05/03/2021

Snoopy #16: 1967

Erros grosseiros e grande desilusão




Posta à venda esta semana, a colecção Snoopy - A Peanuts Collection podia ser o lançamento do ano mas, afinal, não passa de uma grande desilusão.
As razões - e todas as características - estão expostas já a seguir.


Erros grosseiros

Lançar uma colecção deste género, que compila uma das obras-primas da História da banda desenhada deveria merecer cuidados redobrados por quem edita. Isso não aconteceu, neste novo coleccionável da Planeta DeAgostini, agora à venda entre nós.

Comecemos pela capa, que acumula erros grosseiros.

O primeiro, é o título da colecção. Ninguém na editora, do mais humilde paquete (?) ao mais importante director, se apercebeu - ou sabe...? - que a tira diária e dominical criada por Charles Schulz é The Peanuts (mesmo que o autor nunca tivesse gostado do título adoptado pelo seu editor)?

Ninguém sabe que Snoopy, é apenas uma das personagens? Será que no actual contexto social, já chegamos ao ponto de serem os animais (não comestíveis) das bandas desenhadas a merecerem todo o destaque? Numa atitude revisionista, vamos ter em breve as aventuras de Ideiafix, Milu, Dinamite, Krypto, a Turma do Floquinho ou... sei lá que mais?


O segundo erro grosseiro - reforço o 'grosseiro' - é a ausência do nome do criador - enquanto tal - na capa. Na capa e na lombada, na contracapa, nas páginas de rosto, na ficha técnica... Vá lá, surge finalmente referido na introdução da obra...

Não basta reproduzir a assinatura na capa, o criador e único responsável da série ao longo de meio século, merecia ter (um enorme) destaque. No mínimo, que lhe fosse atribuída a obra...


E como não há dois (erros grosseiros) sem três, diz a sabedoria popular portuguesa - a que não resisti a recorrer... - a mesma capa indica-nos também que a edição inclui as 'tiras dominicais'. Em quase meio século que levo de leitor de BD, no que diz respeito às séries publicadas nos jornais norte-americanos, conheço as tiras diárias - as daily strips - e as pranchas (ou páginas) dominicais - as Sunday Pages.

A diferença entre ambas é evidente: as tiras diárias, publicadas de segunda a sábado, são compostas por um conjunto de (geralmente) uma a quatro vinhetas, enquanto que as páginas dominicais, publicadas ao... domingo!, contam três tiras, com número variável de vinhetas. Neste segundo caso, as variações são mais numerosas.

A título informativo, aplicando as definições aos Peanuts, temos as tiras diárias, publicadas a partir de 2 de Outubro de 1950, geralmente compostas por 4 vinhetas, e as pranchas dominicais, iniciadas a 6 de Janeiro de 1952, geralmente com 8 a 10 vinhetas. Estavam pensadas para lhes serem retiradas as duas primeiras vinhetas (a tira superior), ou para serem remontadas noutra disposição.


Colecção

São estas últimas, as pranchas dominicais, que esta colecção nos propõe, num total de 61 volumes.

Os primeiros 46, publicam um ano completo de pranchas dominicais, de 1952 a 1998. O 47.º tomo, reúne as pranchas de 1999 e 2000, pois a série terminou a 13 de Fevereiro deste último ano. E a colecção, assim tivesse alguma lógica, deveria terminar aqui.

No entanto, há ainda mais 14 (catorze!) volumes com a compilação das histórias das diferentes personagens que Snoopy assume: o Ás da Segunda Guerra Mundial, Joe Cool, o Escritor Mundialmente Famoso...

Se serão compostos apenas pelas respectivas pranchas dominicais ou incluirão também as tiras com estas temáticas, não há informação disponível. Pelo seu número, inclino-me mais para esta segunda hipótese. No primeiro caso serão 14 volumes repetidos, no segundo um número indeterminado de páginas repetidas... Era desnecessário.

Positiva, a inclusão em cada volume de textos sobre o autor e/ou a obra. O deste volume (1967) é anónimo...


Sequência

A colecção começou no volume 16, correspondente ao ano de 1967 - curiosamente onde começa o título Snoopy formado na lombada - pois, após ter sido "realizado um trabalho de curadoria com especialistas" foi decidido escolher "para as primeiras entregas os anos mais importantes da obra de Schulz". Os leitores possivelmente prefeririam a edição cronológica, mas a verdade é que, comercialmente, esta opção é mais inteligente, pois deixa para data posterior os volumes iniciais, em que o autor ainda procurava o seu estilo e o tom apropriado. E em termos de leitura, fazê-la sequencialmente não é especialmente relevante, para além do facto - não tão displicente - de permitir a percepção da sua evolução.

Embora uma das notas que acompanha este primeiro volume refira que "as entregas da colecção não serão feitas em ordem sequencial", a verdade é que no site da editora estão já anunciados a seguir os volumes correspondentes a 1968 e 1969. No Brasil, de onde os volumes são provenientes, os primeiros nove volumes, já publicados, seguiram a cronologia (até 1976).


Idioma

Esta colecção é em brasileiro - alguns dizem 'português do Brasil' - tal como a colecção do Príncipe Valente https://outrasleiturasdopedro.blogspot.com/2019/03/principe-valente-tudo-o-que-queriam.html, da mesma editora, que se aproxima do seu final.

Leio edições brasileiras desde sempre, em revistas infanto-juvenis como Recreio, Disneylandia ou Clássicos Ilustrados, ou banda desenhada Disney ou da Turma da Mônica; mais tarde, Marvel, DC Comics, Tex; mais tarde ainda, Bonelli, autores locais - os gémeos Bá e Moon, Laudo Ferreira, André Diniz, Danilo Beyruth ou um enorme etc. onde ainda cabem os criadores das Graphic MSP e até autores de outras latitudes. Tenho centenas de edições em brasileiro, por isso, afirmo claramente, não tenho qualquer tipo de dificuldade com a língua.

Mas - não sei bem porquê - neste contexto, a gengibirra, a trupe, os puxa, os doçura, as mordidas, a Patty Pimentinha... não me caíram bem. Admito ser apenas uma questão pessoal, mas deixo a referência.


A Edição


Formato: 278 x 220 mm

Capa cartonada, com lombada em tecido e bons acabamentos

Uma vez completa a colecção, as lombadas, pretas, formarão um desenho aberto a branco, com as principais personagens da série

Número de páginas: 64 páginas, a preto e branco (5 páginas de rosto+ficha técnica; 6 páginas sobre o autor; 53 páginas de BD).

Este volume está bem impresso, mas o papel é demasiado fino e revela à transparência os desenhos do verso..

Uma das pranchas - a da página 15 - foi mal reproduzida e está pixelizada.


Periodicidade

Os primeiros 9 volumes são quinzenais, os restantes serão semanais. A colecção começou a 3 de Março de 2020 e terminará em Julho de 2022.


Preço

Entrega nº 1: Volume 16, 1967 - 1,99 € (3 de Março de 2020)

Entrega nº 2: Volume 17, 1968 - 5,99 € (17 de Março de 2020)

Entregas seguintes: 9,99€

Custo total: 597,39 €

O preço parece-me excessivo, para volumes a preto e branco, de apenas 64 páginas. Se a isto acrescentarmos o momento que se vive e a periodicidade semanal, poderá ser um encargo demasiado elevado para muitos dos eventuais interessados. No mínimo, penso que a publicação quinzenal de toda a colecção, seria uma estratégia mais adequada.


Brindes

Como é habitual neste tipo de coleccionáveis, Snoopy - A Peanuts Collection tem brindes para os assinantes: 3 posters com a entrega n.º 15, um caderno de notas com a entrega n.º 30 e um conjunto de suportes para livros, com a entrega n.º 45. Nada de especialmente relevante.


Termino francamente desiludido. Esta poderia ter sido uma colecção capaz de me fazer perder a cabeça. Por tudo o que fica escrito, não a vou fazer, com toda a certeza. Schulz e os seus Peanuts mereciam bem mais. Que saudades da colecção (incompleta) das Edições Afrontamento...


Snoopy #16: 1967
Charles Schulz
Planeta de Agostini
Brasil, 2019
Distribuído em Portugal a 3 de Março de 2020
278 x 220 mm, 64 p., pb, capa dura
1,99

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

19 comentários:

  1. Estou totalmente de acordo consigo. O humor tem sempre um contexto social bem particular que se não for bem traduzido de acordo com o contexto social a quem se dirige perde o seu sentido e encanto e admitindo que isso foi feito de acordo com a utilização do português e das frases idiomáticas características da sociedade brasileira, não são obviamente adequadas para a sociedade portuguesa. Pena é que não haja um esforço para se realizar a adaptação para o nosso português. Oportunidade perdida.

    Letrée

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    1. Sim, o que está em causa não é a tradução, é a não adequação daquela linguagem à realidade portuguesa. Mais uma prova do absurdo que foi o acordo 0ortográfico.
      Boas leituras!

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  2. Ainda tenho mais pena porque para mim esta é uma das três melhores bandas desenhadas em "tiras" de sempre. Felizmente as outras duas temos todas disponíveis em Portugal: "Mafalda" e "Calvin & Hobbes". Poderia ter sido a oportunidade de termos uma boa parte dos "Peanuts".

    Letrée

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  3. Pedro, republico aqui um comentário meu sobe o assunto:

    Comprei este 1º volume mas não vou continuar. A qualidade parece-me razoável, mas o português do Brasil soa-me mal e por vezes com termos incompreensíveis (trupe, gengibirra??..). É pena... Recomendo para quem goste (e possa) que invista na infinitamente superior edição da Fantagraphics, que republica TODA a obra de Charles Schulz e não apenas as páginas dominicais (como nesta edição). Crítico também a opção de darem à colecção o nome de uma das personagens da série (a mais conhecida...) e não o nome porque foi publicada - Peanuts. Lamento ainda que a Afrontamento não tenha dado continuação á versão portuguesa (mais uma vez aqui editoras sem conhecimento da área nem do mercado...). Parece-me igualmente curioso que algumas destas personagens de BD mundialmente e comercialmente famosas, como o são os Peanuts, estejam á tanto tempo ausentes do mercado português... Mistérios.

    Uma última nota para assinar por baixo a sua análise. Cumprimentos.

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  4. Por um valor bem inferior ao total dessa coleção, adquiri na FNAC há cerca de 2 anos o livro "Celebrating Peanuts- 65 Years", 534 páginas com todas as tiras (ou quase todas?), textos introdutórios e citações do próprio Schulz.
    É certo que para um mercado pequeno como o nosso, seria muito arriscado apostar num volume traduzido deste género. Mas tenho ideia que uma ideia semelhante foi um enorme sucesso há uns anos atrás, o "Toda a Mafalda".
    Esses colecionáveis deixam-se sempre de pé atrás, quer pela qualidade das edições quer pelo risco das entregas....

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    1. Essa edição - muito interessante pelos comentários e notas - publica tiras diárias e pranchas dominicais seleccionadas. Seria quase impossível publicar 50 anos de banda desenhada num único volume.
      Ainda se encontra facilmente à venda, mas penso que seria impensável a sua edição em Portugal.
      Boas leituras!

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  5. Fiquei-me pelos 6 livros das edições afrontamento... Uma afronta terem acabado

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    1. Acho que foi uma edição que surgiu antes do tempo. Na época não havia o hábito de comprar esse tipo de obras. O que lamento muito.
      Boas leituras!

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  6. BD em brasileiro fujo dela. Por essa razão não colecionei o Príncipe Valente ( também já tenho muita coisa da ASA da APR e do CA). Gosto de ler a BD franco-belga, que coleciono (possuo perto de 3000 álbuns) em português ou em francês. Aliás, penso que o francês é a linguagem mais genuína da BD. Encomendo muita coisa que em Portugal ficou pelo primeiro álbum. Por exemplo ainda ontem terminei de ler aquela que considero uma das mais belas e fabulosas epopeias contadas em BD, a saga Les 7 Vies de L'Épervier da dupla Cothias e Juillard. Cá, saíu A Morte Branca e mais nada privando-se toda uma geração de leitores de uma obra prima do argumento e desenho.

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  7. Só contextualizando, aqui no Brasil conhecemos a série como Snoopy, nas tiras e no desenho esse é um dos nomes que mais usaram, por uma questão cultural/comercial manter o nome do gibi como Snoopy é mais fácil a venda do que usar o nome original ou Minduim, que é a outra forma como conhecemos a série por aqui, outro exemplo disso é Calvin & Hobbes, que por aqui sempre foi conhecido como Calvin e Haroldo

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  8. Não sei se foi algo intencional ou se de fato faltou percepção de algumas coisas nas queixas aqui apresentadas. Como o William menciona acima, Peanuts é conhecida no Brasil como "Snoopy" - isso vem desde o início da publicação da série aqui no país. O mesmo pode ser dito das "tiras dominicais": ainda que aqui também se use "páginas dominicais" para as "Sunday Pages", o mais usual é mesmo falar em "tiras dominicais".
    Logo, dois dos chamados "erros grosseiros" não são erros, mas consequência natural de se estar no mercado secundário de determinado produto. Quem coleciona quadrinhos no Brasil a sério e há anos, sabe que muitas vezes terá como opção mais acessível de determinado material a sua versão portuguesa, e nem por isso chamaremos "erros grosseiros" decisões que tenham por objetivo se adequar ao mercado primário de tal publicação.
    No fim, o único erro como tal é a ausência do nome de Charles Schultz em destaque na capa. Erro imperdoável, concordo, que muitas vezes não será percebido pelo leitor veterano, mas que fará falta ao leitor novo ou casual.

    Cabe também um destaque: no Brasil se fala a Língua Portuguesa. Não existe um idioma "brasileiro", mas uma variante do português falada no Brasil, gostemos disso ou não. Uma das marcas da submissão colonial é o fato de que o Brasil compõem o mundo lusófono - e isso ocorre a despeito de nossos desejos pessoais.

    Se a edição em português do Brasil não lhes atende, o que cabe é pressionar as editoras portuguesas, que tanto nos ajudam do lado de cá do Atlântico, a produzirem edições portuguesas. O resto é só queixa vazia - dizer como deveria ser feito um material que não foi produzido pensando em si.

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    1. Quando comento, faço-o em relação a um produto que encontro à venda em Portugal e que em minha opinião deveria ir ao encontro dos seus leitores portugueses. Por isso, em minha opinião friso mais uma vez - os erros grosseiros que apontei são mesmo erros grosseiros da edição. Aceito que ela seja vendida assim no Brasil, dado o seu hisorial, mas não em Portugal.
      Quanto à questão do 'brasileiro', quando utilizo este termo, faço-o sem qualquer menosprezo ou intenção de ofender. Apenas para marcar a diferença entre o que se fala em Portugal e o que se fala no Brasil: para mim são línguas próximas, mas diferentes.
      Boas leituras!

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  9. Como disse, Pedro, se a edição vai ao encontro do leitor português ou não, é uma questão de mercado: para a editora, aparentemente, os custos de uma edição localizada exclusivamente para o público português, não se justificam - então, comercializa-se a versão brasileira, sabendo que se trata de uma versão... brasileira. Aí é um material importado.
    Assim como quando aqui compramos quadrinhos editados em Portugal e nos havemos com expressões que desconhecemos aqui, como "chuis", "malta" e outros, e não dizemos: "é um erro grosseiro se vender aqui material português produzido para portugueses".
    E, quanto à língua, é aquilo que disse: o mundo lusófono, diversos pesquisadores de Letras e os governos dos países falantes do português discordam do seu posicionamento. Claro, podemos discordar livremente das posições oficiais, mas tendo em mente que, contra o posicionamento formal, nossas discordâncias não passam de meras opiniões...

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    1. E, começando pelo fim, sim é a minha opinião, tudo o que escrevo no MEU blog é a MINHA opinião. E NÃO abdico dela.
      E, sim, também, é material importado que, do MEU ponto de vista, tem erros grosseiros, que eu apontei.
      Fico por aqui, concordamos apenas em discordar.
      Boas leituras!

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    2. Caro Lucas, complementando o que já foi referido pelo Pedro e outros comentadores aqui no blog, gostaria de deixar aqui mais algumas considerações:

      1 - penso que houve/há um erro estratégico da Planetade Agostini e da distribuidora em colocar no mercado português uma coleção pensada, essencialmente, para o mercado brasileiro.

      2 - Para quem é esta obra? Esta é um obra que se destinaria, essencialmente, ao "colecionador", ou seja ao conhecedor (apesar de ser vendida em banca), que obviamente tem outras expectativas e exigências relativamente à qualidade da mesma - e isso inclui a adaptação da língua original à língua do leitor "nativo".

      3 - pergunto-me se o "coleccionador" não achará esta obra pouco exigente e se o consumidor casual, por oposição, demasiado intimidatória ou pouco atraente.

      3 - dito isto, considero que, no geral, a obra é materialmente bem produzida, mas que foi desnecessáriamente, espartilhada para efeitos de venda, obrigando a um compromisso demasiado longo por parte do comprador. Será esta a opção mais inteligente? Na minha modesta opinião, penso que não.

      4 - Como referi anteriormente, existem melhores opções para quem queira "mergulhar" no universo das personagens criadas pro Schulz, a começar (e acabar?...) na magnífica coleção integral a ser lançada á vários anos pela Fantagraphics, nos Estados Unidos da América.

      5 - Apesar da diferença de mercados, penso que o leitor português mereceria um pouco mais de consideração por parte de quem distribui. Nada tenho contra a disponibilização de obras de boa qualidade a preço acessível, mas não se pode continuar a tratar o cliente como se fosse um "iniciado".

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  10. Antonio então, como disse me parece que essa é uma discussão conceitual quando, muito provavelmente, o que orienta a editora é o aspecto meramente comercial/financeiro.
    De alguma forma, penso que as suas considerações de 1 a 3, bem como a 5, são explicadas por uma decisão exclusivamente comercial: o real está desvalorizado ante o euro, o público-alvo consumidor no Brasil deve ser, proporcionalmente, maior que o português e, portanto, levar um produto daqui para aí apresenta uma chance de aumento dos lucros sem um aumento equivalente nos custos.
    No meu entendimento, nós colecionadores nos damos mais valor do que nos dão as editoras. Ainda que essas séries longas características de editoras como Planeta DeAgostini e Salvat (para ficar em duas) tenham como principal alvo o colecionador, uma série de um gibi popular e de fácil consumo como Peanuts/Snoopy tem potencial de atingir um público maior, ainda que intermitente (no sentido de que não vai necessariamente se esmerar em completar a coleção).

    Não me parece razoável pensar que o grupo de "completistas" (perdoe o neologismo em português do Brasil) será maior do que o grupo de compradores de ocasião. Pelo menos não quando estamos falando de algo como Snoopy, que tem um apelo popular tão grande.

    Em resumo, ao fim e ao cabo, é simplesmente business. Se a editora puder lucrar no Brasil, com colecionadores e compradores de ocasião, bom. Se puder fazê-lo no Brasil e em Portugal, melhor ainda.

    Assim, como você bem destaca, aos colecionadores haverá sempre opções pensadas (e produzidas em quantidade mais restrita) focadas especificamente nesse público. Que, pelo menos aqui no Brasil, não parece ser o foco dessa coleção de Peanuts que estamos discutindo.

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    1. Também sou esquisito com estas situações mas dou o braço a torcer, o Lucas tem razão.

      Esta é claramente uma situação de "fome e vontade de comer".

      Pessoalmente tenho algumas edições da Afrontamentos do Peanuts, esta colecção é baseada na da Fantagraphics e é excelente, isto sim são edições de coleccionador e esta ficou incompleta, posto que apenas sairam 6 volumes, divididos em 3 lançamentos de 2 livros cada e parando no início de 1960, claro que fiquei lesado.

      Esta nova edição da Planeta apesar de ser coleccionável não é de "Coleccionador", per se e não é vocacionada para o público português, assim como não era o Cavaleiro Andante, a diferença é que tanto uma como a outra são dirigidos a públicos diferentes, se é que a do Cavaleiro Andante é mais cuidada.

      Ainda teremos de esperar para termos uma edição dos Peanuts fiel à original.

      Não estou a dizer que não devia ter saído por cá mas cada um é livre de comprar o que quiser, isto veio apenas apontar o dedo a uma lacuna em Portugal e deu-nos a sensação de ter sido uma oportunidades desperdiçada, claro que ficámos frustrados.

      Eu não vou comprar e conto completar as que faltam com as edições cronológicas da Fantagraphics.


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  11. Li os diversos argumentos, vou deixar aqui uma dica, quiçá possa ser algo a ter em conta no futuro. Visto que a lingua portuguesa é tão rica e tão profunda, podia-se perfeitamente lançar edições que servissem ambos mercados - e não só como sabemos -, utilizando apenas expressões o possivel dentro do chamdo "português padrão", e qual é esse português? aquele a que não necessita em recorrer sistemáticamente, como se faz hoje em dia a termos regionais. Daí que nos anos 60/70 as pessoas liam obras de ambos lados do Atlântico sem grande problemas. Hoje usa-se e abusa-se desses termos, que creio eu nem sempre serão inclusive reflexo da linguagem comum dentro de cada país, pois na tal riqueza da lingua, há espaço para imensas expressões. Para finalizar seria melhor adoptar os nomes originais, para evitar confusões. Por cá, também houve um tempo em que, sobretudo, as jovens chamavam Snoopy à esta banda desenhada. Tive várias namoradas e amigas de juventude que "insitiam" wem tulizar apenas nesse nome a todos os outros personagens. Muito à semelhança do que ocorre no Brasil. Como até há pouco tempo, havia quem chamasse "Patinhas" a todos as revistas lançadas pelas editoras Abril, no Brasil, e Morumbi, em Portugal, bem como às posteriores fusões entre ambas. Acabou por particamente desapaarcer tal tendencia, mas hoje quem lê essa BD? Na essência, só os melómanos, infelizmente, as crianças e jovens não lêem agora essas histórias.

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