follet, Albert Uderzo, Juan Giménez, Dennis O'Neil, André-Paul Duchâteau, Quino, Jean-Pierre Autheman ou Richard Corben são os mais destacados entre quatro dezenas (!) que podem conferir na listagem - muito franco-belga... - do Actua BD onde, inevitavelmente, estão ausentes Jorge Machado-Dias e José Garcês.
Entre nós, este foi um ano sem festivais. O Coimbra BD, no limite do pré-confinamento, realizou-se mas já sem o seu cabeça de cartaz, o italiano Carlo Ambrosini. Depois, foram anulados a Mostra do Clube Tex (já com autores anunciados), em Anadia, o Festival de BD de Beja, a Comic Con Portugal e o Amadora BD (que teve uma mini-versão online que ficou bastante aquém do desejável)... bem como outros eventos de menor dimensão.
Sabendo da importância destes festivais para a mediatização da BD e, principalmente, para as vendas das edições nacionais - em especial em Beja e na Amadora - percebe-se que a sua não realização causou um rombo sensível em quem edita (só...) BD no nosso país.
Curiosamente, o campo da edição funcionou em contra-ciclo com o panorama geral. O número de edições até cresceu ligeiramente - cerca de 3% - com uma qualidade global muito elevada e uma aposta muito diversificada, a aparente solidez das principais editoras e o aparecimento de muitas edições 'avulso'. Um tema a esmiuçar em breve, aqui em As Leituras do Pedro.
Como não há bela sem senão, possivelmente alguns destes números devem-se a contratos já assinados e a obras já impressas e os efeitos da pandemia só se farão sentir em/a partir de 2021, devido à redução de vendas, não só em festivais como apontado acima, mas igualmente pelo fecho das livrarias durante o confinamento e à redução do poder de compra de muitos. Factores só parcialmente compensados pela maior procura online.
Em termos de edição, houve também um (para já pequeno) passo em frente - para tentar contrariar os efeitos nefastos apontados...? - com o aumento das promoções associadas aos livros: ex-libris, venda/oferta de pranchas, descontos para quantidade...
Não pela qualidade das obras em si - globalmente média/baixa - mas pelo alcance que pode ter, pois não sendo direccionada para os habituais leitores de banda desenhada, é uma colecção apontada aos mais jovens - pré-adolescentes, adolescentes - que pode criar novos leitores. As vendas efectivas, já com volumes esgotados e em reimpressão, parece confirmar a aposta feita, e as duas adaptações de obras portuguesas - Os Maias e Amor de Perdição - a lançar este ano, deverão dar-lhe novo impulso e grande mediatização.
Como sempre, será o futuro a das as respostas efectivas, mas As Leituras do Pedro estarão atentas, para a sua divulgação e análise atempadas.
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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