23/12/2021

Mister No: Rio Negro/O Templo dos Maias

O melhor e o menos bom

Considerado por muitos a melhor história de Mister No, este díptico com a assinatura de Sergio Bonelli (sob o pseudónimo de Guido Nolitta) e Roberto Diso espelha o melhor e o menos bom desta série - e, de certa forma, de toda a banda desenhada da casa editora italiana, justificando o seu cariz popular e o segredo de tantos sucessos.

Datada de 1976, fica desde logo marcada pelo primeiro encontro entre o protagonista, o ex-piloto da II Guerra Mundial Jerry Drake, conhecido como Mister No, que deixou a civilização para se refugiar dela e dos seus males em Manaus, no Brasil, às portas da selva amazónica, e a bela aventureira Patrícia Rowland, com quem irá desenvolver uma longa (embora intermitente) relação de (muita) paixão e, se não ódio, pelo menos (alguma) animosidade.

Como em tantas das suas histórias, um começo aparentemente inócuo - ou pouco mais - vai mergulhar os seus protagonistas numa longa e perigosa aventura, desta vez na procura de ruínas maias na selva brasileira.

Uma boa parte do relato acompanha o seu percurso até ao local procurado, enquanto enfrentam os perigos com que se deparam naquela natureza selvagem. É nesta ambiguidade - que ao leitor não importa - entre o que é real (ou tem um fundo de realidade) e o que é ficcionado (em nome da ‘grande aventura’) que reside boa parte do encantamento desta história - e de outras da mesma época - aliando a uma ingenuidade genuína - que a indisponibilidade de informação possibilitava - a forma de destacar o melhor de uma personalidade controversa.

Porque, sejamos claros, se em Mister No - como em Tex ou Zagor, por exemplo - há pouco espaço para zonas cinzentas, com quase tudo a ser preto, preto ou branco, branco, o que mais destoa é o seu protagonista, a um tempo solidário e disponível, tanto quanto intratável e conflituoso, negacionista da boca para fora - daí o seu apelido - tanto quanto possuidor de um enorme coração, bêbado inveterado mas também sensível e humano.

Depois, acaba por predominar a já citada ‘grande aventura’, com os perigos - humanos e animais - a multiplicarem-se, o mistério associado às construções das grandes civilizações desaparecidas, muita acção, alianças e traições, descobertas e romance… que conduzem a um final em crescendo que perdurará na memória do leitor.

.e, numa publicação periódica, como era então o caso de Mister No, levará à compra do número seguinte.

Como curiosidade, refira-se a 'remontagem' das tiras nesta edição da Record, o que faz com que as páginas aqui mostradas não correspondam às que podem ser encontradas nos livros.


Mister No #6: Rio Negro

Mister No #7: O Templo dos Maias

Guido Nolitta (argumento)
Roberto Diso (desenho)
Editora Record
Brasil, 1991
150 x 210 mm, 168 p., pb, capa cartão

(pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Caro Pedro
    Não o conheço pessoalmente nem tenho o seu email, não sendo utilizador de redes sociais não tenho outra forma de lhe desejar boas festas e agradecer-lhe o muitíssimo bom trabalho que faz pela divulgação de banda desenhada.
    Obrigado e votos de um excelente 2022, para si e para a sua família .

    Rui Jesus

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  2. Caro Rui,
    Agradeço as suas palavras e retribuo os votos de boas festas e de um excelente 2022... com boas leituras!

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