27/08/2021

Os Olhos do Gato

Primeira vez memorável



Os Olhos do Gato, a mítica primeira colaboração entre Moebius e Alessandro Jodowowsky, até agora inédita em português, está finalmente disponível na nossa língua nas livrarias nacionais, numa co-edição entre a Arte de Autor e A Seita.

Uma obra a não perder, numa bela edição, como temos vindo a ser habituados pelas editoras em causa (e não só...).

Obra de características peculiares, assenta no modelo de uma vinheta única por página, a da esquerda repetida nas primeiras dezoito vezes, a da direita com a figura central em constante movimento. Em todas elas, brilha o traço depurado, expressivo e sublime de Moebius, umas vezes apenas com o recurso ao contrate claro/escuro, outras recorrendo a tramas mecânicas que transmitem as necessárias noções de volume e distância, com os pretos e cinzentos impressos sobre papel amarelo.

À esquerda, vemos de costas um menino a olhar por uma janela e ouvimos os seus curtos pensamentos ou as instruções concisas que dá para o exterior. À direita, em contracampo com a imagem ao lado, observamos um canto esconso e sujo de uma qualquer cidade, o movimento preguiçoso de um gato em busca de um lugar ao sol, o voo de uma águia com um objectivo predeterminado.

O encontro dos dois animais, súbito e violento, mas breve, encaminhará o relato para um desfecho para o qual o leitor não está preparado, tão tétrico quanto chocante.

Há quem  duvide que estamos em presença de uma banda desenhada, deixando-se enganar pela aparência de páginas de vinheta única, mas a verdade é que, quase não existindo texto escrito, as quase cinco dezenas de pranchas nos contam claramente uma história forte, marcante, pioneira devido às suas características nos anis da banda desenhada. Uma banda desenhada mítica e marcante, que revela o imenso potencial narrativo da desta arte, mesmo quando a obra assenta em características tão particulares como acontece em Os Olhos do Gato.


Sobre a edição

A co-edição é um bom recurso quando duas editoras estão interessadas numa mesma obra. Partilham despesas e evitam leilões junto dos detentores dos direitos que só servem para aumentar os custos. Foi o que aconteceu neste caso.

Em termos formais, realce para o papel amarelo (de boa gramagem), como na edição original, a impressão e encadernação ao nível do que as editoras nos têm habituado e a inclusão de um prefácio de Jodorowsky e de um dossier final sobre a génese e a história da obra.


Os Olhos do Gato
Alejandro Jodorowsky (argumento)
Moebius (argumento)
Arte de Autor/A Seita
Portugal, Agosto de 2021
215 x 285 mm, 64 p., pb, capa dura
16,50 €

(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Agosto de 2021; imagens disponibilizadas pelas editoras; clicar nesta ligação para descobrir mais, ou nas mostradas aqui para as apreciar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Comprei. Li. Não percebo como se pode considerar esta obra, uma obra prima. Estória fraca que se lê ( vê) em 2 minutos.
    Fiquei muito desiludido.

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  2. Sabe a pouco, lá isso sabe.

    Não vou dizer que é um caso de "o rei vai nú" mas não entendo mesmo o hype, mesmo dando-se o caso de haver "n" referências associadas para mim uma obra de BD tem de ser coesa e apelativa de alguma maneira, Moebius e Jodorowsky eram conhecidos pelas suas experiências com substâncias psicotrópicas, pode ser por aí, deve-me ter faltado alguma coisa para melhor apreciar...

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  3. Com tanta e tão boa banda desenhada de língua francesa para publicar, não consigo perceber esta escolha.

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  4. Até posso concordar que sabe a pouco mas, pessoalmente acho a obra fantástica, pela inovação narrativa, a concisão de texto e o desfecho inesperado, para além da sua importância histórica.
    Mas, como em tudo, é uma questão de gosto...
    Boas leituras!

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