24/07/2020

Todo Paracuellos

Ternura chocante



O acaso - um curioso acaso! - agrupou a leitura (mais ou menos) simultânea desta obra por membros de um grupo do facebok e mediatizou - nesse curto círculo, apesar do atraso na publicação deste texto... - este Todo Paracuellos, juntando-se agora esta análise à do Rascunhos.
Recolha dos 6 álbuns da série Paracuellos, editados originalmente entre 1976 e 2003, esta edição da Bols!llo peca pela divisão a meio das pranchas, para assumir um formato italiano, baixo e mais compacto. Longe de ser o ideal - quanto mais não seja porque não foi assim que o autor concebeu a obra - quer pelas suas características gráficas, quer pela planificação base original, não me parece que tal facto prejudique inapelavelmente a leitura. Havendo, como contrapartida, o bónus de uma edição integral por baixo preço.
Obra autobiográfica, Paracuellos é um conjunto de episódios curtos vividos por Carlos Giménez ou por muitos dos miúdos com quem se cruzou nos orfanatos/lares do estado onde eram amontados - e (muito) mal-tratadas - as crianças espanholas que, no início da década de 1950, tinham ficado órfãs, sido abandonadas pelos pais ou tinham estes em tratamento em sanatórios ou sem condições económicas para os ter.
Às diabruras, alegria de viver e natural irrequietude infantil, as casas de acolhimento - os seus responsáveis e (todos) os que lá trabalhavam - à imagem do que Franco fazia à Espanha, contrapunham um quotidiano duro e violento, inumano e cruel, matando sonhos á nascença, negando os mais elementares direitos, violentando mais psíquica mas também fisicamente aquelas crianças, educadas (?) a murro e pontapé - literal e violentamente.
Chocante pela duríssima realidade retratada, que abafa e quase mata a ternura própria da idade e o pouco humor que Giménez se atreveu a colocar na sua narrativa Todo Paracuellos é uma daquelas obras que é obrigatório ler, menos pela sua (inegável) riqueza gráfica e narrativa, mas mais pelo tom documental e absurdamente chocante da realidade exposta.

Todo Paracuellos
Edición Comemorativa 40.º aniversario; Inclui os álbuns I a VI
Carlos Giménez
De Bols!llo
Espanha, 2016
215 x 165 mm, 608 p., pb, capa dura com sobrecapa
22 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. A expressividade de Carlos Giménez é chocante, entre o cartoonesco e o realista.

    Ainda me lembro da primeira vez que li um trabalho dele, foi o Koolau El Leproso para aí no início dos anos 80, baseado numa estória de Jack London, antes disso apenas Hugo Pratt me tinha impressionado tanto com o seu uso do preto e branco.

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  2. Parece que existe uma versão do Paracuellos em cores?

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