Não sei quando conheci o Machado-Dias. O mais certo é que tenha sido nalgum AmadoraBD . entáo ainda só Festival de BD da Amadora.
Sei
que nos encontramos várias vezes ao longo dos anos - mais outras por
telefone… - e que aprendi a respeitar o seu (proverbial) mau
feitio, sim, a sua paixão pela História de Portugal, claro, mas
também o seu lado sonhador. Porque o Machado-Dias sonhava alto de
mais para o público de BD que havia em Portugal.
Nasceu
assim a pedranocharco,
a sua editora, onde couberam as suas Aventuras [históricas] de Paio
Peres, a escrita sui
generis
do
José Carlos Fernandes, o manga do
Hugo Teixeira, a BD de acção do Zeu, o humor do Álvaro, o
Portugal contemporâneo (e terrorista) deo Filipe Pina e do Filipe
Andrade, a
iconoclastia de Fernando Relvas…
Possivelmente antes do tempo certo - seja lá o que isto
signifique...
E
nasceu, principalmente, o seu BDJornal,
uma publicação de informação e análise de banda desenhada, de
venda em quiosque, com colaboradores pagos, no início um verdadeiro
jornal - no tamanho e na forma - depois mais próximo do conceito
revista, pelo qual batalhou afincadamente, duramente, arduamente, ao
longo de semanas, meses, anos, até a realidade o derrotar - mas,
acredito, sem o convencer.
Há
alguns meses - já não sei quantos, sei que na altura o tempo ainda
passava a correr - telefonou-me. Pelo meio da conversa disse que
tinha um cancro, que ‘estava a tratar dele’, que o pior já tinha
passado, que devia vir ao Porto em breve - para lançar um livro,
fora da BD,
Últimos
no Leste de Angola - Na retirada do Exército Português em 1975
(Chiado
Books, 2017)
-
e queria estar comigo.
Imaginei
mais um projecto ‘louco’, mais alguma edição que extravasava a
pequenez - de duplo sentido - do nosso meio, mas nunca nos chegamos a
encontrar… Depois, falhei dois Amadora BD seguidos, agora já é
tarde…
Machado-Dias,
onde estiveres, espero que nesse paraíso misto de
autores/editores/sonhadores, consigas concretizar o muito que por
aqui não te deixaram fazer.
Até
sempre!
(foto retiradas da página de Facebook da Tertúlia BD de Lisboa e do Tex Willer Blog; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Sem comentários:
Enviar um comentário