Conheci
o José Garcês há uns 30 anos, já era - há muito! - um dos
grandes senhores da banda desenhada portuguesa
e cruzei-me com ele muitas vezes, no Porto, primeiro, na Amadora,
mais tarde.
Autor
de personalidade forte - tal como as suas convicções, entre as
quais a defesa intransigente das temáticas nacionais como forma de
afirmação interna dos autores portugueses - nunca abdicou dessa
forma de estar, que sempre afirmou nas muitas conversas que tivemos,
sendo notório um crescente desencanto perante o rumo que a BD tomava
em Portugal.
Numa
carreira com quase 75 anos (!), iniciada em 1946 nas página do
mítico O
Mosquito (que ele recordou aqui),
foram muitas as bandas desenhadas publicadas em muitos dos títulos
marcantes (Camarada,
Cavaleiro Andante, Fagulha, Zorro, Jacto, Mundo de Aventuras ou
Tintin)
do
jornalismo infanto-juvenil português, mas a sua coroa de glória,
tantas vezes afirmada e defendida por ele como um dos pontos altos da
sua carreira, foram os painéis ilustrados sobre a Música no século XV, que realizou para
o
Mosteiro da Batalha.
Se
a banda desenhada perde um dos seus veteranos - e um dos seus nomes
incontornáveis - eu perco alguém que, apesar do distanciamento dos
últimos anos, em que os encontros se espaçaram (demasiado),
considerava um amigo
[mas curiosamente, foi necessário que falecesse para me aperceber
que fazíamos anos no mesmo dia...]
Um
amigo que
muitas vezes contactou 'o
meu caro Cleto!'
para anunciar novos projectos, para falar da publicação de um novo
livro, para garantir que tinha recebido o meu exemplar dedicado com
amizade e consideração pelo seu punho...
São
memórias que ficam, muitos livros lidos, um respeito enorme que
sempre me mereceu, pesem as diferenças de opinião que tivemos -
mas soubemos respeitar.
Até
sempre José Garcês, a BD portuguesa e a História de Portugal
perderam um cultor e um defensor
- e de certeza que é assim que ele gostaria de ser recordado - a
nossa cultura ficou mais pobre.
(prancha de O Inferno Verde recolhida no blog O Voo do Mosquito; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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