Sem respostas
"Tenho a certeza que têm muitas
perguntas (...) mas não há respostas fáceis.Pelo menos por
agora." In Gideon Falls #4
A
verdade é esta: após quatro volumes, continuámos sem respostas. Um
ou outro esclarecimento, aqui e ali, sim. Mas,
desculpem,
pouco esclarecedores. E respostas, nenhumas. Com a agravante de, no
final, aparentemente o próprio livro implodir.
Mas,
apesar de tudo, Gideon Falls continua a ser uma leitura desafiadora e
irresistível, de que apetece conhecer cada
vez mais.
Volto um pouco atrás, à tal implosão final do livro. Se Lemire - sendo o argumentista! - tem uma grande importância no desenvolvimento na obra e no clima de dúvida e incerteza que a atravessa de lado a lado, a contribuição de Andrea Sorrentino para a tensão palpável e para o sentimento de terror que a obra exala, é igualmente fundamental. Porque, é impossível deixar de o vincar, Gideon Falls é uma obra profundamente gráfica, em que boa parte do que nos é permitido ver, está coberto por sombras, planificações em que prevalece a loucura e um aparente desvario ou simbologias a cuja interpretação (ainda?) não temos acesso. E Sorrentino brinca com a nossa sede de conhecimento, brilhando a grande altura com o seu traço impreciso, só esboçado, para nos mergulhar em cenas de pesadelo em que o que nos é contado é sempre menos do que o que somos obrigados a intuir e menos ainda do que continua escondido aos nossos olhos de leitor.
Durante boa parte da leitura, estive para intitular este texto 'Camadas', porque é assim que Gideon Falls está construído, como um imenso puzzle - como nos mostram as páginas de abertura dos diferentes capítulos destes livros - cujas poucas peças não deixam ainda antever o todo, mas provocadoramente revelam que por baixo da imagem - de cada imagem que construimos - há outra e outra, em sucessivas camadas que termos de ir interpretando.
Apesar de tudo, da 'ausência de respostas', 'fáceis' ou não, nesta quarta entrega desta história que se desenrola nas diferentes dimensões - temporais e não só - de Gideon Falls - a aldeia, a vila, a cidade, a... - temos alguns avanços. Danny/Norton Sinclair dispõe-se ao sacrifício para descobrir a verdade sobre o homem do sorriso. A dr. Xu e o padre Fred regressam ao tempo em que as coisas se podem descobrir e perceber. E os Lavradores revelam-se e ao seu propósito. E, todos juntos, são marionetas - umas poucas peças do tal imenso puzzle - nas mãos de Lemire e Sorrentino.
E entre encontros inesperados, revelações ilusórias, mortes surpreendentes e o avanço avassalador da onda (do mal?) que parece querer engolir tudo, nós, meros leitores mortais e finitos, continuamos sem respostas.
A ausência de respostas é o que me leva a não investir mais na série pois parece que andam a improvisar sem rumo à vista, isto nem é uma coisa má'per se' mas chateia-me, o mesmo acontece com o Descender/Ascender e com o Outcast.
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