10/06/2021

Clifton #22+Bouffon

Zidrou, Zidrou...

Se um acontecimento inesperado obrigasse a cingir as minhas leituras futuras a um único argumentista, actualmente Zidrou tinha muitas hipóteses de ser o escolhido. As razões: a variedade e heterogeneidade das suas abordagens, num leque temático vasto e diversificado, sempre com um nível de excelência considerável, especialmente quando se trata de obras originais.
Deixo dois (dos muitos) exemplos (possíveis) já a seguir, escolhidos por serem leituras recentes.


Clifton
et les gauchers contrariés
Zidrou (argumento)
Turk (desenho)
Dargaud
França, Junho de 2016
222 x 295 mm, 48 p., cor, capa dura
10,95€

O fleumático detective britânico às voltas com a velha Albion aturdida por uma estranha maldição que se manifesta quando condutores, sem que nada o justifique, passam a conduzir à direita, provocando o caos na capital das terras de Sua Majestade.

A viver um péssimo momento, devido à partida súbita da sua governanta, Miss Partridge, o coronel Clifton é encarregado da investigação, que o levará até a colocar a própria vida em risco, para descobrir uma pérfida maquinação contra o sacro-santo império britânico.

A abordagem de Zidrou traz algo de novo à série criada por Raymond Macherot? Não. Era necessária, para lá das vertentes nostálgica e financeira? Também não.

Mas permite reencontrar um dos heróis recorrentes da revista Tintin em boa forma, com um sentido de humor apurado, assente nas diferenças entre os irritantes britânicos e os continentais em geral, e com os malditos e pedantes franceses, em particular.


Bouffon
Zidrou (argumento)
Francis Porcel (desenho)
Dargaud
França, Agosto de 2015
241 x 318 mm, 64 p., cor, capa dura
15,00 €

De boca aberta, foi como fiquei - cada vez mais - ao longo da leitura desta obra. E sem palavras, como me aconteceu há semanas com O Burlão nas Índias, embora as similitudes entre ambas as obras se fiquem por aqui.

Escrever muito, seria destruir o prazer da leitura. Por isso, de forma abreviada, limito-me a dizer que esta é uma ficção extraordinariamente bem conseguida, que combina o melhor e o mais maravilhoso dos contos infantis, com o pior e o mais abjecto do ser humano, sublimes histórias de amor com inenarráveis maus tratos, num relato centrado num pobre diabo, nascido com o rosto deformado, numa idade média vil e cruel, mas não muito distante - em tantos aspectos - do mundo em que vivemos hoje.

Gozado, abusado, vilipendiado, marginalizado, o grotesco bobo (bouffon) acabará por encontrar a redenção através do gesto mais carinhoso que o ser humano possui: o beijo, com Zidrou no seu melhor, entre a ternura, o humor e a mais desprezível crueldade.

(imagens disponibilizadas pela Dargaud; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

11 comentários:

  1. Clifton! Aí está uma série que eu gostava de ver publicada em Portugal Aquele "sete dias para morrer" é impagável!

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  2. Outro igualmente impagável (publicado na revista Tintim): "O ladrão que ri"! Ambos muito bons!

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  3. São anteriores ao Zidrou! Peço desculpa!

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    1. Sem problema, este é uma das séries que o Zidrou retomou (Ric Hochet, Chlorophylle... seriam outros exemplos), mas o facto não apaga o que de bom já existia.
      E o Clifton até foi criado pela grande Raymond Macherot!
      Boas leituras!

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  4. Tirando os Verões Felizes e o Descansa em Paz, Ric Hochet existe mais alguma coisa editada em Portugal com argumento do Zidrou ?

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    1. Sim, mas já é antigo e dirigido a um público mais novo.

      O Menino Boavida - ASA

      As Lições do Toninho - Meribérica, Toninho torna-se Boavida na ASA.

      O Boss Sou Eu - ASA

      São edições esgotadas mas acho que se encontram nos sites de usados da especialidade.

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    2. Boavida/Toninho adaptados de L'Élève Ducobu, que deu direito a um filme de imagem real, muito mau por sinal.

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    3. Superbeasto, obrigado pela antecipação.
      De Zidrou, em português - para já...? - só as duas séries citadas e os dois álbuns com gags referidos.
      Boas leituras

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    4. Ao SUPER e ao PEDRO obrigado pelas respostas

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  5. É um argumentista que tem coisas muito interessantes.
    Contudo, não gostei nada do Ric Hochet dele.

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    1. Eu considero-o um dos grandes argumentistas da actualidade.
      Gostei bastante do primeiro Ric Hochet - se encarado como álbum único de revisão do mito do detective criado por Duchateau e Tibet - mas aprecio menos enquanto álbum inaugural de uma nova 'vida' dele, que até agora não trouxe nada de muito relevante.
      Boas leituras!

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