12/05/2022

La biblioteca de Turpin

Um outro Max



Conheci Max - aliás Francesc Capdevilla - num dos primeiros salões de BD do Porto; encontrei-o ao longo dos anos várias vazes, por aqui e por ali; segui (mais ou menos) de perto a sua carreira: Peter Pank (claro!) à cabeça (e a precisar de uma releitura), as histórias curtas da El Víbora, as narrativas mais comprometidas da Nosotros somos los muertos, a fase mais intimista e intelectual que ainda se prolonga.
...e este La biblioteca de Turpin, quase um objecto estranho na sua (rica) bibliografia.

Obra que descobri há muitos anos, na transição entre as décadas de 1980 e 1990, escrevia eu, então, no jornal O Primeiro de Janeiro. Descobri-a - na sua génese! - nas páginas do Pequeño País, que chegava à redacção do jornal e era religiosamente guardado para mim.

Suplemento para os mais novos do jornal espanhol El País - um pouco à imagem do que foram por cá o Público Júnior e o Janeirinho - teve, a partir de certa altura, a particularidade - fundamental! - de a par de Astérix, Tintin, Garfield, Mickey, Donald e clássicos espanhóis - Doña Urraca, Rompetechos, Rue del Percebe, El Botones Sacarino... - publicar obras criadas especialmente para o efeito e, entre elas, para minha surpresa, estava esta La Biblioteca de Turpin, da autoria de... Max!

Passeio por algumas das obras fundamentais da literatura - Alice, Sherlock Holmes, O Mundo Perdido, A Guerra dos Mundos... - e outras escolhas menos óbvias mas talvez mais estimulantes, tem como ponto de partida a entrada forçada de dois miúdos, Oscar e Cris, num velho casarão habitado por um homem misterioso, para tentarem descobrir mais sobre ele.

Apanhados em flagrante, vão perceber que ele é, entre muitas outras coisas, um inventor que criou uma tinta de impressão que faz com que se mergulhe nos livros e se viva as aventuras dos seus protagonistas. Problema? A tinta acabou e a fórmula para fazer mais foi perdida pelo seu criador algures no interior de um chapéu. Por esse motivo, os dois primos irão mergulhar nos livros referidos e noutros mais, até encontrarem o tal chapéu.

Num autor então contra-a-corrente, claramente alternativo e provocador, esta obra trabalhada com a mesma linha clara e as mesmas cores vivas que lhe serviam para as suas obras mais pessoais, surge como uma narrativa para os mais novos e também como uma declaração de amor a clássicos da literatura e foi uma belíssima surpresa que - devido a vicissitudes várias - só agora, mais de 30 anos depois (!) pude ler sem falhas e de forma completa, recordando momentos que a minha memória reteve e (re)descobrindo a polivalência de um dos grandes criadores de BD do país vizinho.


La biblioteca de Turpin
Collécion Todo Max #13
Max
Ediciones La Cúpula
Espanha, 2006
200 x 270 mm, 52 p., cor, capa cartão com badanas

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Um crime Max ser praticamente ignorado pelas editoras locais (aliás como quase todos os bons autores neutros hermanos...) com a honrosa excepção da Levoir. Enfim...

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