29/03/2022

Bom Willer, Dylan Mouse e Ganso Never

Para leitores Bonelli




Resumo

Esta edição da Panini Brasil compila três paródias a três dos mais carismáticos heróis Bonelli: obviamente - depreende-se do título, Tex Willer (o pai...), Dylan Dog e Nathan Never.


Desenvolvimento

Uma paródia só funciona - ou só funciona em toda a sua extensão - se quem a lê (neste caso) conhecer o original. Só dessa forma, tiques e estereótipos serão reconhecíveis e desfrutados no novo registo - ou não. Porque, nem sempre é fácil fazer humor de forma efectiva, mais a mais quando o alvo são monumentos dos fumetti, como no presente caso. No qual o objectivo foi plenamente atingido em duas das três homenagens. Porque, na prática, é disso (também) que se trata. Por isso, esta edição destina-se principalmente a quem conhece e lê aqueles heróis Bonelli.

Em Bom Willer, ter como autor completo Corrado Mastantuono, alguém que já trabalhou na personagem original, é sem dúvida uma mais valia. Dessa forma, foi criada uma história que segue a par e passo um dos estereótipos do género - a cobiça de terrenos - tantas vezes presente nas histórias do ranger, e que também funciona no registo humorístico. A este factor, há que acrescentar o bom uso das expressões e tiques do Tex original - bem como de Kit Carson (Pato Donald) e Jack Tigre (Professor Pardal) - para lá dos sempre inevitáveis tiroteios, ataques de índios e grandes cavalgadas para estarmos perante um relato que cumpre sem dúvida os seus propósitos.

No que diz respeito a Dylan Mouse, caricatura de outro "animal" homónimo, as coisas não funcionaram tão bem. O tom mais adulto do original - tanto no que ao terror diz respeito, quanto ao envolvimento romântico (e carnal) do protagonista com as clientes - era complicado de assumir - ou transpor - para um registo humorístico maioritariamente destinado a leitores de pouca idade e por isso algo falha, como os conhecedores do original notarão. Apesar disso, o argumento (a três tempos) dos veteranos de Dylan Dog Tiziano Sclavi, Roberto Recchioni e Tito Faraci tem alguns aspectos bem conseguidos, a começar pela transformação dos zombies do original, em viciados das redes sociais.

Finalmente, Ganso Never acaba por se revelar a maior surpresa deste tríptico, com a transposição da ficção-científica do operacional da Agência Alfa, para um relato igualmente futurista, mas, sendo protagonizado por Gansolino, centrado portanto na comida e no seu tráfico - que em mim evocou, de alguma forma, com as devidas distâncias, o Tony Chu de John Layman e Rob Guillory. Bem ritmada - ao contrário do relato de Dylan Mouse - e com alguns bons achados em termos humorísticos, acaba por encerrar com chave de ouro uma colectânea que também tinha tido uma boa abertura.


A reter

- O reconhecimento da popularidade (crescente?) dos heróis Bonelli que justifica edições como esta;

- As paródias bem conseguidas a Tex e Nathan Never;

- A boa edição da Panini Brasil, com capa dura e bom papel, que inclui uma introdução a cada história, bem como um esboço alusivo.


Menos conseguido

- Edição que, no entanto, beneficiaria se tivesse um tamanho menor, já que o actual, próximo do álbum tradicional franco-belga, tem margens brancas muito grandes e expande em demasia o traço dos autores - que não é feito a pensar nestas dimensões - sem benefícios de leitura. Possivelmente, o formato comic - ou mesmo o formato dito Bonelli - seriam os ideais;

- A paródia menos conseguida a Dylan Dog;

- A ausência nesta edição de Ratin Mystère, a sátira similar assinada por Casty que teve Martin Mystère como alvo.


Nota final

Os três relatos aqui reunidos - e a tal quarta história - foram publicados em Portugal durante o consulado da Goody à frente das edições Disney. Segundo Nuno Pereira do Sousa, do site Bandas Desenhadas, isso aconteceu nas revistas Comix #101 (2014, Bom Willer), #134 (2015, Dylan Mouse) e #192 (2017, Ganso Never) e Mickey #10 (2018, Ratin Mystère).


Bom Willer, Dylan Mouse e Ganso Never
Bom Willer em Um ranger em acção
Corrado Mastantuono
Dylan Mouse em O despertar dos roedores invasivos
Tiziano Sclavi, Roberto Recchioni e Tito Faraci (argumento)
Paolo Mottura (desenho)
Ganso Never Agente Espacial Alfafa
Riccardo Secchi (argumento) e Alessandro Perina (desenho)
Panini Comics
Brasil, Novembro de 2021
205 x 315 mm, 104 p., cor, capa dura
R$ 59,90

(capa disponibilizada pela Panini; pranchas das edições originais italianas; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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