Resumo
Ultrapassado
o degredo a que foi condenado no final da Segunda Época, Mattéo
está de volta à pequena vila
de Collioure. Está de férias - pagas, novidade de então! - com
Paulin, a quem a participação na Primeira Grande Guerra deixou
cego, a bela enfermeira Amélie e Augustin, companheiro desta última.
Com a Guerra Civil espanhola a redobrar de intensidade, é altura
para reencontros diversos - com Juliette à cabeça - para algumas
surpresas e adiar mais uma vez decisões.
Gibrat continua a dar lugar à pequena História
- como a
designei aquando da análise das Primeira e Segunda épocas (os dois primeiros álbuns da série).
Fá-lo ao correr dos dias, criando
cumplicidades, espicaçando inimizades e desavenças, extremando as
posições políticas de quem prefere a esquerda e de quem defende a
direita, numa época em que Franco, Hitler, Mussolini (ainda só)
assombravam o mundo, provocando/evocando
paixões - condenadas à partida porque a razão e o coração
raramente estão de acordo.
Como
até aqui - alguns dirão, sem que nada aconteça, quando tanto
estava a acontecer - revela-se um mestre titereiro, puxando aqui um
fio, soltando outro acolá, provocando coincidências antecipadamente
destinadas, saboreando os choques, as provocações, os encontros e
desencontros, o extravasar de paixões a que obriga as suas
personagens.
Menos
centrado na História, mas talvez mais rico porque o leque de
personagens se alarga um pouco e o hiato temporal que abarca é
curto, esta Terceira Época continua a fazer passar perante os nossos
olhos pequenos momentos da grande História europeia, ricos em
humanidade, e faz-nos criar laços mais fortes com os seus
participantes.
A
reter
-
A desenvoltura narrativa de Gibrat;
-
A forma - ideal? - de contar/contextualizar a História.
-
E o belo traço do autor e as suas belas mulheres…
Menos
conseguido
-
...mesmo que o tempo - mais de 20 anos (reais) entre a acção do
álbum anterior e a deste - não tenha deixado marcas, nem em
Juliette nem em Émilie; privilégios das mulheres de papel que os
leitores (afinal) agradecem…
Editar
ou não editar
A
Ala dos Livros decidiu retomar uma série interrompida pela Vitamina
BD há uma década. É uma decisão que só a ela cabe, cujas explicações foram dadas aqui, mas que não deixa de ser arriscada.
Quem
tem os dois primeiros tomos agradece encarecidamente; quem não tem,
de uma forma geral crítica e questiona. Todas as posições são
igualmente válidas, cada um gere como quer ou pode a sua carteira -
editor e leitores - e a sua biblioteca.
A
pergunta fundamental é: consegue-se ler - e entender - este álbum
sem conhecer os outros dois? Confesso que não consigo dar uma resposta absoluta - afinal, eu tinha lido, muito recentemente, os dois outros livros e por isso não consegui o distanciamento necessário. Acredito que dará para perceber a maior parte da história, embora possa haver algumas ligações e referências - algumas relevantes
- que vão passar ao lado do novo leitor. Teria andado melhor a Ala
dos Livros se tivesse incluído neste álbum um resumo que o ajudasse
a contextualizar.
E,
digo eu, numa edição com a alta qualidade gráfica a que a editora
já nos habituou, teria sido bom se tivesse mantido o sentido do
texto na lombada, tendo em atenção que este álbum, em muitos
casos, irá fazer companhia aos outros dois anteriores na
prateleira...
Mattéo
Terceira
Época (Agosto
de 1936)
Jean-Pierre Gibrat
Ala
dos Livros
Portugal, 2020
235 x 310
mm, 80 p., cor, capa dura
21,00 €
(imagens
disponibilizadas pela editora Ala
dos Livros;
clicar
nelas
para
as aproveitar em toda a sua extensão)
Até que enfim a terceira época daquela que para mim é uma das melhores BD editadas em Portugal nos últimos anos. Espero que toda a serie seja editada a qual me parece já ir na 5ª época. Obrigado. Cumprimentos. Antonio Vasques
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