27/04/2021

Méga Spirou #25

Simplicidade


O modelo é muito simples: em quase 200 páginas com capa mole e papel de jornal mas de gramagem superior, reúnem-se dois álbuns completos e (quase) uma centena de histórias curtas de séries diversas. É a Méga Spirou que, trimestralmente, faz de mostruário quer da própria revista Spirou, quer do catálogo da Dupuis, e tem distribuição (selectiva) em Portugal.
Para a editora, os custos são mínimos, uma vez que se trata de republicações; para o leitor, são duas centenas de páginas de BD a um preço muito acessível.

Na Méga Spirou o humor predomina - pontualmente há excepções, a maior parte das vezes relacionadas com os álbuns incluídos na publicação - especialmente através das histórias curtas, geralmente de uma página, mas que pontualmente podem chegar à meia dúzia de pranchas.

Numa selecção heterogénea e variada, a sensibilidade e gosto de cada um definirá a menor ou maior adesão à revista. Neste número, a reter, temos a genialidade de Imbattable, a delicadeza do traço de Crapule, o humor (re)conhecido de Petit Spirou, Cédric e Kid Paddle e os (sucessivamente) inesperados finais de Game Over. E ainda Capitaine Anchois, Dad, Green Manour, Kahl Pörth, Mamma Mia, Nelson, Tamara, Vacherie des Nombrils e Walter Appleduck, numa curiosa combinação de retrato social, imaginário infantil e fantástico que provoca sorrisos certos com regularidade e mesmo uma gargalhada, aqui e ali.

Quanto aos pratos fortes - que mais facilmente seduzirão o leitor ocasional - este número permitiu-me o reencontro com os Túnicas Azuis, no volume #33, Grumbler et Fils, que aborda a questão da poligamia entre os mormons, quando o cabo Blutch e o sargento Chesterfield são enviados para tentar convencer a seita a desistir daquela tradição, na sequência de um decreto presidencial. Não sendo dos tomos mais conseguidos da série, a leitura justifica-se porque Cauvin, mesmo menos inspirado, nunca é mau.


O segundo álbum completo é a estreia de Raowl (supostamente) em La Belle et l’Affreux. [Escrevi 'supostamente' porque as páginas do álbum disponíveis online não correspondem ao que é publicado nesta revista...]s

Nele, Tebo dá-nos uma versão demente mas muito divertida de A Bela e o Monstro, com canibais, fantasmas, espíritos e bastante mais, combinados com uma traço simples, dinâmico e expressivo e com um humor, piscadelas de olho, leituras de segundo grau e mesmo referências directas que mostram que esta série é bem mais adulta do que muitos poderiam ser levados a pensar.


Nota final

No final do século passado, a Meribérica testou um modelo equivalente em Portugal. Nos verões de 1998 e 1999 foram publicados dois números de Spirou - BD e Jogos, que reproduziam os números #6 e #8 do modelo francófono em publicação na época, que não incluía álbuns completos, tinha predomínio de histórias de meia dúzia de pranchas e umas quantas páginas de passatempos.

Possivelmente porque o preço era (proporcionalmente) mais elevado do que na origem - a versão portuguesa teve de pagar direitos… - e porque a maioria das séries apresentadas eram desconhecidas dos portugueses - poucas foram as criações humorísticas da Spirou belga que chegaram até nós - o modelo não vingou, o que não impede que não possa ser - mesmo hoje - uma leitura aconselhável e uma porta de entrada para universos que, em muitos casos, só dessa forma pudemos ler em português.


Méga Spirou #25
Les Tuniques Bleus #33: Grumbler et fils
Raoul Cauvin (argumento)
Willy Lambil (desenho)
Raowl #1: La Belle et l’Affreux
Tebo
Histórias curtas de Imbattable, Petit Spirou, Cédric, Kid Paddle,Game Over, Capitaine Anchois, Dad, Green Manour, Kahl Pörth, Mamma Mia, Nelson, Tamara, Vacherie des Nombrils e Walter Appleduck
Vvaa
Dupuis
França, 10 de Março de 2021
205 x 285 mm, 192 p., cor capa cartão, trimestral
6,60

(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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