02/07/2021

Peter Pan #6: Destinos

Fim de viagem



Por vezes há casos assim, em que a viagem se revela mais interessante do que o destino final.
Aconteceu-me também com este sexto e último tomo de Peter Pan, que apesar de abrir com inusitada violência, acaba por saber a pouco… possivelmente, porque é uma adaptação de um romance e Loisel não quis fugir ao final de Barrie...

Isso não retira mérito a esta colecção, não questiona a sua qualidade ou a validade dasérie, nem põe em causa a repetida recomendação de As Leituras do Pedro para não deixarem passar aquela que será uma das melhores séries de BD lançadas em Portugal, este ano.

Mas, para quem (re)leu apaixonadamente a série, após a leitura destes seis volumes ficam perguntas por responder, situações por esclarecer, o todo parece um longo intróito para futuras aventuras - um pouco como Disney fez no pós-filme

Com Sininho a assumir - embora nas sombras - boa parte do protagonismo, este álbum reforça as ideias centrais já apresentadas: a recusa de ser adulto e a imperiosa necessidade do esquecimento para se atingir a felicidade - aquela que cada um busca… - porque a memória pode ser um fardo insuportável (veja-se o Narigudo – e sofra-se com o desprendimento e desprezo com que é tratado pelos ‘amigos’...)

Destinos, surge, assim, na mesma linha do volume anterior, com Peter Pan mais uma vez entre os dois mundos - o verdadeiro e o dos seus sonhos - com a inocência - e a estupidez…? - da criança que ainda é a confundirem-se com a sua (boa) vontade de querer agradar e ajudar a todos. O que Loisel, com a crueldade que demonstrou ao longo de toda a obra, nos diz não ser possível, ao mesmo tempo que nos leva a questionar se a sonhada Terra do Nunca, não será afinal (também) um pesadelo...


Notas finais

- A edição quinzenal com o jornal Público de uma obra como esta, é a forma ideal de o leitor a conseguir. E a única forma de lhe chegar às mãos num prazo curto e a um preço agradável.

- Se de uma forma geral a edição da ASA apresenta boa qualidade de produção e impressão, acompanhando as versões francófonas mais recentes, ao nível da legendagem poderia ter merecido um pouco mais de cuidado, em especial na fonte utilizada quando algumas personagens gritam.

- Alguns - eu também - apontaram a ausência dos esboços de Loisel que a Booktree na época - 2002! - incluiu no (seu) volume 3. Entendo a diferença de situações, na altura era o relançamento de uma saga interrompida anos antes; agora estamos perante uma colecção cujo preço acessível passa pelo corte dos custos acessórios. E sei que os desvios aos volumes originais, sendo por vezes possíveis, outras tantas ou mais trazem grandes complicações. Se eu - como outros leitores - gostaríamos de os ter tido nesta nova edição, na prática seriam mais 12 páginas que, possivelmente, a muitos tantos leitores (?) diriam pouco.

- Apetecia-me revelar aqui - mas não posso! - (um)a (das) próxima(s) colecções que a ASA nos vai propor - em breve? - com o Público. Não o posso fazer ainda, mas garanto que é do mesmo nível – e com alguns pontos comuns - deste sublime Peter Pan, de Régis Loisel.


Peter Pan #6: Destinos
Regis Loisel
Segundo o romance original de J. M. Barrie
ASA/Público
Portugal, 24 de Junho de 2021
240 x 320 mm, 56 p., cor, capa dura
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar aqui para apreciar mais ou nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. A viagem não é "por vezes" mais interessante do que o destino, é sempre, ou quase sempre!

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    1. Há viagens que só o destino justifica. Ou valoriza.
      Boas leituras!

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  2. Duvido que a próxima colecção da Asa seja os 3 volumes do Peter Pank do Max!

    De qualquer forma saiu uma edição integral das Edições El Cupula sobre esta série, recomendo se o Pedro ainda não tiver.

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    1. Também duvido... ;)
      Tenho o Peter Pank do Max - lamentavelmente só dois volumes, como acabei de confirmar - há décadas, mas assinados/desenhados por ele quando foi convidado do Salão de BD do Porto (por mais de uma vez).
      Sem dúvida que estará na altura de os reler... e talvez de completar a série com esse integral!
      Boas leituras!

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    2. Reli recentemente estas histórias, continuam tão interessantes e irreverentes como na altura em que as li pela primeira vez nos anos 1980, por intermédio da revista Animal brasileira.

      O Ranxerox do Liberatore então, ainda estimulante, nunca foi editado por cá, duvido muito que alguma vez o seja pois contém elementos muito pouco politicamente correctos para os dias de hoje, este também tem um integral.

      Dou graças que ainda haja leitores para estes trabalhos, isto e a sua qualidade intrínseca é a única coisa que ainda os mantém vivos passadas mais de 3 décadas da sua publicação original.

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