20/06/2021

Tarzan abandona os jornais

Noventa e dois anos após a sua estreia nos jornais, as aventuras de Tarzan deixarão de ser publicadas na imprensa norte-americana a partir de amanhã.

O anúncio foi feito pela Andrews McMeel Syndication (AMS), a empresa responsável pela distribuição nos jornais de tiras diárias e pranchas dominicais de séries de BD como “Big Nate”, “Calvin and Hobbes”, “Cathy”, “Dilbert” ou “Garfield”.

Na verdade, desde 1972 que não eram produzidas novas tiras diárias do homem-macaco (desde 2002 no que respeita às pranchas dominicais), estando a ser redistribuídas histórias antigas. A falta de novidades, por um lado, e o desfasamento entre as tiras dos anos 1950, actualmente em publicação, e os tempos actuais, por outro, fizeram com que os jornais, gradualmente, fossem substituindo as suas aventuras por séries novas, sendo mínimo o número dos que ainda mantinha Tarzan nas suas páginas.

A propósito desta decisão, Jim Sullos, presidente da Edgar Rice Burroughs, Inc., declarou que “Tarzan provou ser uma personagem intemporal, mantendo as suas qualidades de força, coragem, protector da vida selvagem e do meio ambiente, e defensor dos necessitados, mesmo quando se adapta ao mundo em mudança. Cada geração tem o seu Tarzan, e a sua maneira própria de vivenciar as aventuras do homem-macaco”. E acrescentou, “estamos extremamente orgulhosos dos 92 anos de carreira de Tarzan na imprensa e à medida que esta foi evoluindo, Tarzan foi-se adaptando”.

Foi por esse motivo que “há cerca de uma década, fizemos a transição das histórias em quadradinhos de Tarzan para a nossa plataforma online, tendo contratado grandes talentos da indústria de comics, como Roy Thomas e Thomas Grindberg” que prosseguiram com as suas aventuras a partir do ponto em que elas tinham sido suspensas, em 2002.

Tarzan foi uma criação do escritor norte-americano Edgar Rice Burroghs (1875-1950), estreada no folhetim “Tarzan of the Apes”, publicado a partir de 1912 na revista “All-Story Magazine”, que narrava como o filho de um lorde britânico, abandonado na selva africana, ficou órfão e cresceu com os grandes gorilas até se tornar seu chefe.

O senhor da selva chamou a atenção do cinema, onde foi interpretado pela primeira vez por Elmo Lincoln, em 1918, num filme mudo, mas seria com a chegada do sonoro e das interpretações do antigo campeão olímpico de natação, Johnny Weissmuler, a partir de 1932, que se tornaria um dos heróis de maior popularidade durante décadas.

Antes disso, em 1929, surgiria em banda desenhada, curiosamente pela mão de Harold Foster, que se tornaria famoso com a criação do Princípe Valente, oito anos mais tarde. Foster assinou a tira diária a partir de 7 de Janeiro de 1929, encarregando-se também das pranchas dominicais a cores a partir de 27 de Setembro de 1931.

Ao longo de mais de sete décadas, passaram por elas autores como Rex Mason, Dan Barry, Jesse Marsh ou Bob Lubbers, mas os seus expoentes foram Burne Hogarth e Russ Manning. Muitas destas histórias foram publicadas no nosso país, a partir de 1941, tendo cabido à Diabrete a honra de estrear Tarzan em português. O “Cavaleiro Andante” e, principalmente, o “Mundo de Aventuras” e o “Jornal do Cuto”, entre muitas outras, também o acolheram nas suas páginas e, na década de 1970, a sua popularidade justificou mesmo a criação de duas revistas com seu nome.

(versão revista do texto publicado na edição online do Jornal de Notícias de 18 de Abril de 2021; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Coincidência ser no mesmo dia que a Fox estreou o filme A Lenda de Tarzan ontem,
    Mas é o fim de era nos jornais que vendem cada vez menos.

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  2. Não faz falta nenhuma neste caso.

    Sempre achei bestialmente irritante colocarem este género de estórias em continuidade nos jornais, independentemente da arte.

    Passavam o tempo a repetir vinhetas nestes Tarzans, no Fantasma, no Homem-Aranha, Garth, etc... as tramas arrastavam-se sem fim.

    O mais irritante eram as comic strips do Homem-Aranha, com escrita do Stan Lee e arte do John Romita, fiz um refresh há pouco tempo ao adquirir uma colectânea de comic strips, o Stan Lee tinha um estilo operático antiquado e algo irritante e ver a repetição de vinhetas em sequência com aquelas frases e a acção que nunca mais avançava, aquilo não era mesmo para mim, nem há 30 e tal anos nem agora.

    Nada contra sobre os cartoons do Calvin, Hagar, Mutts, etc... pois são gags, ficam por ali, mas as outras, sempre senti como se estivessem a gozar com o leitor.

    Poupem o papel para os comics, deixem lá os jornais, também não vejo grande jornalismo hoje em dia, passou tudo a ser copy/paste de publicações, com redação péssima e muitas gralhas. Já nem temos artigos de opinião decentes, estruturados, tentam todos ser influencers e opinion makers.

    Bom, mas temos os jornais que merecemos, são um negócio e tentam ser um reflexo dos leitores para vender.

    Temos por cá algo do gabarito do New York Times por exemplo? claro que não.

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  3. As coisas mudaram, sem dúvida, mas o papel fundamental que os jornais tiveram na divulgação e no tornar a banda desenhada uma arte popular é inquestionável.
    A publicação quotidiana implicava uma forma de narrar estranha para quem - muito mais tarde - as lia em livros, especialmente no caso das tiras diárias já que nas pranchas dominicais isso não é tão evidente, mas há imensas obras-primas assim publicadas que importa (re)descobrir. O Tarzan de Manning ou o Príncipe Valente, de Foster, são apenas dois de muitos exemplos.
    Boas leituras!

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